Imagine a situação de você ir arrancar dois dentes num dentista e sair de lá sem nenhum na boca. Esse absurdo aconteceu em Brasília, em 24 de outubro. César Oliveira Ferreira, de 17 anos, deu entrada no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), para a extração de apenas dois dentes.
O cirurgião, no entanto, arrancou todos os dentes do jovem, que é aluno da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). O cirurgião-dentista que extraiu os dentes, sem autorização dos pais do jovem vai ser indiciado. Estagiárias que acompanharam o procedimento de extração prestaram depoimento e ajudaram a comprovar a responsabilidade do dentista. Depois do laudo do IML, que demonstrou não ter havido necessidade da extração total, e dos depoimentos, o delegado responsável pelo caso afirmou ter elementos para indiciar o dentista por lesão corporal gravíssima. “As próprias estagiárias declararam espanto, surpresa com aquele procedimento e uma delas chegou a comentar: se fosse o meu filho eu não permitiria”, disse o delegado Rossetto.
O dentista, que não teve o nome divulgado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, foi afastado do trabalho. Para o diretor do IML, Del Matheus, está claro que não exisia nenhuma indicação de que todos os dentes de César precisassem ser arrancados. “Mesmo se eu não tivesse a radiografia anterior, só com a final, pela forma dos remanescentes auveolares, os locais onde os dentes se encaixam, é possível afirmar: não existia necessidade da extração de todos os dentes”, afirmou.
Tratamento
Durante sete meses, César foi atendido na clínica odontológica de uma universidade particular. Depois do tratamento, ele saiu sem cáries, sem placa e com alinhamento perfeito dos dentes. Apenas dois tinham que ser extraídos e a notícia de que todos foram arrancados surpreendeu os profissionais que atendiam o jovem.
Com o prontuário de César em mãos, o coordenador da odontologia, Cláudio
Maranhão, lembrou que ele gostava do tratamento e cuidava muito bem dos dentes, com ajuda da mãe. “Partindo então do pressuposto que ele saiu em maio com uma ótima higienização, uma boa condição bucal, não esperávamos isso e sim que apenas dois dentes fossem retirados”, disse.
Para a família, o sentimento é de tristeza e revolta. O adolescente parou de ir às a na Apae, depois da cirurgia. Sua rotina mudou completamente. Para se alimentar, por exemplo, a mãe tem que bater a comida no liquidificador. A mãe do adolescente, Maria Oliveira, explica o procedimento combinado com o cirurgião-dentista: a extração de dois dentes. “Eu vi meu filho sem nenhum dente. Eu entreguei ele com todos os dentinhos na boca. Era só para tirar dois. Eu recebi ele sem nenhum dos 28 dentes”, disse.

