As mulheres inférteis sabem que os desafios da infertilidade começam quando descobrem que não podem gerar um filho. E não param por aí. Continuam aterrorizando essa mulher quando tem que contar que recebeu de um médico um diagnóstico de infertilidade a familiares, aos amigos mais próximos e, principalmente, às amigas que por ventura estejam grávidas. Aliás, a cada notícia de que a melhor amiga, colega de trabalho, vizinha, prima ou irmã está grávida, essa notícia arde e queima como um fogo avassalador na alma. E daí essas mulheres tem que, além de lidar com essa dor, lidar com os seus próprios sentimentos de inveja e ciúme. Há até as que tem coragem de se questionarem: “será que posso continuar sendo amiga dela?”, “será que os nossos amigos em comum vão se esquecer de mim, e da minha dor pra comemorar a gravidez da minha amiga?”, “será que a minha amiga vai poder dividir a sua felicidade comigo sem me machucar?”, “será que vou poder continuar me abrindo pra ela depois que soube que ela vai ser mãe, e eu não?
Claro que algumas dessas respostas vão depender da natureza da relação entre a mulher infértil e da outra mulher que está grávida. Se são parentes, ou melhores amigas, ou apenas colegas de trabalho, vizinhas, ou colegas virtuais de Facebook. Também dependem de quanto tempo essa relação existe, e da história que têm juntas. As vezes é mais difícil lidar com a gravidez de uma parente, tipo irmã, prima ou sobrinha, por conta da proximidade, do contato frequente, do feedback, atenção, cuidados e mimos que os familiares podem e vão ter que essa grávida. Em sua cabeça, essa gravidez vai soar como um eco ruim a cada reunião familiar, aniversário, festa de fim de ano ou comemoração.
Talvez, a grávida pode, inclusive, ter passado por um processo de dificuldades reprodutivas, pode ter também se submetido a tratamentos de fertilização em vitro, tratamentos hormonais por meses, ou por anos, e agora esta engravidar. Nesse caso, a dificuldade de comunicação dessa mulher infértil aumenta, a medida que ela questione se é apropriado continuar falando das suas questões inférteis, sem “atrapalhar” a felicidade da amiga que será mãe em breve. Nesse caso, o melhor é uma conversa aberta e direta sobre as suas dificuldades, sentimentos de ambivalência quanto à gravidez dessa amiga, problemas com a atenção que está sendo dirigida a ela, e os limites que precisam ser reestabelecidos. E, à medida que essa gravidez avança, é necessário colocar essa amizade em cheque-mate, e continuar endereçando os seus sentimentos.
A antecipação de uma criança que não é sua pode trazer sentimentos dos mais variados. Ao mesmo tempo de que é um momento tão especial pra essa amiga, irmã, prima ou sobrinha, é uma constatação triste de que você talvez não vai poder, por vias naturais, gerar e parir uma criança. É uma ferida narcisista a essa mulher, que pode sentir-se vazia, incapaz, incompleta. Algumas questões que devem ser exploradas por você:
Como vamos continuar nos relacionando, e comunicando a medida que a gravidez avança? Será que eu vou poder continuar sabendo dos detalhes dessa gravidez? Será que eu vou querer ou poder escutar os detalhes das mudanças do corpo dessa mãe grávida, e de como o bebê está crescendo dentro dela, como se sabe do sexo, de que o coraçãozinho está batendo? Como eu vou fazer se ela me chamar para ser a madrinha da criança? E o que fazer no chá de bebê? E se ela me chama pra fazer compras pro bebê? E o batizado, e as festinhas de aniversário dessa criança?
Não existe resposta certa ou errada, existe apenas o que é mais confortável pra você, o que você é capaz de fazer, ou o quanto pode ser amiga, dar apoio e estar junto de um momento tão especial dessa mulher. E algumas coisas só vão ser reveladas ou possíveis de saber como você vai lidar com elas quando acontecerem.
Só mantenha um canal aberto de comunicação. Peça ajuda, apoio, compreensão das pessoas mais próximas, e de preferência do seu marido, ou companheiro, e de algumas pessoas da família.
Talvez nesse momento seja apropriado e saudável não só buscar ajuda profissional, mas também buscar grupos de apoio, com mulheres na mesma situação que a sua, e ampliar a sua rede de amizades. Sempre vai existir alguém que vai te entender. E, afinal, infelizmente, você nao é a primeira, nem vai ser a última que lida com essa questão. Terapia te ajuda a explorar os teus sentimentos, e considerar várias outras opções, inclusive de adoção. Essa gravidez da outra mulher pode ser uma grande oportunidade pra você explorar a si própria, a sua capacidade de amizade, resiliência e amor.
Karina Lapa é psicoterapeuta licenciada na Flórida. Atualmente atende na sua clínica, a South Florida Counseling Agency. Para maiores informações: (954)370-8081/ www.southfloridacounseling.net

