Por Paulo Castelo Branco
A empolgação marcou os primeiros comícios do candidato Lula. Em suas aparições, Lula se movimenta com desenvoltura e conversa com os eleitores. Sua presença no palanque faz lembrar os velhos tempos de carroceria de caminhão que marcaram sua trajetória política.
O torneiro-mecânico quase sussurra palavras de esperança aos ouvintes. Diferentemente das entrevistas, quando tem que enfrentar jornalistas preparados para rebater seus argumentos, Lula, nos comícios, sem interlocutores, segue o seu projeto de afastar o cálice do Partido dos Trabalhadores.
As imagens que são transmitidas ainda não mostraram o povão aplaudindo o candidato, mas é razoável supor que as pessoas que comparecem aos comícios podem ser consideradas como as que poderão sufragar o nº 13 nas urnas. E quem são essas pessoas que respondem às pesquisas de intenção de votos e conferem ao presidente-candidato uma das melhores performances em eleições presidenciais? Serão somente os pobres favorecidos pelas bolsas assistenciais que embotam o pensamento com a garantia de alimentos e algumas moedas?
Não. Os que aplaudem Lula estão em todos os segmentos da sociedade. É só ver os depoimentos de intelectuais que babam ao serem convidados para algum encontro agendado por Gilberto Gil. Quase todos são beneficiários de bolsas teatro, cinema e espetáculos, subvencionados pelo dinheiro público. O uso da máquina governamental que já havia sido descoberto quando dos episódios de corrupção é, agora, utilizado para amaciar artistas que fizeram parte dos movimentos contra a bandalheira que, em outros tempos, dominou a vida nacional.
Felizmente, no lugar dos que debandaram da luta pela ética na política – e que hoje preenchem cargos, recebem favores e se deliciam com o poder – surgiram grupos de combate à má gestão governamental prestando serviço relevante aos cidadãos. É o caso da Transparência Brasil que expõe em seu site a vida dos parlamentares candidatos, permitindo ao eleitor vasculhar tudo sobre os que pretendem permanecer na política. A busca é fácil e qualquer pessoa pode conferir o aumento de patrimônio do seu escolhido. É incrível a facilidade com que a maioria dos parlamentares multiplica seus bens de uma eleição para a outra. Não que seja impossível fazer negócios lícitos; o que se estranha é o fato de os políticos, ocupados em sua lida no Congresso Nacional, tenham tempo para cuidar tão bem dos seus interesses particulares. Ninguém há de duvidar que a experiência política adquirida em poucos meses seja, de fato, a motivação do sucesso na vida privada. Depois da posse, as fábricas produzem mais, o gado procria como se fosse coelho e as terras se valorizam pela passagem de novas estradas e iluminação farta. As aplicações financeiras são sempre favoráveis, não esquecendo daqueles que conseguem ganhar na loteria em sucessivas extrações.
É na transparência dos sites da internet que está a possibilidade de ocorreram mudanças na política nacional. Se cada eleitor se der ao trabalho de repassar as informações verdadeiras que circulam na rede de computadores, com certeza teremos a eleição mais democrática dos últimos tempos. É com a garra da juventude micreira que poderão se multiplicar pelos cantões do país a realidade brasileira. A internet é livre e muita bobagem e acusações infundadas entram nas telas de forma irresponsável, mas, é, também, pelo mesmo caminho, que se poderá desmascarar os malandros que continuam oferecendo muletas, dentaduras e dinheiro em troca de votos. Essa prática secular em eleições não acabou; foi substituída pelas bolsas qualquer coisa que engana os pobres e não lhes tira da submissão. É certo que, com tanta gente passando fome, é fácil debruçar na proteção do palanque e, segurando a mão do eleitor subnutrido, prometer-lhe que a corrupção está acabando e que brevemente teremos um país mais justo e democrático. De olhos abertos e ouvidos atentos, vota Brasil!