Agentes do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) começaram a ouvir nesta segunda-feira(11) os depoimentos em busca de esclarecer que foi o autor do tiro que causou a morte do deputado estadual e coronel reformado da PM Ubiratan Guimarães (PTB), 63. O incidente aconteceu no fim de semana, no apartamento do coronel, nos Jardins, região nobre na zona oeste de São Paulo.
De acordo com o delegado Armando de Oliveira Costa Filho, quatro pessoas já prestaram depoimento, um morador e três funcionários do prédio onde morava Ubiratan. Outras dez pessoas devem ser ouvidas até o final do dia.
Durentes esta manhã, a advogada Carla Cepalino, namorada do coronel, esteve no DHPP. Ela foi a última pessoa vista com a vítima. Segundo Costa Filho, Carla foi ouvida informalmente, o depoimento formal deve ocorrer na terça-feira (12).
Para o delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antônio Desgualdo, a advogada disse que esteve com Ubiratan durante a manhã de sábado em uma hípica e, depois, participaram de um evento político e seguiram para a residência do coronel. Ela teria dito à polícia que, por volta das 18h, discutiram, após Ubiratan receber um telefonema.
A Polícia Civil estima que o crime tenha ocorrido na noite de sábado. No período, a advogada disse que estava em um local público.
O prédio onde morava Ubiratan teria circuito de câmeras, mas, de acordo com Desgualdo, o sistema não teria feito a gravação de imagens, o que impediria a identificação de suspeitos. O coronel comandou, em 1992, a operação que ficou conhecida como massacre do Carandiru e resultou na morte de 111 presos.
Pelas costas
Ubiratan foi morto com um único tiro, que o acertou abaixo do mamilo direito e saiu pelas costas. O corpo foi encontrado por volta das 22h30 de domingo (10), mas há suspeitas de que o crime tenha sido cometido entre a noite de sábado e a madrugada de domingo, já que os jornais do dia permaneciam do lado de fora da porta.
Não havia sinais de luta corporal no apartamento e a porta dos fundos estava apenas encostada. O corpo do coronel estava deitado de barriga para cima, coberto apenas por uma toalha.
O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), descartou na manhã desta segunda-feira o possível envolvimento do crime organizado no assassinato. Já o delegado-geral da Polícia Civil e o delegado Costa Filho, do DHPP, disseram que nenhuma hipótese pode ser descartada ainda. Desgualdo, porém, admitiu que não há indícios de envolvimento de facções criminosas.
"O disparo, a lesão, não é característica própria de execução", disse.
Segundo o delegado do DHPP, é possível que Ubiratan estivesse sentado e tenha recebido o tiro levantar. De acordo com a polícia, o disparo foi feito a mais de um metro de distância.
Ele disse que uma das quatro armas da vítima desapareceram do apartamento, um revólver calibre 38, mas ainda aguarda laudo para saber se o tiro que atingiu o coronel corresponde com o calibre da arma levada.
Entre as hipóteses para o crime está a de crime passional. Outra possibilidade que deve ser analisada é a ligação com o assassinato do diretor do Carandiru na época do massacre, José Ismael Pedrosa, assassinado em outubro do ano passado, em Taubaté (130 km de São Paulo), num crime atribuído ao PCC (Primeiro Comando da Capital).
O massacre
O deputado atualmente tentava disputar a reeleição. Ele nunca foi preso pela operação que resultou no massacre, ocorrido em outubro de 1992.
Em 2001, Ubiratan chegou a ser condenado a 632 anos de prisão pelas mortes de 102 presos e por cinco tentativas de homicídio, num julgamento em primeira instância. Ele não foi acusado pelas 111 mortes porque laudo do Instituto Médico Legal mostrou que alguns presos foram mortos por armas brancas, como facas, o que poderia indicar que foram golpeados por rivais durante a rebelião que antecedeu a operação policial no Carandiru.
Réu primário, recorreu da sentença em liberdade. Em fevereiro último, o julgamento foi anulado pelos desembargadores do Tribunal de Justiça e Ubiratan, absolvido. A anulação do julgamento gerou protestos de entidades de direitos humanos e repercutiu negativamente no exterior.
A operação que resultou no massacre ocorreu após uma rebelião sem reféns no Carandiru, e o caso teve repercussão internacional. A Casa de Detenção foi desativada em setembro de 2002. Em dezembro daquele ano, três pavilhões foram implodidos, inclusive o 9, onde ocorreram as mortes.
Ubiratan trabalhou 34 anos na Polícia Militar. Nos anos 70, durante a ditadura militar, combateu as ações guerrilheiras no Vale do Ribeira (SP). Como oficial, comandou a Cavalaria, a Rota e o Policiamento Metropolitano. E foi na condição de comandante do Policiamento Metropolitano que o coronel liderou a operação no Carandiru.