O controle da Câmara dos Deputados conseguido pelos democratas na eleição de terça-feira(7) representará uma esperança para os 12 milhões de imigrantes ilegais que vivem no país, e que sonham em encontrar um caminho para a legalidade.
Segundo analistas, os democratas podem estimular o avanço no Parlamento de projetos de lei que facilitem a legalização da situação dos estrangeiros. Até agora, esses projetos vinham sendo bloqueados pela maioria republicana.
Ao mesmo tempo, o plano do governo de levantar um muro no sul do país para impedir a imigração ilegal - projeto que irritou o México - pode ficar obstruído, já que os democratas provavelmente dificultariam a aprovação das verbas para sua construção.
“Pela primeira vez em muitos anos os democratas vão estar na posição de poder não apenas reagir, mas de propor alguma coisa”, disse Allert Brown-Gort, diretor-associado do Instituto de Estudos Latinos da Universidade de Notre Dame.
“E o único lugar em que eles têm uma convergência importante com o presidente é na questão da imigração”, acrescentou.
O presidente George W. Bush passou o ano todo tentando fazer com que o Congresso aprovasse a reforma nas leis de imigração, que, além do muro, pretendia proporcionar uma forma de legalizar milhões de estrangeiros, a maioria mexicanos.
Mas os republicanos preferiram transmitir ao seu eleitorado uma mensagem de inflexibilidade em relação aos estrangeiros ilegais, e fizeram avançar na Câmara ape-nas o projeto da construção do muro.
Nas eleições de terça-feira(7), os democratas conquistaram a maioria da Câmara dos Deputados pela primeira vez desde 1994, e estavam a um passo de conseguir também o controle do Senado. A definição dependia da apuração das disputas mais apertadas.
“(Uma reforma na imigração) pode ganhar impulso depois desta eleição, porque o presidente está a favor e ele vai estar desesperado para realizar alguma coisa nestes dois últimos anos”, disse Frank Sherry, do Fórum Nacional de Imigração, que defende uma reforma ampla.
Embora os analistas considerem que a vitória democrata nas urnas tenha canalizado principalmente a insatisfação popular com a guerra no Iraque, pesquisas mostraram que o eleitorado hispânico usou a eleição para protestar contra a falta de uma reforma no sistema de imigração, que bene-
ficie os que estão em situação ilegal.
Os 42 milhões de hispânicos que vivem nos Estados Unidos representam 14 por cento da população do país.
O muro da discórdia
Apesar de Bush ter assinado no fim de outubro a lei que autoriza a construção de 1.125 km de barreiras na fronteira com o México, o projeto só conta com financiamento para algumas centenas de quilômetros, e espera que o Congresso autorize mais verbas.
Mas, com uma maioria democrata, a aprovação de novos recursos para a mura-lha pode naufragar. A futura presidente da Câmara dos Deputados, que assumirá em janeiro, a democrata Nancy Pelosi, votou ela mesmo contra o muro.
“Ela está definitivamente a favor de uma reforma ampla,” disse o assessor dela, Drew Hammill, horas antes da votação.
O Senado também não viu com bons olhos a construção da muralha, mesmo sendo republicano, mas não chegou a bloquear o projeto.
“Eles votaram pelo muro porque precisavam de um resultado simbólico ..., mas em seguida ficou claro que ninguém tinha a intenção de construir o famoso muro”, disse Brown-Gort.

