O FATO
O brasileiro Emerson Silva Paula (pintor e pedreiro), está há três anos nos Estados Unidos. Mora em Fort Lauderdale com a mulher Claudete (faxineira e baby-sitter). O casal tem dois filhos: uma menina que já trouxeram do Brasil, e que tem 5 anos, e outro, um menino de apenas 4 meses, nascido aqui, portanto, cidadão norte-americano.
Emerson foi preso no último domingo, dia 20 de agosto, na Estação Rodoviária de Jacksonville, norte da Flórida. Sem nunca ter ido à cidade, ele foi atraído por um trabalho de pedreiro. Na própria Rodoviária um agente de imigração o abordou e após algumas perguntas, levou o brasileiro preso. Emerson não possuia nenhum documento, não tinha advogado para representá-lo em uma audiência, nem dinheiro para fiança.
A mulher, mesmo tendo que cuidar dos filhos, está buscando trabalho. Não tem dinheiro sequer para pagar o aluguel no dia 30, e está comendo de favor. A filha de cinco anos não vai para a escola porque eles não têm dinheiro para material escolar e uniforme.
No desespero, a mulher ligou para o Gazeta em busca de algum apoio e pelo menos um dos problemas já foi resolvido: sensibilizada pelo drama da família brasileira, a advogada Iara Morton se prontificou a defendê-lo totalmente de graça.
A MORAL
Essa triste e tão comum história de imigrante ilegal brasileiro preso em função de sua total inocência e despreparo, serve como “bandeira” para que se exija da nossa comunidade aqui no Sul da Flórida, uma explicação básica: porque não temos aqui uma instituição que, em vez de fazer discursos e promover eventos de coleta de dinheiro, não se dedique “de fato” a apoiar esses brasileiros totalmente desassistidos?
O exemplo de Boston deve ser seguido. Lá tem o Centro do Imigrante Brasileiro que é um verdadeiro esteio em defesa dos desassistidos, que como Émerson, na esmagadora maioria das vezes saem do Brasil e entram nos Estados Unidos unicamente motivados pela necessidade de uma vida melhor, uma chance, uma oportunidade.
É por isso que nos causa enorme desencanto quando vemos surgir, ano após ano, entidades e movimentos que usando a sensibilidade natural causada pelo tema “imigrantes ilegais” fazem discursos e articulam plataformas e prosopopéias para, no final das contas se perceber que tudo não passa de velhas doença brazucas: demagogia e defesa de seus próprios bolsos e vaidades.
Certamente que há exemplos positivos de atuação social no Sul da Flórida: as obras assistenciais das igrejas fazem sua parte, mas nem de longe estão capacitadas a oferecer o amparo que uma entidade como realiza o Centro do Imigrante Brasileiro, em Boston. Até porque a ação de amparo das igrejas muitas vezes é forçosamente limitada pela questão doutrinária de cada uma delas.
Rodamos e rodamos e sempre caímos no “buraco” da falta de liderança e representatividade. Num tempo em que os seres humanos estão cada vez mais lamentávelmente preocupados apenas com glamour, aparência e benesses materiais, há pouquíssimo entendimento de que somente uma atitude de consciência social forte e solidária, fará com que deixemos de ser uma comunidade imensa e desimportante.
A história de Emerson, sua mulher e seus dois filhos deveria sim, ser mais um pretexto para que nos uníssemos em torno de ajudar a todos os brasileiros desassistidos e não seguirmos em frente na trágica “tática do Avestruz”, enterrando a cabeça na areia e acreditando que isso “não tem nada a ver comigo”. Tudo tem a ver e tudo se reflete. Cada brasileiro que vive no exterior é um “porta-estandarte” de nosso povo e de nossa comunidade como um todo. É lamentável que pouca gente encare esse fato.
ERRATA: Pedimos desculpas aos nossos leitores pelo erro cometido no editorial “Monstro” publicado na edição anterior do Gazeta, o nome correto da vítima é JonBenet Ramsey e não JoBenet como foi publicado.