Indocumentados que acreditavam que ser presos pelo ICE seria o pior que lhes poderia acontecer, enquanto tentavam uma vida melhor ao chegar aos Estados Unidos, estão vivendo outro pesadelo.
Dezenas deles têm denunciado uma empresa que se oferece para pagar a fiança de indocumentados presos em troca de uma mensalidade. No entanto, os clientes não devem somente fazer o pagamento mensal, mas acabam tendo de usar uma tornozeleira com GPS, monitorada pela companhia.
De acordo com reportagem da agência “EFE”, a Libre by Nexus, empresa dedicada ao pagamento de fianças, está se valendo do desespero de pessoas querendo ser soltas para cobrar o pagamento de 20% do valor da fiança mais uma mensalidade de $420 dólares. Além disso, são obrigados a pagar $50 dólares pelo carregador da bateria, o seguro do sistema GPS e um montante de $3.950 dólares no caso de perda ou dano do aparelho.
Em junho do ano passado, o salvadorenho Nefi Morales, de 26 anos, após ser preso pela Imigração durante a travessia pela fronteira, um juiz de imigração permitiu que ele tentasse asilo político nos Estados Unidos, após pagar $7 mil de fiança para ser libertado. "Outro preso me deu um número de telefone e disse que eles podiam me ajudar. Minha esposa ligou de Los Angeles e aí começou todo este pesadelo", lembrou.
Morales fez um pagamento inicial de mais de $2 mil dólares e assinou um contrato com a companhia Libre by Nexus, no qual se comprometeu a pagar os $420 mensais pelo aluguel da tornozeleira. Entretanto, o imigrante já pagou mais de $9 mil dólares e a cobrança não tem data para acabar. Ele ainda deve pagar a "tarifa de serviço, uma instalação de GPS e tarifa de rastreamento", de acordo com a Libre by Nexus em seu site, até que seu caso seja resolvido, o que pode demorar até três anos.
"Estou desesperado com esta algema, já paguei a mais para a empresa e estou como um preso, mas em minha casa. As pessoas me olham feio quando percebem a algema, pensam que sou um criminoso", conta o imigrante de El Salvador.
"Isto é um ataque à dignidade do ser humano e do migrante. Estão cobrando para estarem livres quando realmente não estão. Além disso, ficam estigmatizados", advertiu Byron Vasques, diretor da Casa de Cultura da Guatemala. A organização trabalhou no caso de Jacqueline Blanco, uma guatemalteca que pagou uma fiança após passar vários meses no Centro de Detenção em Eloy, no Arizona.
"Inicialmente, pensamos que era o departamento de Imigração e Alfândega (ICE) que tinha posto o bracelete, mas descobrimos que era uma empresa privada. Começamos a procurar outros imigrantes ilegais e em poucos dias encontramos dezenas deles só no Arizona. Deve ter muitos outros por todo o país", indicou Vasques. "Estão usando a necessidade dos imigrantes, que estão sendo escravizados e ficando atrelados a estes custos por anos", disse.
Segundo Richard Rocha, porta-voz do ICE, o órgão federal não tem qualquer ligação com a Libre By Nexus. Além disso, o ICE não cobra pelos serviços que os imigrantes ilegais recebem quando estão sob o Programa de Detenção Alternativa que oferece dispositivos de vigilância eletrônica a alguns deles.
A reportagem tentou por várias vezes contato com a empresa Libre By Nexus, com sede em Harrisonburg, na Virgínia, mas não obteve retorno.
Fonte: EFE.