A descoberta do dossiê contra políticos tucanos, cuja negociação ainda está sendo apurada pelas autoridades, teve origem na investigação sobre o esquema de compra superfaturada de ambulâncias, batizada pela Polícia Federal de Operação Sanguessuga.
Acusado de comandar a fraude das ambulâncias, o empresário e dono da empresa Planam, Luiz Antônio Vedoin, ganhou liberdade com o compromisso de ajudar a polícia na investigação, a chamada delação premiada. No dia 14 de setembro, o tio de Luiz Antônio, Paulo Roberto Trevisan, também acusado de participação, disse aos policiais que seu sobrinho pretendia vender um dossiê.
A polícia foi atrás. No dia seguinte, 15 de setembro, prendeu Luiz Antônio ao desembarcar em São Paulo, onde venderia o dossiê. Outra equipe da PF prendeu dois homens num hotel paulista com o equivalente a cerca de R$ 1,7 milhão, parte em reais (1,1 milhão) e parte em dólares (248,8 mil). Os dois, Gedimar Passos e Valdebran Padilha, seriam os compradores do dossiê.
No mesmo dia, em depoimento, Valdebran confirmou que os dois eram os compradores e o dossiê fora montado contra o PSDB. O motivo eleitoral foi levantado pelos compradores, que disseram ser ligados ao PT. Valdebran é ex-filiado ao partido e Gedimar trabalhava na campanha à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
Em depoimentos posteriores, foram surgindo nomes de outros petistas que estariam acima destes na hierarquia do partido. Novos indícios de ligação com o PT surgiram quando o ex-chefe de informações e inteligência da campanha de Lula, Jorge Lorenzetti, admitiu que tinha interesse no dossiê. Para analisar a veracidade dos documentos, tinha enviado o diretor licenciado do Banco do Brasil e também integrante da equipe de reeleição de Lula, Expedito Veloso, e Gedimar Passos a Cuiabá.
Lorenzetti também envolveu no esquema o coordenador de Comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) ao governo de São Paulo, Hamilton Lacerda, ao informar que o dossiê seria entregue a ele. Posteriormente, a análise das imagens das câmeras de segurança do hotel mostrou Lacerda entrando no hotel com uma “bolsa grande e preta”, segundo a PF. Ele aparece com a bolsa na entrada, no corredor e no elevador do hotel. Depois de se encontrar com Gedimar, sai do hotel sem a mala.
Ao falar do presidente do PT e ex-coordenador da campanha de Lula, Ricardo Berzoini, Lorenzetti esquentou a investigação. Disse que Berzoini sabia que ele iria se encontrar com jornalistas para conversar sobre uma pauta de interesse do partido, mas que desconhecia o assunto. Eram da revista Época, que negociava a possibilidade de divulgar o dossiê.
Lorenzetti ainda envolveu o responsável pelo capítulo de Trabalho e Emprego do programa de governo de Lula, Oswaldo Bargas. Disse que ele também participou da negociação com a revista.
Por sua vez, Gedimar Passos disse, ao ser preso, que o ex-assessor especial da Presidência da República Freud Godoy teve participação na compra. Até o momento, a polícia não encontrou indícios disso. Todos os envolvidos estão afastados dos cargos que ocupavam.
Durante a investigação, o delegado da PF Edmilson Bruno entregou à imprensa cópias das fotos do dinheiro apreendido no hotel, tiradas durante perícia. Como a Justiça havia determinado que o processo ficasse sob sigilo, o delegado responde a processo disciplinar administrativo que pode levar à demissão e a um inquérito na Superintendência da Polícia Federal. Se ficar provado que cometeu crime de quebra de sigilo funcional, pode ser condenado a uma pena de seis meses a dois anos de prisão.
Também falta determinar a origem do dinheiro e o caminho percorrido por ele até chegar ao hotel no dia da prisão de Gedimar e Valdebran. Algumas informações já foram divulgadas, mas são insuficientes para se determinar quem teria financiado a compra do dossiê.
Agência Brasil