Los Angeles –
O documentário “John Lewis: Good Trouble” estreia, ou melhor, fica disponível nas plataformas de vídeo on demand na sexta-feira, dia 3 de julho. O filme explora mais de 60 anos de ativismo social e ação legislativa de John Lewis e outros representantes da Geórgia sobre direitos civis, direitos de voto, controle de armas, reforma da saúde e imigração. A diretora Dawn Porter usa entrevistas atuais e antigas com John Lewis, imagens de arquivo, incluindo o encontro com Martin Luther King Jr. para contar a inspiradora história do político. O documentário também inclui entrevistas com líderes políticos, colegas do Congresso e outras pessoas que participam ativamente em sua vida.
Isso tudo para confirmar o que todos nós já sabíamos que John Lewis é um tesouro nacional! Ele já protestava em um tempo em que, se você fosse preto e colocasse seu direito de protestar em prática, você correria o risco de ser morto.
Hoje, muitos manifestantes podem agradecer ao congressista pelo trabalho que ele fez durante a era dos direitos civis para ajudar os afro-americanos a, finalmente, obter o direito de votar neste país.
Eu tive a oportunidade de conversar por telefone com a diretora Dawn Porter sobre como foi o processo de estar ao lado de John Lewis, os desafios, as pesquisas e muito mais.
Jana – Por quanto tempo você demorou nas pesquisas para reunir os vários elementos da história? E o que você aprendeu nesse processo que você não sabia?
Dawn Porter – Demorou cerca de dois anos. Parte da pesquisa foi ler tudo que aprecia na minha frente. Eu tenho um produtor de histórias que me ajudou a analisar, com detalhes, o papel de Lewis na história. Mas, como estamos fazendo um filme, passamos muito tempo pesquisando em arquivos de bibliotecas, ao lado de arquivista, Rich Remsberg, com quem já havia trabalhado outras vezes antes. O que eu realmente gostaria era encontrar materiais que não eram tão conhecidas publicamente. Conhecemos alguns desses momentos icônicos, como o congressista na ponte na caminhada, na cidade de Selma, no Alabama. Mas, muitas pessoas não se lembram que ele falou na marcha de Washington, por exemplo. O que eu queria fazer era mostrar todo o planejamento e a intenção desses eventos. Você sabe, aqueles jovens tinham 19 anos e não apareceram na ponte só por aparecer; eles estudaram. John Lewis era formado em filosofia e religião. Assim, ele junto com outros homens e mulheres da época, se reuniram por semanas, meses, às vezes anos, para planejar os protestos. É muito emocionante para mim e me influenciou demais. John Lewis é um gênio político.Jana – O documentário é ótimo e tem cenas excelentes. As cenas das sessões de treinamento dos ativistas, onde eles aprendem a não ser violentos quando confrontados em situações violentas. Momentos como esses não vemos nos dias de hoje, o que você acha sobre isso?
Dawn – Não é fácil. Acho que, hoje me dia, não tem mais essa preparação e acredito que precisamos conversar sobre o que realmente significa. Concordo com você, com os sentimentos daqueles jovens, discutindo e refletindo sobre a não-violência em preparação para o que estavam prestes a fazer e eles realmente entendiam o que isso significava para John Lewis. Ele acreditava na santidade de todos as pessoas e ele não poderia viver sua vida de outra maneira. Neste momento, apoio completamente os protestos que estão acontecendo e até participei de alguns, mas acho que o que estamos vendo agora é a primeira resposta a um evento horrível. Minha esperança é que conversas e discussões se iniciem e que tenham uma estratégia de longo prazo para que a brutalidade policial não se torne algo comum ou que não volte a acontecer no futuro.
Jana – Adorei as cenas em que o congressista está assistindo algumas cenas pela primeira vez. Como surgiu essa ideia?
Dawn – Todos os anos, ele faz uma peregrinação à ponte em Selma. Quando estávamos fazendo o documentário, fomos convidados para a peregrinação e uma das paradas no caminho era o notável museu de história de Bryan Stevenson, The Legacy Museum and Memorial. Eu assisti John Lewis se aproximar de uma instalação que era sobre ele, e ele estava assistindo imagens de si mesmo e, enquanto o assistia, ele virou para um adolescente que estava ao seu lado e disse: “Não acredito que sou eu!" e ele começou a contar uma história que eu nunca tinha ouvido antes. Eu o entrevistei várias vezes antes, mas neste momento e pensei: "Sim! Essa é uma maneira de trazê-lo de volta a todos os eventos do passado". E foi assim que fizemos. Alugamos um teatro em Washington, DC, perto de sua casa, criamos umas sequências curtas de imagens de arquivos e mostramos somente para ele. Em vez de eu fazer as perguntas, ele apenas me contava as histórias. Durante as filmagens, ele diz: "estou vendo coisas que nunca vi antes", acho que foi realmente especial para nós dois.Jana – Como você fez para incluir as suas entrevistas, o tempo que você passava com o congressista, já que ele tem uma agenda superlotada?
Dawn – Foi através de muitas conversas, e-mails, telefonemas, entre os meus produtores e os funcionários dele no Congresso. Nós não tínhamos acesso ilimitado ao Congresso. Então, nós tínhamos que ser bem específicos sobre os dias em que íamos filmar e o que era permitido filmar. Nós tínhamos que obter o consentimento dele, mas também da pessoa que ele estava se encontrando. O que eu realmente queria fazer era, de certa forma, mostrar o presente e depois remeter aos momentos significativos do passado. Sua vida é tão rica e longa que havia tanto para cobrir, para mostrar... que eu até tenho várias versões do documentário.
