A entrada das mulheres no mercado de trabalho consolidou uma verdadeira revolução na estrutura familiar. Se no passado, os papéis desempenhados por pais e mães eram bem mais definidos e diferentes, hoje, ambos compartilham as mesmas funções na educação dos filhos. Contudo, sem um modelo prático a seguir, para muitos homens a aventura da paternidade tem se tornado uma verdadeira odisséia por mares nunca antes navegados. Sem bússolas ou coordenadas precisas, eles simplesmente não sabem o que fazer com as crianças.
Pensando neste quadro, a Escola de Educação Infantil Ápice, na capital paulista, regularmente promove eventos para inserir os desbravadores da paternidade no universo infantil. A idéia é fortalecer os vínculos entre pais e filhos.
“Ao mesmo tempo em que estimularmos o contato dos pais com os filhos, orien-tamos sobre as necessidades das crianças e posturas que eles devem tomar”, conta a psicopedagoga Maria Rocha, diretora da Ápice.
Educar para a vida
Para a especialista, a educação não é formada apenas por ações pontuais, como tapas. Mas, é feita em todo o cotidiano. “O pai é o principal modelo do filho. Ele também tem que seguir as regras que impõe a criança.”, observa. “È preciso explicitar um pensamento e uma ação.”
De acordo com ela, o princípio da boa educação é valorizar as atitudes adequadas dos filhos. “Muitas vezes, a criança age errado apenas para chamar a atenção. Assim, mostre para ela que você está contente quando ela obedece, ou age de maneira correta”.
Contudo, ela afirma que os pais não devem se sentir culpados em externar seus sentimentos de raiva ou impaciência com a criança, desde que, na “explosão”, não atinjam a personalidade ou o caráter do filho. “Segurar a raiva e as provocações e, de uma hora pra outra, reagir batendo na criança ou a ofendendo é prejudicial e os pais se arrependem depois. O correto é dizer a ela que se está ficando irritado e deixar claro o motivo da irritação”, aconselha.
Se por um lado, tal postura favorece a expansão dos sentimentos dos pais, por outro, pode ser um exemplo, para a criança, de como externar a raiva com segurança. Dessa forma, ela aprende que existem meios aceitáveis de expressar suas emoções, e lidará melhor com os momentos de tensão que enfrentará na vida.
Maria ainda adverte os pais sobre a hora das compras. Diante da grande oferta de novidades, as crianças querem ter tudo.
“Ora, criança quer tudo mesmo, os adultos também. Mas a noção de que não se pode ter tudo, deve ser aprendida logo na infância”.
Além disso, segundo a psicopedagoga, é com o aproveitamento dos brinquedos que já possuem que os pequenos poderão se desenvolver bem. “Ao propiciar que os filhos inventem diversas formas para aproveitar o brinquedo, os pais estão estimulado sua imaginação”. Ademais, “a maior preocupação dos pais deve estar em suprir a necessidade de amor e carinho das crianças, e não a simples satisfação de caprichos materiais”, complementa.
Ela admite que é normal que a criança tente se opor aos pais. “Isso faz parte do processo de construção da identidade dela.” No entanto, esta reação varia de acordo com a faixa etária. “E, saber como lidar com cada idade é essencial para uma boa educação”, orienta.
Por isso, segue abaixo um guia com as características da criança a cada fase e as posturas dos pais frente a isso:
Características da criança
Dos 1,5 aos 3 anos
• Egocentrismo
• Necessidade de se auto afirmar
• Birras são muito comuns
• Cedem
• Discutem com a criança
"Ao ceder, os pais acabam reforçando a idéia de que a birra é eficaz. Ao mesmo tempo, bater boca não é a solução. Nesta fase, ações são mais valiosas que palavras"
Reação correta dos pais:
• Ser firmes. "Se ela está fazendo birra, dê as costas. Volte depois de dois minutos e mude de assunto."
• Agir mais e falar menos. "Se ela bagunçou o quarto, ajude-nas a arrumar, mas mostre que aquilo é responsabilidade dela e que seu papel é apenas de ajudante."
• Conseqüências coerentes com as atitudes erradas. "Não adianta falar 'ah, se você não arrumar seus brinquedos não vai para a Disney no ano que vem'. As conseqüências devem ser claras, imediatas e coerentes com o erro. Assim, 'não ir passear hoje se não arrumar o quarto' é mais eficaz do que 'não ir para a Disney daqui há alguns meses'."
• Tire a criança da situação. "Se ela começar a bater a cabeça na parede, por exemplo, tire ela dali, mas sem falar nada".
Dos 3 aos 4 anos
Características da criança
• Não distingue fantasia de realidade. Podem mentir para se safar da punição ou até mesmo falar que quer matar os pais.
• Compreende melhor a linguagem do adulto
Reação errada
Falar e não cumprir.
Mudar de opinião
Reação correta
Validar e traduzir aquilo que a criança está sentindo. " Muitas vezes as crianças não compreendem muito bem seus sentimentos, e por isso, fazem promessas como jogar uma bomba, etc. Ante a isso, os pais devem ser firmes, porém devem mostrar compreensão com o sentimento do filho."
• Escrever combinados claros com as devidas conseqüências e deixar em local visível. Cumpri-los.
• Fortalecer as hierarquias. "Hierarquia não significa autoritarismo. A criança precisa saber que é necessário respeito, porque senão no futuro ela não conseguirá lidar com a estrutura hierárquica do trabalho, por exemplo."
• Mostrar que sabe o que é melhor. "Esse é o argumento mais plausível para elas."
Dos 5 aos 6 anos
Características da criança
• Já possuem raciocínio lógico
• Deixa de ser egocêntrica
• Começa a perceber seu papel na família.
Reação correta
• Usar a agumentação. "O fato de você dialogar com ela, não significa que você vai ceder. Há coisas que são negociáveis, outras não. E isso tem que ficar claro."
• Fale, mas também ouça. "Deixe a criança verbalizar o que sente".
• Aponte valores claros da família. "Com isso sua argumentação terá fundamento. Estará baseada em um valor, um combinado da família
Aos 7 anos
"Aos 7 anos, a criança passará a ter vivencias longe dos pais. È um período de auto afirmação. Contudo, ela apenas vai ultrapassar os limites se não tiver clareza dos valores", avalia Marta.
"Quando você fala não, você está dizendo 'eu te amo, mas você precisa resolver estes problemas para amadurecer". Por mais que seja doloroso para a criança, "a função dos pais é preparar para o mundo e não para nós mesmos. O mundo não vai suportar birras, ou pessoas que burlem as regras", finaliza.

