Autoridades federais prenderam, na última semana, cinco pessoas residentes no sul da Flórida que atuavam num esquema de fraude envolvendo documentação de imigração. No esquema, imigrantes ilegais contratavam uma empresa que garantia autorizações de trabalho da imigração através de aplicações falsas. Cerca de 300 pessoas foram vítimas da quadrilha, entre
eles, brasileiros.
Os envolvidos nas fraudes foram presos, em 29 de outubro: Victor Abreu, 45, de Sunny Isles; Pablo Roldan, 38, Adriana Segundo-Zaldivar, 42, os dois de Hollywood; Sergio Alfaro, 45, America Sophia George, 42, os dois de Miami. Eles foram indiciados por conspiração, documentação falsa e indução de imigrantes ilegais a permanecer nos pais. Se forem condenados,
cada um poderá pegar até 10 anos de prisão.
As pessoas, ou vítimas, que contrataram os serviços da empresa de advocacia Victor Abreu (Abreu & Associates), investigada, desde maio de 2007, agora, correm o risco de serem descobertas pelo serviço de imigração,
que já afirmou que vai verificar a veracidade dos documentos obtidos através do esquema.
O GAZETA entrevistou uma das brasileiras vítima do esquema envolvendo o escritório Abreu e Associates. A identidade da brasileira foi preservada. Ela informou que contratou os serviços do advogado, acreditando que ele
poderia resolver o seu caso. “Cheguei até ele porque me disseram que ele fazia caridade, que era um excelente profissional e ajudava os imigrantes que não tinham dinheiro. Já gastei uma fortuna tentando mudar meu status. Ele era minha última esperança, pois soube que já tinha resolvido o problema de outras pessoas” informou a vítima. Ela disse também que fez tudo dentro da lei, aplicou o processo mostrando todos os documentos legais que teve no país, forneceu endereço e status verdadeiro, acreditando que seria possível uma legalização. De acordo com a vítima, ela chegou a fazer o procedimento de “fingerprints” (impressões digitais) e, depois, recebeu uma carta negando o processo.
Mas, em seguida, ao recorrer no caso, recebeu outro documento da imigração dizendo que o processo estava em Washington e estaria sendo avaliado. Ela não sabia que estava envolvida em um esquema de fraude. “Eu mesma paguei as taxas de imigração e coloquei tudo no correio. Estou desesperada
porque, agora, não sei onde isso tudo vai parar. Só espero que não sobre para nós”, completou.
De acordo com a investigação comandada pela ICE (Immigration and Customs
Enforcement), os fraudadores pegavam dinheiro adiantado dos imigrantes com base em falsas promessas de ajuda para conseguir as permissões para trabalhar e ficar nos Estados Unidos. Feito o pagamento, os acusados,
então, preparavam as aplicações falsas, mesmo sabendo que estes imigrantes não tinham status imigratório para fazer aquelas aplicações. Alguns desses imigrantes que contrataram os “serviços” da empresa, que dizia ser de consultoria e advocacia, obtiveram autorização de trabalho e carteiras
de motorista verdadeiras. Segundo um dos agentes da ICE, esse esquema é sério e precisa ser desmantelado. “Um risco para a segurança do país”, disse Anthony Mangione.
Alguns detidos também sofrerão processo de deportação, depois de serem julgados pelos outros crimes. Os oficiais continuam procurando Karina Vasquez, 37 anos, de Hallandale Beach, também suspeita de envolvimento
na quadrilha.
O Gazeta Brazilian News entrevistou a advogada brasileira especializada em
imigração, Iara Nogueira Morton para esclarecer sobre essa questão das fraudes na imigração e alertar os brasileiros sobre as consequências de quem se envolve nesse tipo de fraude.
Gazeta - Qual o seu conselho profissional para as pessoas que foram vítimas
de fraudes como essa?
Iara - Este é exatamente o tipo de esquema que o ICE busca desmantelar.
Certamente as vítimas terão seus processos cancelados, e provavelmente serão colocados em processo de deportação. No entanto, não devem ser indiciados pela comissão de um crime federal por falta de provas de que as vítimas deliberadamente entraram neste esquema com total ciência e intenção de fraudar o governo americano.
Gazeta - Existe alguma forma de reverter essa situação, cancelar essa aplicação feita pelo esquema de fraude, da empresa em questão?
Iara - A única possível tentativa de solução é a entrada imediata de um pedido de retirada ou cancelamento de quaisquer aplicações protocoladas junto ao departamento de imigração, buscando com isso que a aplicação seja cancelada sem prejuízo ao imigrante. Quanto mais cedo isto for feito, melhor. O pedido, o que chamamos de “Motion to Withdrawn”, deve ser mandado junto aos recibos das aplicações a fim de que este chegue até ao
arquivo do imigrante, para se alcançar o resultado esperado.
Gazeta - Você acredita que essas pessoas (vítimas) possam vir a sofrer algum tipo de investigação pelos oficiais da imigração?
Iara - Impossível dizer com precisão se serão investigados ou não. Tudo depende do grau de envolvimento do imigrante com a fraude em questão e a que nível representações falsas foram feitas. No entanto, posso afirmar que estes processos serão negados e as vítimas devem ser colocadas em processo de deportação. Quando alguém é colocado em processo de deportação geralmente as notificações chegam via correio através de uma Notice to Appear que é enviada para o endereço que consta na aplicação daquele imigrante. O ICE geralmente só bate na porta de alguém quando buscando um imigrante já com Ordem de Deportação ou por suspeita ou provas do envolvimento do procurado em algum crime.
Gazeta - As autoridades afirmaram que a empresa se passava por um escritório de advocacia. Como as pessoas podem se proteger desses esquemas? Qual a melhor maneira de ter certeza de que se trata de
um advogado certificado?
Iara - Qualquer pessoa pode (e deve) pesquisar se de fato o seu representante é membro do Florida Bar. Basta entrar no site www.floridabar.org e clicar sobre a opção “Find a Lawyer”. Inserindo o último e o primeiro nome do advogado (ex. Morton, Iara), aparecerá
uma página que consta informação para contato dele, bem como também, data
de sua admissão ao Bar, suas áreas de prática, além de informação se o advogado já teve ou não qualquer reclamação feita contra ele nos
últimos 10 anos.

