Enquanto a maioria dos norte-americanos se preocupa com a ameaça de outro ataque usando aviões civis, como os de 11 de setembro de 2001, o governo dos Estados Unidos trabalha em silêncio para evitar algo muito pior - um atentado de dimensões catastróficas com uma arma de destruição em massa.
Cinco anos depois de os ataques de 11 de Setembro terem matado quase 3.000 pessoas, o secretário da Segurança Interna dos EUA, Michael Chertoff, voltou a reforçar de forma bem visível a segurança no tráfego aéreo, em resposta a uma trama revelada na Grã-Bretanha que pretendia explodir aviões com destino aos EUA.
Mas, num sinal de que teme ataques de proporções ainda mais devastadoras, Chertoff também pediu que seu departamento se concentrasse nos piores cenários possíveis, que podem incluir armas nucleares ou biológicas.
Alguns analistas afirmam que o governo dos EUA ainda não está investindo dinheiro suficiente na prevenção a esse tipo de ameaça.
“Um dispositivo nuclear improvisado seria devastador, com potencialmente centenas de milhares de vítimas... e os prejuízos chegariam à casa dos trilhões de dólares”, disse Vayl Oxford, diretor do Escritório de Detenção Nuclear Doméstica, que faz parte do departamento.
“Uma das preocupações que temos é que a arma possa ser produzida dentro dos EUA”, disse Oxford. Seu escritório está tentando proteger o país contra uma bomba que possa ser feita nos EUA e que possa ser levada a grandes cidades.
Este ano, o departamento começou a comprar equipamentos mais modernos para vistoriar a carga em portos e cidades fronteiriças em busca de material nuclear. Com o equipamento que ainda é usado em muitos locais, substâncias comuns como fezes de gato podem ativar alarmes de radiação.
Outra preocupação é com o que os especialistas temem ser uma corrida nuclear global. “Isso só aumenta ... o potencial para que a tecnologia acabe chegando às organizações de terror”, disse P.J.
Crowley, que foi porta-voz do governo norte-americano e das Forças Armadas por 28 anos e que hoje é diretor de defesa nacional e segurança interna do Centro para o Progresso Americano.
Já no front das armas biológicas, o departamento está construindo um laboratório secreto para estudar doenças infecciosas como a varíola e outros patógenos que podem ser transformados em armas, cinco anos depois do envio de cartas contaminadas com o perigoso antraz a alvos políticos e da imprensa norte-americana.
“O perigo real é que com materiais biológicos é possível matar muita gente”, disse John Vitko, diretor de contramedidas biológicas. No laboratório, perto de Washington, os cientistas tentarão determinar que tipo de coisa pode ser usada como arma e o quão difícil é produzi-la.
“Estamos tentando entender melhor os agentes que já existem”, disse Vitko. “Ainda não se sabe bem o quanto do agente é preciso para nos deixar doentes de o inalarmos ou o ingerirmos”.
Crowley disse que o Departamento de Segurança Interna precisa de mais verbas para se preparar melhor para um ataque com armas de destruição em massa.
“Estou convencido de que o departamento está mal financiado”, disse ele. “Se realmente acreditamos que os riscos são iminentes, precisamos melhorar logo. Mas com o nível de recursos oferecidos ... precisaremos de cinco ou dez anos, e não tenho certeza de que tenhamos tanto tempo assim”.
Mesmo com a preocupação com essas armas não-convencionais, especialistas dizem que os militantes têm uma tradição de usar aviões, sequestrando-os, explodindo-os ou usando-os como arma, com a Al Qaeda fez no 11 de Setembro.
“A realidade é que a ameaça que enfrentamos todos os dias é a ameaça à aviação comercial”, disse Brian Jenkins, analista sênior do Rand e autor de um livro recente sobre a ameaça aos Estados Unidos.