A fragilidade do setor imobiliário é a principal fonte de instabilidade a curto prazo para a economia americana, segundo o relatório semestral do Fundo Monetário Internacional (FMI), “Perspectivas Econômicas Mundiais”.
“O previsto esfriamento imobiliário já está aqui, pois os preços das casas se estagnaram”, disse Raghuram Rajan, economista-chefe do FMI, em entrevista coletiva na qual apresentou o relatório.
O estudo serve de base para os debates dos representantes dos 184 membros do FMI, que se reúnem durante esta semana e a próxima na Assembléia Anual conjunta dessa instituição com o Banco Mundial.
O relatório lembra que o aumento nos preços da habitação registrado nos últimos anos tem impulsionado o consumo e o emprego, assim como os investimentos em bens imóveis. Mas o mercado dá sinais de estar supervalorizado, disse o Fundo, destacando que o encarecimento das hipotecas com a alta de juros provoca uma queda da atividade no setor.
“A solicitação de empréstimos diminuiu fortemente a partir de seu nível mais alto, a oferta de casas no mercado está aumentando, a confiança dos construtores caiu ao nível mais baixo em 15 anos e a valorização da habitação estagnou”, afirma a análise apresentada em Cingapura.
Por enquanto, o esfriamento do setor não reduziu significativamente o consumo, segundo Rajan. No entanto, se a tendência continuar, desestimulará o investimento em bens imóveis e retirará postos de trabalho no setor imobiliário.
Apesar dessas perspectivas, o FMI prevê que os Estados Unidos crescerão 3,4% este ano em termos reais, descontada a inflação, a mesma estimativa divulgada em abril.
Em 2007, a principal economia mundial crescerá 2,9%, 0,4 a menos que o previsto há seis meses.
No entanto, essa desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) não veio junto com uma redução significativa da inflação, que continua exercendo pressão em alta, devido, em grande parte, ao aumento dos preços da energia, afirmou o órgão.
O Fundo lembra, nesse sentido, que aumentaram a inflação geral e também a subjacente, que exclui os preços da alimentação e da energia, que são mais voláteis.
Diante da desaceleração do setor imobiliário, Rajan disse que é “apropriada” a pausa nos aumentos de juros iniciados pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) em 2004. No entanto, alertou que “parar durante muito tempo tem seus próprios riscos”.
“Está claro que inclusive à medida que a economia se desacelera / arrefece, as pressões inflacionárias sobem”, advertiu o funcionário do Fundo, que acrescentou que se os agentes econômicos aumentam suas expectativas de inflação, o banco central dos EUA “terá que subir as taxas de juros ainda mais e durante mais tempo”.
O FMI espera que a inflação americana aumente 3,6% este ano e 2,9% em 2007, comparado aos 3,4% registrados em 2005.
Outro assunto pendente é o déficit por conta corrente, que deve chegar a quase 7% do PIB americano no próximo ano.
O Fundo considera que é “fundamental” que os EUA impulsionem a economia através de uma maior consolidação fiscal e do aumento das economias privadas, medida necessária para conter os atuais desequilíbrios globais.
A consolidação fiscal precisa ser acompanhada de uma reforma do sistema previdenciário, assim como do programa de saúde pública para idosos Medicar, segundo o FMI.
No mesmo sentido, o FMI indica em seu relatório que poderiam ser necessários maiores impostos sobre a energia, o que reduziria o consumo petrolífero.