Durante uma tarde do ano passado, Juliano Prado se sentou em um restaurante brasileiro em Pompano Beach, retirou seu caderninho vermelho de anotações e começou uma enquete com os brasileiros presentes. A pergunta era: “Você conhece a Galinha Pintadinha?” A maioria das pessoas respondeu que sim. Essa pequena pesquisa, feita com risquinhos de caneta o deixou ainda mais motivado a abrir a empresa Bromelia US Corp, responsável por trazer a “Galinha Pintadinha” para os Estados Unidos.
Os vídeos da “Galinha Pintadinha”, nome dado a uma série de vídeos musicais infantis baseados na personagem de mesmo nome, já foram traduzidos para o espanhol e inglês há três anos. O conteúdo no YouTube fica disponível no mundo todo, mas a empresa agora está no processo de expansão do licenciamento de seus produtos para o exterior. Juliano e seu sócio, Marcos Luporini, já têm negócios no México, Argentina, Chile, Peru e Espanha.
No Netflix, além dos vídeos disponíveis no Brasil e na América Latina, os sócios comemoram uma novidade: a firmação de um acordo recente com os Estados Unidos. Outra novidade é a criação da loja virtual, que vende alguns produtos importados da marca, também nos EUA (além dos países mencionados acima).
Agora, a nova etapa é abrir espaço para o licenciamento da marca também nos EUA. No México, a Televisa já é a detentora dos direitos da marca.
Para entrar no mercado de licenciamento, o produto precisa primeiro ser conhecido. Na próxima semana, Juliano irá participar de uma feira de licenciamento em Las Vegas. “Já participamos dessa feira de maneira mais tímida no passado. Agora, teremos uma presença maior com a ‘Galinha’, que já comprovamos que consegue ganhar a simpatia de crianças no mundo inteiro”, disse Juliano. “Estamos buscando bons parceiros para o licenciamento dos produtos”.
Quando lançaram os vídeos, os fundadores nem pensavam nessa parte de licenciamento. “Nós, que éramos somente os criadores dos vídeos, passamos a ser procurados para o licenciamento da marca. Desde meados de 2009, fábricas diferentes começaram a nos procurar para criar brinquedos, jogos e todos os tipos de objetos usando a personagem”, relatou Juliano. “O mais legal disso é que no Brasil, até então para conseguir o licenciamento de uma marca, era necessário uma presença grande em TVs, o que é o caso de filmes da Disney, por exemplo, o que geralmente acontecia com os importados. Mas, no caso da Galinha, além de ser um produto que não estava na TV, é um produto brasileiro”.
Recordes e pioneirismo
Juliano e Marcos acumulam uma história de recordes e pioneirismo, principalmente no
mercado brasileiro, desde que a “Galinha” entrou no mercado, em meados de 2006. É a isso que se devem as 1.823.646.132 visualizações (até a última semana) somente no Brasil, 1 bilhão dos vídeos em espanhol e 100 milhões dos vídeos em inglês.
Em 10 anos de história do YouTube no Brasil, um dos vídeos da série, “Pintinho Amarelinho”, foi o mais visualizado na categoria geral. Em segundo lugar, entre as visualizações a partir do Brasil, está um vídeo do cantor Justin Bieber, “Baby”, seguido por Luan Santana, com “Tudo Que Você Quiser”.
A “Galinha” acompanhou o início do “mundo virtual” no Brasil. Seus vídeos foram disponibilizados no YouTube quando o site ainda era pouco conhecido. Quando os primeiros brasileiros começaram a comprar iPhones e buscaram por aplicativos infantis, lá estavam os vídeos da “Galinha”. Quando usuários do YouTube buscaram pelo DVD, puderam fazer a compra on-line quando o e-commerce estava tomando força no país. O primeiro e mais popular DVD, inclusive, teve quase 2 milhões de cópias vendidas, em meados de 2008.
E os números se acumulam: 8 milhões de downloads dos aplicativos, mais de mil produtos licenciados pela marca e recorde de vendas do DVD 4, no ano de seu lançamento, 2014, dentro do segmento infantil do mercado.
Os sócios também comemoram o 89º lugar da marca no ranking mundial dos 150 licenciadores no mundo. Embora não divulguem qual o lucro anual total da marca, foram $300 milhões de dólares gerados nas vendas de produtos, da qual os donos recebem uma porcentagem apenas.
Conquistando o mercado estrangeiro
Entre vários fatores, a conquista do público no Brasil se deu ao resgate das músicas populares, que são à prova de tempo. “A música trouxe uma ancestralidade ao projeto, o que acho que chama muito a atenção”, explica Juliano. Mas será que os fundadores conseguiriam o mesmo êxito no mercado estrangeiro? Os números estão comprovando que sim, mas não sem alguns ajustes.Juliano explica que a tradução para o espanhol ficou muito próxima à versão brasileira. “Mesmo assim, percebemos que é preciso fazer o intercâmbio cultural também. Começamos a fazer o mesmo com as músicas tradicionais locais”.
A primeira música escolhida foi uma em espanhol, chamada “Los Pollitos Dicen”, que foi traduzida para o português e incluída no DVD 4. “Foi a primeira vez que levamos uma música de fora e foi um sucesso. Hoje, se você busca no YouTube, a primeira versão disponível é a da Galinha Pintadinha feita com essa música”.
Além disso, outro cuidado necessário é com os sotaques locais. “São crianças pequenas e o sotaque é essencial para uma boa educação no país em que ela está”, explicou Juliano. “A nossa ideia é, conforme a gente vá expandindo, de criar vídeos em italiano, japonês, e assim por diante. E quem mais nos ajuda no processo de pesquisa dessas músicas locais são os próprios usuários”.
História
Tudo começou quando Marcos Luporini, de 45 anos, que trabalhava com trilhas sonoras, resolveu regravar músicas infantis populares nas horas vagas. Sua intenção era de, quem sabe, criar um disco. Um dia, ele e seu amigo Juliano Prado, de 43 anos, que trabalhava com animação para a internet, resolveram unir forças para fazer um vídeo para a internet. Um dos primeiros vídeos a ficar pronto foi a música Galinha Pintadinha, uma música popular que talvez nem fosse tão conhecida como hoje.Um dia surgiu a oportunidade de mostrar o vídeo em uma reunião na qual eles não poderiam estar. Foi aí que Juliano e Marcos tiveram a ideia de fazer um upload num certo site chamado YouTube, em 2006. “O YouTube nem era do Google na época e dava até um certo medo de colocar as coisas lá. Afinal, tínhamos um projeto autoral e tínhamos medo de perder o mérito, etc.”.
A TV não se interessou pelo projeto e os sócios já estavam começando a repensar: afinal, fazia três anos que se dedicavam e nada acontecia. Ao longo de seis meses, os dois continuaram a tocar suas vidas e o vídeo ficou esquecido no YouTube. Até que um dia eles se deram conta que o vídeo tinha meio milhão de visualizações.
A partir daí, os dois continuaram com o projeto. Foi formado um time de produção que trabalhou nos fundos da casa de Juliano, em Campinas (SP). Esse time é basicamente o mesmo até hoje. Em 2008 o primeiro DVD ficou pronto.
“Desde o início, fizemos do jeito que sabíamos fazer: o primeiro DVD foi feito com pouquíssimos recursos. Hoje em dia, aperfeiçoamos mais as técnicas, mas lembramos sempre das origens, de como foi a base do primeiro DVD”, finaliza Juliano.
__________
Para acessar o site da “Galinha Pintadinha” nos EUA o link é: www.lottiedottiechicken.com

