Um juiz federal dos Estados Unidos afirmou ter fortes suspeitas de que uma cidadã americana de apenas dois anos foi deportada para Honduras “sem nenhum processo significativo”, em uma ação conduzida pela administração Trump. A criança, identificada apenas pelas iniciais “V.M.L.”, foi detida com a mãe, que é imigrante indocumentada, e a irmã, durante uma verificação rotineira de imigração em Nova Orleans no início da semana.
Segundo documentos judiciais, o pai da menina, ao saber da detenção da família, entrou em contato com agentes de imigração para informar que a filha é cidadã americana e não poderia ser deportada. No entanto, horas depois, ele foi informado por um agente do ICE que sua parceira e as duas filhas seriam deportadas ainda naquela noite.
De acordo com a petição judicial, o pai foi orientado a tentar buscar a criança, mas alertado de que também poderia ser detido. No dia seguinte, uma advogada que representava um amigo da família com guarda temporária da menina entrou com um pedido de liminar para sua liberação imediata, alegando que a detenção estava causando danos irreparáveis à criança.
A resposta do Departamento de Justiça (DOJ) ao pedido foi que a menor estava melhor sob custódia legal da mãe e que, por ser cidadã americana, não estaria em risco. No entanto, antes que a Justiça pudesse se manifestar sobre o habeas corpus e o pedido de liminar, a criança, a mãe e a irmã foram deportadas para Honduras.
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) criticou duramente a deportação e afirmou que outros dois casos semelhantes, envolvendo crianças cidadãs americanas, ocorreram sob “circunstâncias profundamente preocupantes” e com violações claras ao devido processo legal.
O juiz distrital Terry Doughty afirmou, em decisão de 25 de abril, que tentou contato com a mãe da criança para confirmar se ela de fato queria que a filha fosse deportada com ela, como alegava o governo. No entanto, foi informado pelos advogados do governo que a mãe já havia sido liberada em território hondurenho, tornando a comunicação inviável.
Doughty agendou uma audiência para o dia 16 de maio, declarando que tomou essa medida “no interesse de esclarecer a forte suspeita de que o Governo deportou uma cidadã americana sem qualquer processo significativo.”
Tom Homan, ex-chefe de imigração da administração Trump e atual “czar de fronteiras”, defendeu a ação durante uma entrevista ao programa Face the Nation. Ele alegou que a mãe teve o devido processo legal, incluindo audiências com juiz de imigração, e que assinou um documento solicitando que a filha viajasse com ela. “Isso é uma decisão de mãe, não do governo”, disse Homan.
Homan ainda afirmou que “nós não deportamos cidadãos americanos”, argumentando que os pais têm a escolha de deixar os filhos com parentes ou levá-los consigo. Questionado sobre o caso de uma criança de 4 anos com câncer em estágio avançado, também deportada, ele respondeu que não tinha conhecimento do caso, mas reforçou: “ter um filho nos EUA após entrar ilegalmente no país não é um passe livre.”
Fonte: ABC; CBS