A Flórida se tornou o principal polo de apoio à nova onda de deportações defendida pelo ex-presidente Donald Trump. Mais de 500 agências estaduais e locais assinaram acordos para colaborar com o governo federal nas ações de imigração — quase metade delas no estado. O governador Ron DeSantis se juntará a autoridades federais nesta quinta-feira (1º) para divulgar uma operação que resultou em cerca de 800 prisões em menos de uma semana.
Esses acordos permitem que a polícia local realize prisões por violações de imigração, uma função tradicionalmente reservada ao governo federal. Em dezembro, existiam 135 desses acordos nos EUA. Agora são 506 em 38 estados, com outros 74 em processo de aprovação. A Flórida se destaca: todos os 67 condados firmaram acordos, inclusive órgãos sem vínculo direto com segurança, como a Comissão de Pesca e Vida Selvagem.
O presidente Trump também assinou uma ordem executiva que prevê sanções a estados e cidades que se recusarem a cooperar, com ameaças até de responsabilização criminal de autoridades locais. Críticos afirmam que isso viola a Constituição dos EUA, que define a imigração como atribuição federal. “Isso serve apenas para espalhar medo entre comunidades imigrantes”, disse a advogada Katie Blankenship, cofundadora do grupo Sanctuary of the South.
O número de agentes do ICE (Imigração e Alfândega) — cerca de 6 mil — é insuficiente para deportar os estimados 11 milhões de imigrantes sem documentos no país, o que levou à intensificação de parcerias com estados como Texas, Geórgia e Carolina do Norte. Mas nenhum outro estado se compara à Flórida em termos de envolvimento.
A operação mais recente, chamada “Maré Alta” (Operation Tidal Wave), envolveu 80 patrulheiros estaduais e ocorreu em cidades como Jacksonville, Orlando, Tallahassee, além dos condados de Broward e Miami-Dade. As prisões miraram pessoas com ordens finais de deportação ou com antecedentes criminais como dirigir sob efeito de álcool ou sem carteira.
Segundo ativistas, muitas das prisões foram feitas por policiais locais durante abordagens rotineiras no trânsito ou enquanto os imigrantes saíam do trabalho. Alguns detidos tinham pedido de asilo em andamento ou autorização de trabalho. “As pessoas estão com medo até de dirigir”, disse Jessica Ramírez, da Associação de Trabalhadores Rurais da Flórida.
O caso de Chica, guatemalteca de 25 anos, ilustra esse clima. Seu parceiro Fernando, pai de seu bebê de três meses, foi detido enquanto ia para o trabalho com outros imigrantes. Ele tem pedido de asilo e permissão de trabalho, mas foi levado após uma blitz, e ela não teve mais notícias. “Tenho medo de ser deportada e ficar sozinha aqui”, desabafou.
Para o xerife Grady Judd, do Condado de Polk, a operação ainda é pequena diante da demanda. “É uma gota no oceano. O sistema federal é lento e está sobrecarregado”, afirmou. Ele disse que as autoridades locais estão dispostas a colaborar, mas o problema estrutural persiste.
Fonte: NBC