Com o avanço das políticas de repressão a imigrantes indocumentados nos Estados Unidos, cresce a preocupação entre médicos sobre o impacto da presença de agentes da Imigração e Alfândega (ICE) dentro de hospitais e unidades de saúde. Muitos profissionais relatam que pacientes têm evitado procurar atendimento por medo de serem detidos.
A médica infectologista Céline Gounder, colaboradora da CBS News e editora de saúde pública da KFF Health News, afirmou que embora não tenha presenciado operações oficiais da ICE em hospitais, já observou agentes da imigração circulando nesses espaços, inclusive em Nova York, onde atua como clínica.
Segundo Gounder, isso ocorre porque os padrões de detenção exigem que os imigrantes sob custódia da ICE recebam cuidados médicos, incluindo exames iniciais e atendimento de emergência. Contudo, o efeito colateral tem sido um ambiente de medo que dissuade pacientes de procurar ajuda.
A médica relata casos de colegas em Los Angeles que testemunharam agentes usando máscaras e atuando de forma intimidadora, o que afeta o bem-estar da comunidade. Há ainda denúncias de violações éticas: agentes não se identificariam, entrariam em áreas privadas sem mandado judicial, impediriam contato com familiares e interfeririam em exames médicos.
“Essas são práticas básicas. Todo paciente tem direito à privacidade e a cuidados de qualidade”, disse Gounder. Ela reforça que, por lei, agentes precisam apresentar identificação e, para acessar áreas privadas, um mandado judicial. A Constituição dos EUA, a HIPAA (lei de privacidade médica) e outras normas garantem proteção contra buscas e apreensões arbitrárias.
Hospitais como o Bellevue, onde Gounder trabalha, têm orientado funcionários sobre como lidar com agentes federais. Uma das diretrizes diz: “Não exigimos status migratório para prestar atendimento e não compartilhamos informações médicas ou pessoais, a menos que a lei exija”.
Além da saúde física, Gounder ressalta o impacto psicológico: “Muitos imigrantes já enfrentaram traumas em seus países de origem. A presença ostensiva de agentes armados em hospitais pode reativar esses traumas e causar novos danos à saúde mental.”
Fonte: CBS

