A administração Trump elaborou um plano para enviar agentes de imigração à fronteira entre Estados Unidos e México com o objetivo de prender imigrantes sem documentos que estejam tentando retornar voluntariamente aos seus países durante o período de festas. A estratégia aparece em um memorando da Agência de Imigração e Alfândega (ICE) obtido pelo HuffPost.
Pelo plano, equipes da ICE atuariam ao lado de agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) em “operações direcionadas” nos portos terrestres. O foco seriam passageiros de ônibus comerciais que atravessam para o México e que, segundo o documento, estariam “tentando se auto-remover”, ou seja, sair espontaneamente do país após permanecer sem autorização legal.
Viajantes sem histórico criminal e sem registros migratórios seriam classificados como “retornos voluntários”. Já aqueles com processos abertos ou antecedentes poderiam ser detidos e encaminhados a procedimentos formais de deportação.
A operação foi apelidada internamente de “Irish Goodbye”, referência à prática de deixar uma festa discretamente, sem avisar ninguém. O documento não indica data de início, e ações podem mudar conforme o ritmo acelerado da atual repressão migratória.
Em nota, o Departamento de Segurança Interna afirmou não confirmar operações futuras, mas disse ser “de bom senso saber quem entra e quem sai do país”, acusando o governo Biden de ter permitido uma “invasão” de migrantes. O órgão defendeu que o governo atual — sob Trump e a secretária Kristi Noem — teria reforçado fronteiras e portos de entrada.
A estratégia, porém, contrasta com iniciativas do próprio governo de encorajar saídas voluntárias, incluindo o uso de um aplicativo para registrar intenção de partir e até o oferecimento de um “bônus de saída” de US$ 1.000. Especialistas apontam que deter quem tenta ir embora espontaneamente pode servir para aplicar penalidades formais — já que deportações oficiais geram prazos de banimento e registros criminais.
Analistas também levantam a hipótese de que a operação busque inflar estatísticas e impulsionar a narrativa de uma campanha de deportações “sem precedentes”. Trump prometeu remover imigrantes em ritmo recorde, mas especialistas do Migration Policy Institute avaliam que o governo dificilmente alcançará os números do último ano da administração Biden, que contabilizou 685 mil deportações.
Apesar do discurso do governo de focar nos “piores criminosos”, dados recentes revelam que a maioria dos migrantes detidos em operações urbanas não possui histórico criminal. Em Washington, D.C., por exemplo, 84% dos detidos não enfrentam acusações nos EUA, e apenas 2% têm condenações por crimes violentos.
Fonte: Huffpost

