Uma grande base de dados divulgada pelo Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE) revela detalhes até então inéditos sobre os mais de 6.700 homens que passaram pelo centro de detenção de imigrantes instalado no sul da Flórida, apelidado de “Alligator Alcatraz”. A análise feita pela NBC6 mostra que declarações do governador Ron DeSantis sobre o perfil dos detidos eram falsas.
Em julho, DeSantis afirmou que “todos ali estavam sob ordem final de deportação” — declaração repetida por seu diretor de emergência, Kevin Guthrie. No entanto, documentos internos indicam que apenas 31% dos detidos no dia da afirmação tinham, de fato, ordem final de remoção. A maioria ainda aguardava julgamento ou seguia sem decisão final até meados de outubro. O gabinete do governador se recusou a comentar por que ele apresentou dados incorretos.
A análise separou registros do centro a partir de mais de 917 mil entradas no banco de dados nacional do ICE. O governo Trump chegou a apresentar a instalação como um local que abrigaria “os migrantes mais perigosos do planeta”, mas os números contam outra história.
Entre os mais de 6.700 homens registrados, apenas cerca de um em cada quatro tinha alguma condenação criminal — e, em centenas de casos, tratava-se apenas de infrações de trânsito simples. Excluindo essas infrações menores, somente 22% apresentavam condenações mais graves. Cerca de um terço dos detidos não possuía histórico criminal, e 43% tinham apenas acusações pendentes, sem especificação no banco de dados.
Mesmo crimes violentos, citados pelo ICE para justificar a operação, representam uma parcela mínima. Apenas 7% dos detidos tinham como “condenação mais séria” algum tipo de violência, segundo a análise.
Outra grande lacuna permanece: o custo para o contribuinte. Mais de US$ 200 milhões foram direcionados a contratos sem licitação para construir o centro instalado em parte de um aeródromo no Condado de Collier. Parte dos gastos foi removida do portal de transparência estadual, e o estado não informa quanto é gasto por detido por dia. O governo federal também aprovou mais de US$ 600 milhões em reembolsos, mas a distribuição desses recursos não é clara.
Desde a abertura oficial, em 3 de julho, o centro registrou média diária de 729 detidos, com pico de 1.468 em julho e mínima de apenas 98 em setembro, quando uma decisão judicial quase levou ao fechamento da instalação.
Mesmo diante das contradições, o governo DeSantis evitou explicar as afirmações falsas feitas publicamente. O Departamento de Segurança Interna também não comentou.
Fonte: NBC

