Após as recentes declarações do presidente Barack Obama e do provável candidato à presidência, Romney Mitt, sobre o direito do casamento a homossexuais, nunca se falou tanto sobre esse tema nos Estados Unidos.
Com a divulgação de uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, em maio, com 1.024 pessoas, que mostrou que 50% dos americanos apoiam o reconhecimento legal dos casamentos gays, contra 48% desfavoráveis, Obama se pronunciou a favor da questão. Diferente de Romney, que mostrou oposição à legalização desse tipo de união.
A opinião dos líderes políticos vai de acordo com o que pensa seus apoiadores políticos: 65% dos democratas, 22% dos republicanos e 57% dos independentes se posiciona a favor da legalização.
A religiosidade também tem papel importante na opinião dos americanos questionados pela pesquisa. O casamento homossexual é apoiado por 88% dos cidadãos sem identidade religiosa. Os contrários são, em grande maioria, católicos (47%) e protestantes (59%).
Não são só os homossexuais americanos que defendem o direito de se casar. Imigrantes brasileiros, homossexuais assumidos, também sonham em poder subir ao altar na América.
Namorando há seis anos, a capixaba, Kassia Collum, 30, e a mineira Karol Eller, 25, que atualmente moram juntas em Boca Raton, tem a esperança de que a Flórida seja o próximo estado a permitir o casamento entre o mesmo sexo. Atualmente, somente os estados de Connecticut, Washington DC, Iowa, Massachusetts, New Hampshire, Nova York e Vermont permitem legalmente a união homossexual. “Aos poucos, a comunidade GLS está conquistando seus direitos. Todo mundo tem o direito de se casar com a pessoa que ama, independente do sexo e, até o ano que vem, temos planos de nos casar também”, conta Karol.
Preconceito
Kassia conta que descobriu sua homossexualidade há 13 anos, ao chegar em Boston e conhecer a garota que foi sua primeira namorada. Ela afirma não ter sofrido, em nenhum momento, com discriminação da família e amigos. “Minha mãe sempre me apoiou em todas as minhas decisões, mas dizia ter medo do que eu enfrentaria ‘lá fora’ com o preconceito da sociedade. Já com meus amigos, a amizade nunca mudou em sentido algum, independente da minha opção sexual. Acho que família e amigos são tudo na vida da gente. E, com carisma e respeito, conquistamos qualquer pessoa”, ressalta. A descoberta para Karol foi há 12 anos, quando ainda morava no Brasil. Entretanto, a aceitação das pessoas próximas não foi tão fácil. “O início foi muito difícil sem o apoio de ninguém e sendo tão nova. Com o tempo e o diálogo, minha mãe foi aceitando e hoje somos grandes amigas. Ela me apoia e, inclusive, brinca dizendo que a Kassia é sua nora preferida”, diverte-se.Em relação ao preconceito, ambas afirma que a sociedade americana é mais liberal do que a brasileira. “O preconceito existe e todo mundo sofre com esse problema, especialmente se for mulher, negro, pobre, imigrante, entre outros. Mas, nos últimos 10 anos, melhorou bastante. Cada vez mais a sociedade está se acostumando com a comunidade GLS”, defende Kassia.
E casamento não é o único tabu que elas querem vencer. “Num futuro bem próximo, queremos ter um filho”, completa Karol.
Brasileiros fogem da discriminação do Brasil
Com medo do preconceito e discriminação que viria a sofrer caso assumisse a preferência pelo mesmo sexo, Ricardo Cabral, 22, namorava mulheres na sua adolescência, ‘fingindo’ ser heterossexual. “Isso me deixava triste”.
Cansado da situação, Ricardo abriu o jogo e, como já esperava, enfrentou a rejeição de familiares, principalmente do pai, que nunca aceitou ter um filho gay. “Minha mãe e meu irmão foram um pouco mais compreensíveis e, hoje, agradeço muito a eles pelo apoio e respeito quando mais precisei”, diz.
“Sofri muito preconceito como qualquer outro gay. Citado em rodas de colegas de escola preconceituosos. Ao andar de mãos dadas com meu companheiro e escutar algum tipo de comentário desconsertante. Ir a algum estabelecimento hetero e demonstrar afeto. Esse tipo de coisa sempre acontece na rotina de cada gay”, conta. “Mas, hoje, como sou bem resolvido e dono das minhas atitudes, não sofro tanto quanto na adolescência”.
Vivendo nos Estados Unidos há aproximadamente sete anos, o brasileiro também percebe grande diferença entre a aceitação de sua opção sexual no país natal e no que escolheu para morar.
“Há muitos casos de brasileiros gays que fogem do preconceito sofrido no Brasil e pedem asilo ao governo americano. Aqui, nos Estados Unidos, isso se torna um pouco mais ‘normal’, pois as crianças aprendem na escola a respeitar as pessoas, independente do que elas são”, acredita.
Atualmente, Ricardo tem um relacionamento com outro homem, iniciado há um ano, e o jovem também espera que os homossexuais conquistem o direito de casar.
“Duas pessoas que se amam e se sentem preparadas para estar juntas, independende da opção sexual, devem sim se casar e ter um lar normal como qualquer outro casal. Já tivemos outros relacionamentos gays antes e somos bem maduros e resolvidos. Pretendo me casar com meu companheiro assim que estivermos preparados”, afirma, sonhando com o casamento e com o fim do preconceito em qualquer lugar. “Quem sabe um dia nossa sociedade em geral possa aceitar que o caráter de uma pessoa está acima de suas opções”, acrescenta.
