Todos os meses, brasileiros como as irmãs Luciana e Tiêta Sandins enviam dinheiro para ajudar os pais a pagarem contas no Brasil. Esse mês, pela primeira vez em anos, o valor que seus familiares retiravam todo o mês não estava disponível na conta no Brasil.
“Eu envio $80 dólares para os meus pais todo o mês e sei que não é muito dinheiro. Mas sinto muito pelas outras pessoas que enviaram mais, como minha irmã, que enviou $600 e uma amiga que todo o mês envia o dinheiro para pagar o seguro saúde de sua mãe”, conta Luciana. “No Brasil, parece que se você não paga o seguro saúde em dia, eles cancelam, e ela está desesperada, pois não tem de onde tirar a quantia agora, pois junta ao longo do mês. O pior não é nem quem mandou, mas quem depende de receber o dinheiro do outro lado por qualquer que seja o motivo”.
Há semanas, clientes perceberam que a entrega do dinheiro estava demorando mais ou menos dez dias em vez do prazo de 48 horas, como de costume e, por isso, foram mudando de empresa. Mas os que continuaram, agora se deparam com a dificuldade de entrar em contato com os responsáveis e, pior, de recuperar seus $80, $600, ou mesmo $19 mil dólares.
Eddie Reis, dono da loja brasileira Petisco, em Boston, que intermedia o serviço de remessas das Intertransfers, cansado de tentar telefonar sem sucesso, viajou até Miami para tentar falar em pessoa com alguém da empresa. “Trabalho com brasileiros muito simples, sem papéis e que não falam inglês”, explicou. “Vim até aqui para representá-los, mas dei com a cara na porta. Pior é que quando explico que o dinheiro não fica comigo, eles não me entendem e falam para eu me virar, já que deram a quantia na minha mão”. Eddie acredita que o total de transações pendentes feitas por seus clientes pela Intertransfers esteja entre $10 e $15 mil dólares.
Na última semana, o site da empresa saiu do ar e quem tentou ir até a loja, em Pompano Beach, deu de cara com um aviso de que o sistema estava fora do ar. Finalmente, no dia 16, a direção da empresa publicou um comunicado de encerramento de suas atividades no site da Intertransfers.
Investigação
Na última semana, a empresa Intertransfers e Global Money Remittance foram alvos deordens públicas de “Cease and Desist” e tiveram suas atividades suspensas nos estados da Flórida (no dia 12 de abril) e Massachusetts (no dia 10 de abril). No começo do mês, o mesmo aconteceu com a empresa Braz Transfers, com sede em Massachusetts. No dia 8, o estado de Massachusetts informou a Flórida sobre a falha em entregar transferências dentro do prazo de sete dias, conforme estabelecido pelas leis do estado.
A divisão de finanças dos consumidores do Office of Financial Regulation da Flórida (FLOFR) anunciou que encontrou na Intertransfers e Global (ambas do mesmo dono, José Martins) um sério risco para o público que utiliza seus serviços e, por isso, bloqueou suas licenças, ativas desde 1999.
De acordo com o documento, na Flórida, a Intertransfers possuía duas lojas principais e 15 vendedores autorizados, e a Global cinco vendedores autorizados, além de outros pontos de vendas por todos os Estados Unidos.
Entre as reclamações recebidas pelo órgão, um cliente havia enviado $19 mil dólares para o Brasil no dia 28 de março. Ele ligou diversas vezes para a companhia para pedir informações sobre o paradeiro do dinheiro, mas não recebeu uma resposta. O FLOFR disse não saber ainda quantos clientes foram afetados pela empresa.
No dia 8 de abril, o FLOFR conduziu uma visita ao escritório da Intertransfers em Miami e pediu para fazer uma vistoria no escritório no dia 15 de abril. A empresa expressou estar ciente de sua falha em entregar o dinheiro aos destinatários devido a dificuldades financeiras.
O órgão visitou uma das agências licenciadas de revenda dos serviços de Intertransfers, a Soul Travel, onde a presidente disse que tem o total de 18 transações pendentes, feitas através de sua agência, com o status “Processing Payment”.
No dia 10 de abril, a Global tinha um total de $17.624,50 em transações pendentes, enquando a Intertransfers tinha $110.978,01, todos com mais de 10 dias de atraso.
O começo da luta para recuperar o dinheiro
No comunicado, publicado no site da Intertransfers (intertransfers.com) um texto assinado pela direção da empresa lamenta que “dificuldades operacionais e de mercado foram se acumulando ao longo dos últimos meses” e por isso encerra suas atividades. Ainda no texto, a empresa diz que irá cumprir com todas as obrigações e compromissos assumidos, mas que exigências burocráticas podem atrasar a devolução de remessas pendentes.A empresa colocou à disposição o número de telefone (305) 537-5500 – Ext. 263, indicando para deixar recado. Mas quem tenta telefonar encontra a caixa de mensagens cheia.
Marion Gorenstein, que utilizava os serviços da empresa há mais de 10 anos, tenta recuperar os $2,6mil dólares que enviou ao Brasil no começo do mês. Ela tentou ligar no número citado acima, sem sucesso, e finalmente, conseguiu ligar para um número da Global: (888) 6488944. A atendente afirmou que os clientes devem preencher uma reclamação no site da FLOFR (acesse flofr.com e ir para “file a complaint”). “É o seguro da companhia que irá pagar os clientes”, informou Marion.
O GAZETA tentou entrar em contato Ana Paula, que faria parte da diretoria da empresa ao longo da semana sem sucesso. Uma funcionária disse que não poderia falar com a redação.

