Há aproximadamente nove anos, um nome que antes era sinônimo de milagre para os imigrantes procurando uma forma de permanecerem nos Estados Unidos, começou a ser associado ao pesadelo de muitos, que até hoje tentam regularizar sua situação: Javier Lopera.
Condenado com 19 acusações de fraude, em agosto de 2003, a oito anos em prisão federal, Lopera foi libertado em 14 de setembro de 2010, e deportado em 28 de fevereiro de 2011, segundo informação do Immigration and Customs Enforcement, (ICE). Em 20 de maio de 2004, Lopera perdeu sua licença com a Flórida Bar Association, perdendo o direito de advogar.
O Gazeta News encontrou Javier Lopera no site de mídia social Facebook, que indica que hoje em dia ele vive na Bolívia, seu país natal, e, segundo seu perfil, trabalha com órfãos na instituição Future 4 Children (www.future4children.com). De acordo com autoridades, desde julho de 2002 até fevereiro de 2003, em cerca de 1.500 casos, Lopera mentiu para clientes e autoridades do então Immigration and Naturalization Service (INS). Mas, investigações posteriores indicam que os esquemas de Lopera aconteciam desde, pelo menos, 1996.
Ademir Braga lembra como se fosse ontem de sua história com Lopera. Ele, primeiro, entrou em contato com o advogado em 2001, quando a lei 245i, que permitia que pessoas qualificadas dessem entrada em processos de residência em alguns casos, estava para expirar em 30 de abril. Braga pagou $3 mil dólares de entrada e concordou em pagar o restante em parcelas até alcançar o total de $5 mil, conforme o acordo.
“Passaram-se seis meses e, como não tive nenhum contato deles, contatei o Department of Labor em Tallahassee para saber se existia algum processo com meu nome em andamento, e nada. Depois de inúmeros telefonemas sem resposta, resolvi parar no escritório e fui informado que eles tinham dado entrada no meu processo naquela semana (seis meses depois do meu pagamento inicial)”, contou Braga. “Esperei três meses e entrei em contato novamente com o Department of Labor e, já esperando, fui informado que não havia nenhum processo no meu nome em andamento”.
Depois de ouvir novamente as mesmas desculpas e começar a fazer ameaças, quase um ano a partir da data do pagamento inicial, Braga foi informado pelo Department of Labor que havia um processo em seu nome.
Já com medo do que poderia vir a acontecer, Braga procurou o advogado Gene Devore, em West Palm Beach, que cobrou $3 mil dólares para terminar um processo que já havia sido iniciado. Depois de quatro meses, Braga recebeu seu Work Permit e dois anos mais tarde, o Green Card.
Terceiro maior caso de fraude de imigração
Braga foi vítima de algo que a imprensa chamou na época de “terceiro maior caso de fraude de imigração da história dos Estados Unidos”.
De acordo com a promotoria e documentos da corte, Lopera falsificou informações em petições para pessoas que ele dizia serem executivos de corporações multinacionais. Em alguns casos, as companhias não existiam, em outros casos, os executivos pedindo vistos eram na verdade imigrantes indocumentados, e outras vezes, os nomes de trabalhadores indocumentados eram adicionados a aplicações legítimas.
Os clientes pagavam cerca de $4 mil dólares pelos serviços de Lopera, de acordo com autoridades, trazendo-lhe uma fortuna de pelo menos $14 milhões. Na primeira vez em que foi preso, em fevereiro de 2003, Lopera pagou uma fiança de $500 mil dólares, segundo documentos da corte.
De acordo com a advogada Ingrid Domingues McConville, desde que a fraude de Lopera foi descoberta, ela e muitos advogados da área receberam clientes desesperados como Braga para reverter suas situações. Infelizmente, segundo McConville, apenas cerca de 10% dos casos puderam ser revertidos. Muitos outros permanecem tentando, ou já foram deportados, ou retornaram ao Brasil. “Em muitos casos de empresas que patrocinavam vistos de empregados, ele guardava as informações delas e usava para outras pessoas que não tinham nenhuma ligação”, conta McConville.
Braga conta que o que o ajudou a reverter o processo foram diversos serviços voluntários em bancos de alimentos em Broward County, por 18 anos, além de participar de campanhas eleitorais para os republicanos desde sua chegada em 1996. “Estas duas situações foram imperativas em acelerar a aprovação e consequente emissão do meu Green Card. Até hoje sou bastante envolvido no Partido Republicano aqui da Flórida, onde faço parte de dois clubes”, conta Braga.
Mais de 3.500 casos analisados
Durante anos de investigações, a imigração analisou milhares de green cards, vistos, permissões para trabalho ligados a Lopera e seus clientes.
Autoridades disseram na época que não deportariam os mais de 3.500 clientes, mas de acordo com reportagem da época, esses clientes teriam que dar nova entrada nos papéis.
Documentos da corte indicam que as investigações sobre Lopera começaram em julho de 2001, quando agentes de imigração do Texas desconfiaram de cerca de 100 pedidos de visto fraudulentos para executivos de multinacionais. Um total de sete mil aplicações estavam sendo investigadas no momento de sua sentença.
Justiça
Quando recebeu a sentença, em agosto de 2003, uma matéria do Sun Sentinel transcreveu uma frase de Lopera: “Eu sinto muito por tudo que fiz, mas me sinto ainda pior por todos que foram afetados pelo caso”.
Mesmo tendo cumprido pena, perdido seu direito de advogar e sido deportado dos Estados Unidos, clientes como Braga ainda se perguntam se isso foi o suficiente em comparação aos danos causados por seu esquema de fraude.
“Parece que depois desse escândalo toda a coisa ficou pior entre os brasileiros: remessa de caixas que nunca são entregues no Brasil, passagens aéreas fantasmas, etc”, disse Braga, que tem uma questão maior que nunca foi respondida: “onde é que está o dinheiro todo que foi apropriado da clientela que foi lesada? Segundo o FBI, a quantia é superior a $6 milhões de dólares”.
Braga fez sua parte: entrou em contato com a companhia sediada na Suíça (Future 4 Children) onde ele é o encarregado da seção da Bolívia, segundo Braga. “Anexei papelada, anúncios de jornais, etc. Temos que evitar que o que aconteceu na Flórida não aconteça mais, ainda mais agora envolvendo crianças”.

