O livro “The Beast” ou “A Besta”, do jovem escritor latino Óscar Martínez, foi recentemente publicado em inglês, além da versão em espanhol. O que ele chama de “a besta” não é um animal, mas sim o teto de um trem no qual os imigrantes oriundos da América Central viajam para atravessar o México em busca de uma vida melhor nos EUA. A besta, no entanto, é um monstro: ele pode devorar a vida ou braços e pernas em seus trilhos e abrigar os predadores que caçam os inocentes, publicou o “The New York Times”.
No início de suas viagens, as quais Óscar chama “trilha dos imigrantes”, ele tenta calcular quantas pessoas já morreram nessa jornada. Um padre lhe disse que a rota de 2 mil milhas de comprimento é um “cemitério dos indigentes”, mas Martinez não se contentou com essa resposta. Ele resolveu assumir a obrigação enquanto escrevia “A Besta” de não somente dar nomes, mas também dar vida a esses homens e mulheres, esquecidos e desprezados, que encontrou ao longo do caminho.
Foi assim que o escritor conheceu Jaime, um hondurenho de 37 anos que rumava para os EUA depois que um furacão destruiu sua fazenda, mas que perdeu a perna direita ao cair de um trem. Auner, Pitbull e El Chele, jovens irmãos salvadorenhos que fugiam da violência gerada pelas gangues de rua, que já clamou a vida de sua mãe. Júlio César, que senta às margens do Rio Grande, estudando suas correntes e esperando pacientemente pelo momento certo de atravessar a nado.
Por disposição e treinamento, Martinez parece ser o profissional ideal para assumir a tarefa de dar voz aos imigrantes, pois atua como repórter investigativo para o “ElFaro.net”, uma das melhores publicações online na América Latina. O escritor de 30 anos de idade começou a obra em meados dos 20 anos, no auge do vigor para percorrer várias vezes o México e enfrentar os riscos apresentados por policiais corruptos, cartéis de drogas, traficantes de seres humanos, conhecidos como “coiotes”, residentes gananciosos e a própria besta.
“No topo de um trem não há jornalistas e imigrantes”, escreve ele, “há somente pessoas penduradas. Não há nada a não ser a velocidade, vento e, às vezes, uma rápida conversa. O topo do vagão é o piso para todos e todos aqueles que caem, caem da mesma forma. Ficar no topo é tudo que importa”.
Quando publicado em espanhol, em 2010, a obra de Martinez possuía o título “Os imigrantes que não são importantes”. Mudando-o para “A Besta” mudou-se o foco para o trem e o distanciou de seus passageiros relutantes. Entretanto, o escritor nunca perdeu o foco nos salvadorenhos, hondurenhos, guatemaltecos e nicaraguenses que “viajam sozinhos na companhia de ladrões e sequestradores”.
Martínez não é o primeiro a escrever sobre o caminho dos imigrantes. Entre outros publicações sobre o tema estão “Coyotes: A Journey Accross Borders With American Illegal Migrants”, de Ted Conover, de 1987, e filmes como “Tres Veces Mojado” e “Sin Nombre”. Mas Martínez demonstra como o sistema se tornou mais brutal, corrupto e perigoso. Esses dias são todos contra todos, com os migrantes no meio. O livro, segundo o “New York Times”, pode ser útil no atual debate imigratório.
“The Beast” foi recentemente publicado em inglês, tem 267 páginas e custa $26.95 dólares.

