Pesquisa é pesquisa, eleição é eleição. Esta é a frase mais comum que se ouve dos candidatos que, numa reta de chegada, se vêem atrás nas pesquisas de intenção de voto. Esta é a frase que já está sendo dita, não pelo candidato em sí, mas pelos correligionários de Geraldo Alckmin, na semana crucial do segundo turno. A julgar pelo termômetro das pesquisas, Lula venceria com uma margem que pode chegar até a 20% de vantagem sobre seu oponente.
Na verdade, as pesquisas de opinião pública nunca foram infalíveis. Mas é verdade, também, que 90% das vezes elas acertam os vencedores. As exceções existem, como a famosa vitória de Leonel Brizola para o governo do Rio de Janeiro, contrariando os prognósticos das pequisas da época e mais recentemente a incrível “virada” na corrida para o governo da Bahia, quando Jacques Wagner estava 28 pontos atrás de César Borges e, após a contagem dos votos, venceu por uma diferença oposta.
Mas são exceções que confirmam a regra.
Supondo que as pesquisas estejam certas e que Lula realmente seja reeleito no próximo final de semana, que lições importantes podem ser tiradas da corrida presidencial que, há 3 meses atrás, parecia caminhar para uma tranquilíssima vitória do atual presidente ainda no Primeiro Turno?
A primeira dessas lições é que jamais se pode desdenhar do poder da imprensa. Foi a divulgação maciça dos escândalos diversos envolvendo o PT, que fizeram com que uma parte do eleitorado, até então indiferente à própria eleição em sí, bandeasse para a campanha de Alckmin, visto aqui não como um projeto em sí, mas simplesmente como um voto “contra Lula e o atual PT”.
O presidente Lula, caso seja reeleito, também deve reconhecer uma outra importante lição dada pela corrida eleitoral deste ano: nunca conte com vitória antes do tempo e mais ainda, jamais subestime a capacidade dos fatos e da opinião pública ser alterada por eles.
A política brasileira criou um “monstro” há cerca de duas décadas: o marketing político. Desde então, essa instituição que “fabrica imagens” e “manipula opiniões” tem sido tão bem sucedida em fazer passar gatos por lebres, que até mesmo os políticos mais experientes, passaram a acreditar que a propaganda é que é “a verdade”. Nenhum político deve, entretanto, se sentir escudado pela ilusão passageira e tênue das “construções marketeiras”. Houve um determinado momento no período pré-eleitoral, entre maio e julho, mais precisamente, que Lula falava em alto e bom som como um presidente reeleito. Alí, perdeu muitas vezes a necessária compostura do cargo e demonstrou um alto nível de fragilidade ególatra.
Após a inesperada derrota no Primeiro Turno, foi visível o seu desapontamento. As famosas “pesquisas internas” do PT e do Palácio do Planaldo (quase a mesma coisa, convenhamos) davam como certa a vitória do atual presidente no Primeiro Turno, ainda que já estivessem “admitindo” que a diferença já não seria aquela “massacrante” antecipadamente comemorada. Essas “pesquisas internas”, como se viu, estavam erradas. Como podem estar erradas as que agora apontam uma enorme diferença de intenções de votos a favor de Lula sobre Alckmin. Seguramente se Alckmin vencer no Segundo Turno será o que os norte-americanos chamam de “huge upset”, uma incrível, inacreditável “virada”.
Mais uma vez supondo que Alckmin não consiga este “huge upset”, tem ele próprio que admitir algo importante: a conquista de um capital político em âmbito nacional que antes, ele tinha restrito e dividido, em São Paulo. Geraldo Alckmin não tem nenhuma “manha” de político populista. Num país como o Brasil isso equivale a um grave problema eleitoral. Mas tem, por outro lado, uma imagem deixada pelo excelente governo realizado em São Paulo, razão pela qual foram os paulistas e o Sul do Brasil que garantiram a ele a possibilidade de estar neste segundo turno.
Se reeleito, como dizem as pesquisas, Lula fará um segundo termo no planalto sabendo respeitar o ditado “devagar com o andor que o santo é de barro”, ou seja, a própria fragilidade do PT enquanto Partido, no sentido de sua imagem pública e credibilidade, é razão suficiente para o nosso mandatário viver permanentemente “com as barbas de molho”.
Ao tecnocrata e fisiológico PSDB, de muito bonita imagem social-democrata, mas enorme distanciamento do “idioma” do povo brasileiro, restará uma profunda reflexão sobre sua identidade como partido dos e para os brasileiros.
O Segundo Turno foi um “dever de casa” imposto pelo povo brasileiro aos seus dois “candidatos a presidente do Diretório Acadêmico”. O atual levou um “puxão de orelha” mas deverá seguir. O candidato a substituí-lo foi afagado com tapinhas nas costas, mas sabe agora que o povo não o considera seu adequado representante.
Bem, tudo isso, “se” as pesquisas estiverem certas.