Muito tem sido escrito e falado a respeito da súbita, inesperada, mas não exatamente surpreendente, morte do talento Miachael Jackson.
São milhares de horas de programação de TV, páginas e páginas de jornais e revistas, incontáveis espaços na Internet. Certamente, apenas se algo acontecesse a Barack Obama, neste momento, geraria mais mídia do que a morte do auto-proclamado “Rei do Pop”.
Que Michael Jackson foi e seguirá sendo (porque sua música, sua dança e sua memória viverão por muito tempo) uma lenda, só mesmo os que nada sabem de cultura pop podem negar. MJ alcançou um nível de popularidade musical no mundo Pop que o coloca ao lado de Elvis Presley. Os Beatles e Elton John como as quatro mais eloquentes “usinas” de criação musical popular, desde que a música popular foi “inventada¨. Madonna, como ícone, poderia elevar esse grupo a quinteto, mas lhe falta estatura artística ao mesmo nível que eles e ao mesmo tempo sobra marketing exagerado à “material girl”.
Marketing exagerado foi também um dos fatores que, em certo momento, “eclipsaram” o monumental talento de Michael Jackson. Excepcional cantor e compositor, “criativíssimo” dançarino e coreógrafo, produtor e músico. Michael se superou também como co-criador de vídeo clipes revolucionários como “Thriller”, “Billy Jean”, “Bad”, “ Remember the time” e “Scream”, só para citar alguns. Mas, usou, abusou e foi abusado pela “ caníbal máquina” da mídia na era globalizada.
Justo ele e Madonna certamente foram os artistas que mais se beneficiaram e ao mesmo tempo foram alvos dessa estrutura de informação e difamação que não conhece fronteiras e se alimenta das intimidades, verdades e mentiras que formam a atmosfera em torno das tais “ celebridades”. Madonna, cínica, materialista assumida e talentosa no trato quase sado-masoquista com a mídia, tem se saído muito bem. Michael, um sujeito seriamente perturbado pela obsessão de sucesso, teve muito menos êxito nesse “embate” com a parte da mídia que pode ser chamada de “abutres de plantão”.
Michael Jackson, quando tinha apenas 5 anos foi cruelmente adestrado por seu pai, para ser uma estrela em seu grupo de irmãos, o “Jackson 5”. Ainda não tinha 10 anos e já era um superstar internacional. Habituou-se aos spotlights e embora, segundo o testemunho unânime dos que o conheceram de perto, sendo muito tímido e humilde em sua vida privada, mostrou-se voraz e irresponsável, quase ingênuo, ao lidar com a máquina que alimetava sua celebridade e ão mesmo tempo criava um “monstro” em torno do qual circulavam todos os escândalos possíveis e imagináveis. Entretanto, o tamanho de seu talento, sua celebridade e dos escândalos verdadeiros e fictícios nos quais se envolveu até o pescoço, servir-se de plataforma para que se reflita sobre esse momento trágico econômico de soma de ignorância + tecnologia + mídia de massa, no qual estamos envolvimos e do qual todos participamos, de alguna forma.
A obsessão por fama, fortuna e poder ilustram de uma forma amarga um lado perverso e triste de um ponto em que a sociedade humana, que se diz tão avançada, age como canibais. Alimenta-se de triunfos (muito menos) e desgraças (muito mais) do cotidiano, real ou inventado, daqueles que alcançam algum nível de celebridade. Não há exemplo mais completo do que Michael Jackson a se enquadrar nesse universo de fantasia alucinada.
E, suprema ironia, quando começaram a circular os rumores de sua morte, muita gente, mas muita gente mesmo – entre os quais me incluo – sinceramente acreditou que estávamos diante de mais um golpe publicitário do “Rei do Pop”. Se fosse, não seria tanta surpresa quanto foi a sua morte real.
Uma grande estrela foi se embora. Seu trabalho fica. A memoria de Michael como personalidade pública entra para a prateleira das mais bizarras, doentias e falsamente “livres” da história da arte. Como se divino e diabólico ocupassem espaços iguais numa mente super privilegiada.
Descanse em paz, Michael. Suas bizarrices serão sempre menores que a grandeza de sua arte.

