Uma brasileira está conversando há dois meses com um americano do Texas, tenente do exército, que se diz viúvo há cinco anos, tem um filho de 8 e que, agora que está prestes a se aposentar, decidiu encontrar uma companheira na internet. O caso é muito parecido com outros de brasileiras que entraram em uma fria ao se envolverem com estrangeiros que conheceram pela internet.
Esta brasileira está apavorada, mesmo interessada no americano, com medo de se tornar a “próxima vítima”. Ela disse que pediu para vê-lo pela webcam, “mas o meu dispositivo não funcionou e só ele que me viu. Tenho muito medo de que tudo isso seja uma mentira”, disse ela ao GAZETA.
Histórias como essas são bastante comuns tanto entre leitores do GAZETA como em casos que chegam ao próprio Ministério das Relações Exteriores, que fez um post, no mês passado, alertando brasileiros a tomarem cuidado ao se envolverem com estrangeiros que conhecem pela internet.
“O MRE vem recebendo numerosas queixas de cidadãs brasileiras vítimas de roubos, fraudes e violência cometidos por cônjuges estrangeiros que conheceram pela internet e com os quais tiveram pouco ou nenhum convívio presencial antes do casamento”, disse o comunicado, publicado na página do Ministério no Facebook. “De acordo com os relatos recebidos, que incluem denúncias de cárcere privado, é frequente, nesses casos, que os maridos estrangeiros mudem completamente de comportamento logo após a formalização do matrimônio, tornando-se agressivos e manipuladores”.
O comunicado continua, recomendando especial cuidado com os relacionamentos virtuais mantidos com estrangeiros “com o propósito de estabelecer relacionamentos ou celebrar casamentos, a fim de protegerem-se contra possíveis golpes e situações de risco. Sugere-se, entre outras precauções, buscar obter referências do cidadão estrangeiro por parte de terceiras pessoas de conhecimento comum, além de evitar manter o contato restrito aos meios de comunicação à distância, previamente ao matrimônio. Recomenda-se, igualmente, conhecer as práticas e leis do país sobre direitos das mulheres em casos de matrimônio e questões como guarda de menores em caso de eventuais disputas entre o casal”.
Brasileira luta por guarda de filha
A história da pernambucana Karla de Albuquerque ilustra bem os casos citados pelo MRE. Desde 2010, ela navega pelo sistema judiciário americano, passando por diversos advogados, em uma batalha judicial pela guarda da filha Amy, hoje com 7 anos. Entretanto, o caso continua sem um final feliz para a brasileira. No 15, a Justiça voltou a negar a guarda da menina à mãe.
Uma semana antes da decisão, Karla participou de uma nova audiência com a juíza do 19º Circuito Judicial da Flórida, Laurie Buchanan, em Stuart, de onde saiu esperançosa. Isso porque a psicóloga brasileira Karina Lapa esteve presente e mostrou que seu laudo condiz com as acusações da mãe. Karla afirma que a criança foi abusada pelo pai, o americano Patrick Joseph Galvin.
Desde 2010, a brasileira enfrenta uma batalha judicial que parece não ter fim. Galvin já é registrado como sexual offender no Florida Department of Law Enforcement e tem a guarda da menina desde o ano passado, quando Karla saiu da jurisdição permitida, levando a menina para morar no Texas. Atualmente, a brasileira só pode realizar visitas supervisionadas à filha uma vez por semana.
Karla se envolveu com o americano em meados de 2005 e somente quando estava grávida se deu conta que ele era violento, indo parar em um abrigo para mulheres e vindo a descobrir que ele se tratava de um abusador sexual registrado após desconfiar que ele estava abusando da própria filha.
Mesmo arrasada com a decisão da juíza, Karla diz que não vai desistir e continuará a lutar para ter a filha de volta.
Campanha
Desde junho deste ano, o MRE, a Secretaria dos Direitos Humanos e a Defensoria Pública estão fazendo uma campanha para esclarecer os direitos dos brasileiros que precisem disputar a guarda de filhos com pais estrangeiros. A medida visa evitar casos como o de Karla e Amy.Para a diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior, ministra Luiza Lopes da Silva, os brasileiros que vivem fora do país precisam estar conscientes de que cada país tem sua legislação e soberania. “O caso da Amy Galvin é um em dezenas.
Estamos pensando grande no trabalho de prevenção, esclarecimento que será feito nos próximos meses”, declarou ela, em junho, quanto iniciou um “enorme esforço para que os brasileiros entendam qual a situação ao qual vão estar submetidos no caso de disputa de guarda dos seus filhos, sobretudo no caso de casais binacionais em uniões desfeitas e o que o governo brasileiros não poderá fazer”.