Pela primeira vez em sua história, o Instagram anunciou na terça-feira (17) o lançamento de contas criadas especificamente para usuários adolescentes com proteções de privacidade incorporadas.
As novas contas, chamadas de “Teen Accounts”, serão automáticas para todos os usuários do Instagram com menos de 18 anos, tanto para os adolescentes que já usam o aplicativo quanto para aqueles que se inscreverem após a introdução do recurso.
O conjunto automático de proteções busca abordar as principais preocupações dos pais, como quem pode entrar em contato com seus filhos, que conteúdo eles assistem e quanto tempo passam no dispositivo. Além disso, todas as contas de usuários menores de 16 anos, por padrão, serão privadas. Para mudar as configurações, o adolescente vai precisar da autorização dos pais.
As mudanças para os usuários adolescentes do Instagram ocorrem em meio a evidências crescentes que mostram os perigos das redes sociais para os jovens usuários. O uso de mídias sociais está associado a sintomas de depressão e ansiedade, problemas de imagem corporal e menor satisfação com a vida para alguns adolescentes e jovens, segundo pesquisas.
No Brasil, o desafio “se garante na beleza” virou matéria jornalística por aumentar a exposição de crianças, que não têm consciência dos riscos que estão correndo, e potencialmente alimentar a pornografia infantil.
Para participar do desafio, a criança entra em contato com perfis de longo alcance (com muitos seguidores) e pede para divulgarem a sua foto, ou um vídeo, muitas vezes acompanhado de uma música inapropriada. O objetivo da criança é receber comentários e curtidas, uma grande validação para a nova geração na internet.
Em 2023, a Safernet recebeu 71.867 novas denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil online. O número é o recorde absoluto de novas denúncias desse tipo de crime que a ONG recebeu ao longo de 18 anos de funcionamento da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos.
De acordo com especialistas, uma combinação de fatores explicam o aumento no número de crimes, e, consequentemente, de denúncias. Entre eles a introdução da IA generativa para a criação desse tipo de conteúdo, a proliferação da venda de ‘packs’ com imagens de nudez e sexo auto-geradas por adolescentes e as demissões em massa anunciadas pelas big techs, que atingiram as equipes de segurança, integridade e moderação de conteúdo das plataformas.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, o número de suicídios entre jovens de 10-24 anos aumentou 62% entre 2007 e 2021, período-chave para o desenvolvimento das redes sociais, desde o MySpace até o TikTok.
Diante de tanta evidência negativa, o que os pais podem fazer para proteger seus filhos? Parece improvável que a proibição do uso das redes sociais seja um método efetivo de proteção para as crianças e adolescentes. Apesar disso, alguns pais já advogam por uma infância sem telas.
Porém, a solução mais plausível, é continuar cobrando das empresas, e não das crianças, o discernimento necessário para lidar com a sua presença nas redes sociais. Novos recursos de proteção, como o recém-anunciado pelo Instagram, podem fazer a diferença nos próximos anos, tanto para a saúde mental, quanto para a integridade física desses jovens.
Além disso, o governo também é responsável pela criação de uma legislação que proteja as crianças online, responsabilizando tanto as big techs, que lucram com as suas inseguranças e sua pouca experiência, quanto os predadores que se aproveitam da falta de monitoramento para aliciar e explorar sexualmente esses jovens usuários da internet.
Por último, e não menos importante, os pais também não podem esquecer que é necessário conversar com os seus filhos francamente sobre os perigos online, e monitorar, sempre, o tipo de conteúdo que a sua criança está acessando. Lembre-se que nos tempos atuais, não é porque seu filho está em casa que ele está seguro. Se os dispositivos online já podem ser prejudiciais para adultos experientes, imagine só para crianças e jovens adolescentes.