O bloco Loucura Suburbana ocupou, no fim da tarde de hoje (16), as ruas do Engenho de Dentro, na zona norte do Rio de Janeiro. Criado em 2001, ele é pioneiro em juntar usuários, familiares e funcionários da rede de saúde mental, além de moradores do bairro. O cortejo de Carnaval é parte de um projeto mais amplo de luta contra o modelo tradicional de internação dos manicômios. No lugar de hospitalizações forçadas, um tratamento humanizado e mais integrado com a sociedade.
A concentração do Loucura começa sempre no Instituto Municipal Nise da Silveira, que já foi o maior e mais antigo hospício do país. Em outubro de 2021, foram encerradas oficialmente as hospitalizações de pacientes psiquiátricos na instituição. Os ex-internos foram realocados em residências terapêuticas da cidade e, segundo a prefeitura do Rio, são acompanhados por equipes multidisciplinares dos centros de Atenção Psicossocial (Caps).
Esse foi, portanto, o primeiro desfile do bloco depois que o instituto se transformou em um parque e agora oferece atividades culturais, artísticas e esportivas. Ele também abriga um museu com o legado da psiquiatra Nise da Silveira e um acervo sobre a psiquiatria no Brasil. Todas essas mudanças fizeram com que a folia de hoje fosse especial.
“O fato de hoje a gente ter conseguido não ser mais um hospício é o resultado de uma luta da qual o Loucura Suburbana participou. Então, essa é uma comemoração de que é possível privilegiar e apoiar a arte e a cultura quando a gente fala em saúde mental”, disse Ariadne de Moura Mendes, psicóloga do Instituto Nise da Silveira e fundadora do bloco. “É um desfile com causa. Não é um bloco só de brincar o Carnaval. Tem um aspecto social de resistência. É a celebração de um longo trabalho da luta antimanicomial”.