Depois de estrear com sucesso no ano passado nas capitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a Orquestra Ouro Preto (OOP) começa hoje (23) uma turnê nacional de Auto da Compadecida, a ópera, montagem para o texto de Ariano Suassuna. A primeira apresentação será em na capital paraense, Belém, passando em seguida por Belo Horizonte, Manaus e Rio de Janeiro.
Escrito por Suassuna em 1955, o texto é considerado uma obra-prima pelo professor de Literatura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Luiz Ricardo Leitão. “Primeiro, porque ele sabe conjugar toda a herança ibérica com os elementos nativos, até de outras matrizes religiosas. O tema e a linguagem de que ele se vale recolhem a influência ibérica mas, ao mesmo tempo, trabalham como ela foi processada aqui, que é o cordel, a fabulação do artista popular nordestino. Esse é o primeiro mérito dele, que vai reunir o popular e a tradição ibérica na mesma obra”, disse Leitão à
Agência Brasil.
A obra se destaca também, segundo o professor da Uerj, por desenvolver características caricatas e criativas de personagens que, não obstante sua parca condição social, caso dos personagens principais Chicó e João Grilo, fazem contraponto com o poder da Igreja, representado pelo bispo e pelo padre da cidade, além da figura do coronel.
“Temos ainda essas representações sendo ludibriadas, dribladas pela astúcia do personagem aparentemente simplório, mas que sabe dar a volta nas figuras hegemônicas dos poderes da cidade. Isso é muito interessante.”
Na avaliação do professor Luiz Ricardo Leitão, o texto retrata a astúcia para sobreviver à desigualdade e à opressão, seja de que tipo for. Além desses aspectos, a obra traz a comédia de erros, que é uma tradição do teatro de costumes brasileiro que vem desde o século 19 e sobre o qual Ariano Suassuna trabalhou.