Resistência é a palavra que define as mulheres palhaças no Brasil, disse nesta terça-feira (12) à Agência Brasil
Karla Concá, uma das fundadoras do grupo As Marias da Graça, cujo trabalho foi iniciado em 1991. Atualmente, o grupo é formado por Karla, Vera Ribeiro, Geni Viegas, Samantha Anciães e Ana Borges.
Naquela época, as palhaças enfrentaram muitos preconceitos, contou Karla. “Mas nós fomos muito resistentes. Eu sempre brinco que a gente acabou não ouvindo as frases preconceituosas e continuamos seguindo em frente. Essa foi a nossa resistência”. A primeira frase que o grupo ouviu quando começou a aparecer foi de um palhaço homem que indagou por que elas não tiravam o nariz, já que eram tão bonitinhas. “Imagina se a gente tivesse atendido a isso. Infelizmente, muitas mulheres atenderam, mas nós não. Hoje em dia, muita coisa mudou. Há muitas palhaças no Brasil inteiro. Temos seminários, palhaças na universidade fazendo mestrado, doutorado. A gente caminhou muito mesmo”. As Marias da Graça foram referência para novos grupos de palhaças que surgiram no país.
Até hoje, porém, as palhaças ouvem barbaridades, relatou Karla. “A diferença é que, hoje, as mulheres que ouvem isso têm outras mulheres para contestar, têm onde pesquisar. Antes, isso não existia”. Alguns homens chegam a exigir que as palhaças retirem cores mais alegres do rosto, como o azul, por exemplo, alegando que maquiagem de palhaço é preto, branco e vermelho. “Isso é algo que incomoda muito a grande maioria dos homens, em especial os palhaços mais antigos”.
Segundo Karla, professores em sala de aula alegam, inclusive, que a pele das palhaças está muito à mostra e indagam por que elas não cobrem mais o corpo, porque isso distrai a atenção. Karla argumentou que se os homens estão olhando para as saias curtas e não para as palhaças, “o problema não é nosso. É de quem está se distraindo nesse lugar”. Até hoje, elas enfrentam esse tipo de comentário. Karla admitiu, contudo, que as coisas melhoraram em termos de informação.