A família Mendes trocou Goiânia pelo Oregon em 1999 e é hoje dona de um império da maconha, com medicamentos, comestíveis, cigarros e até produtos de higiene pessoal à base da erva.
Atualmente, a família também atende pelo sobrenome Redwood e conquistou, além dos sonhos que seus integrantes trouxeram na bagagem, um feito inédito entre brasileiros imigrantes - se tornaram donos da USA Hemp - um império de cannabis que fatura quase US$ 2 milhões.
Corina (44 anos), José (47) e os filhos Rafael (27), Gustavo (25) e Ana Carolina (24), são envolvidos na administração dos negócios da família.
A empresa comercializa medicamentos, comestíveis, cigarros e até produtos de higiene pessoal feitos da erva. Fazem sucesso ainda com a venda de máquinas desenvolvidas por eles próprios para a colheita e extração dos compostos da planta, o que atualmente representa parte significativa dos lucros.
O começo
Até 2008, os pais tinham trabalhos considerados comuns aos imigrantes: construção civil e caminhoneiro, e a esposa trabalhava como faxineira, manicure e decoradora.
Rafael, o filho mais velho, então com 17 anos, interessou-se pelos benefícios da maconha quando cursava o último ano do colégio. Para o trabalho de conclusão, apresentou uma detalhada pesquisa sobre os potenciais benefícios da erva na saúde, na indústria e na economia. Para além da desaprovação dos professores, Rafael conseguiu o feito de plantar, em seus irmãos, a semente da ideia do que, um dia, viria a ser o império familiar de cannabis.
Obcecados, os três adolescentes devoravam livros, revistas, jornais e todo tipo de informação sobre o tema. Rafael, Gustavo e Ana Carolina passaram dois anos nessa toada até que, em 2015, o Oregon legalizou o cultivo da erva. Tiveram então uma conversa séria com os pais. Era apostar tudo e correr o risco de ficarem milionários ou esquecer essa história de cannabis e seguir trabalhando seis dias por semana em trabalhos informais.
Resolveram encarar. Venderam todos os ativos que possuíam, tomaram o máximo de empréstimos, usaram os limites dos cartões de crédito e convenceram amigos e familiares a juntar fundos de investimento para iniciar a plantação. “Todas as pessoas mais velhas a quem perguntávamos eram completamente contra a ideia; os mais jovens adoravam o conceito e alguns concordaram em correr o risco conosco”, conta Gustavo.
Encontraram em Molalla uma fazenda de 76 acres (30,7 hectares) por US$ 2,5 milhões e fecharam negócio no fim de 2015. Ali, montaram uma das primeiras 30 plantações legais do Oregon e uma das 100 primeiras com autorização para o cultivo de THC dos EUA. “Era um mercado novo com pouca ou nenhuma referência”, recorda Corina.
“Foram 200 erros para cada acerto, mas ninguém desistiu, pois ensinamos a eles que o fundo do poço tem mola.” Rafael, Gustavo e Ana Carolina até tentaram conciliar os negócios com os estudos em geologia, química e advocacia, mas desistiram das respectivas formações quando se deram conta de que a USA Hemp era um projeto tão exigente quanto promissor. Bastaram dois anos para decidirem expandir a produção e diversificar o cultivo, agora com foco no cânhamo e em seu potencial medicinal.
Plantaram dez hectares de área de cânhamo – de onde se extrai o óleo de canabidiol (CBD), conhecido por suas características terapêuticas. Viraram uma das fazendas com maior área cultivada de cannabis do mundo. A extração de canabinoides, no entanto, tinha um custo muito elevado para a USA Hemp. Então, lá foram os Mendes pensar juntos em uma solução capaz de baratear o processo. Rafael e Gustavo encontraram em máquinas chinesas de extração de cafeína uma tecnologia parecida com a de que necessitavam para extrair o CBD da flor de cannabis. Foram meses de tentativa e erro até criarem uma máquina que cumpria – e superava – o esperado.
Ainda em 2018, os Mendes toparam mais um desafio: lançar a Redwood Reserves, uma divisão focada na produção de flores de CBD para fumar. Segundo a USA Hemp, Redwood Reserves foi o primeiro cigarro de maconha no mercado. Ana Carolina é a CEO da marca, e uma das mais jovens mulheres executivas na indústria da cannabis, com 23 anos. Ela administra uma empresa de US$ 12 milhões que está presente em mais de 5 mil locais de varejo do país.
Com a operação comercial funcionando de vento em popa, a família dedica mais tempo à filantropia. Em 2021, eles doaram mais de US$ 1 milhão em produtos a pacientes no Brasil e no mundo. Querem dobrar o valor no ano que vem.
A fundação pretende não só oferecer tratamento para pessoas carentes como também doar sementes para associações de pacientes, além de construir um laboratório de análise e controle da produção caseira das instituições e dos pacientes autorizados a plantar.
Laboratório no BrasilCom vendas de mais de US$ 25 milhões desde 2015, a USA Hemp continua a todo vapor na sua missão, negociando parcerias com universidades públicas e privadas no Brasil para o desenvolvimento de pesquisas, cursos e simpósios voltados para os tratamentos medicinais com cannabis.
Pretendem trazer ao Brasil o primeiro laboratório de extração de cânhamo com CO2 da América Latina, com a mais alta tecnologia e as melhores práticas, seguindo as diretrizes da Anvisa. A expectativa de investimento da empresa no Brasil é de US$ 15 milhões, o que acarretará também a geração de pelo menos 300 empregos na área. Fonte: Revista Forbes Brasil.
Leia também a entrevista com Kelly Natividade, 38 anos, que em janeiro de 2019 começou um novo emprego em Miami em uma área em expansão no estado e um pouco controversa: o uso da maconha medicinal na matéria exclusiva do Gazeta News
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