Um pedido militar do Brasil para a compra de mísseis antitanque Javelin no valor de até 100 milhões de dólares (R$ 511 milhões) está parado em Washington há meses devido às preocupações de legisladores dos Estados Unidos quanto ao presidente Jair Bolsonaro, incluindo seus ataques ao sistema eleitoral brasileiro, disseram à agência de notícias Reuters várias fontes americanas.
O processo para adquirir cerca de 220 mísseis foi iniciado em 2019 quando o ex-presidente Donald Trump, aliado de Bolsonaro, ainda estava na Casa Branca. O Departamento de Estado americano aprovou a proposta no final do ano passado, apesar das objeções de algumas autoridades americanas de baixo escalão, segundo duas pessoas familiarizadas com o assunto.
Mas, desde então, o acordo confidencial, que não foi divulgado anteriormente, ficou emperrado em um limbo processual em meio a preocupações crescentes entre os parlamentares democratas com os frequentes questionamentos de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas e a segurança da eleição em outubro no Brasil, disseram as fontes.
O pedido do Brasil pelos mísseis fabricados nos EUA, que ficaram ainda mais famosos por seu uso efetivo pelas forças ucranianas contra blindados russos, acabou travado em um esforço liderado por democratas para enviar uma mensagem a Bolsonaro e aos militares brasileiros. "Está sendo deixado de lado no Capitólio e não vai a lugar nenhum tão cedo" por conta das incertezas sobre Bolsonaro, disse uma fonte que acompanha as negociações.
O entrave sublinha o impacto da retórica do presidente brasileiro e oferece um vislumbre de como o Brasil poderia ficar mais isolado internacionalmente se Bolsonaro seguisse o exemplo de Trump e se recusasse a aceitar uma derrota eleitoral para seu principal rival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aparece em primeiro lugar nas pesquisas.
EUA pedem respeito à democracia
O governo do presidente Joe Biden, ainda em alerta pela invasão do Capitólio por apoiadores de Trump em 6 de janeiro de 2021, ficou incomodado com os comentários de Bolsonaro sobre a eleição e enviados americanos a Brasília pediram cautela.
Em julho, em viagem ao Brasil, o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, pediu respeito à democracia em uma reunião com ministros de todo o continente. Antes disso, no ano passado, em uma visita ao Brasil, o diretor da CIA, William Burns, disse a assessores de Bolsonaro que o presidente deveria parar de minar a confiança no processo eleitoral brasileiro.
Bolsonaro os ignorou. Em vez disso, continuou a questionar a credibilidade do sistema de votação eletrônica e seguiu alegando fraude nas eleições, sem apresentar provas.
Brasil precisa dos mísseis?
O potencial papel pós-eleitoral das Forças Armadas do Brasil também é uma questão em aberto. Bolsonaro pediu que os militares realizem sua própria contagem paralela de votos, dizendo que "o Exército está do nosso lado".
Washington também está preocupado com o retrocesso ambiental sob o governo Bolsonaro,bem como com seu relacionamento amigável com o presidente russo, Vladimir Putin. O presidente brasileiro se recusou a condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Fabricado pelas gigantes da defesa Lockheed Martin Corp e Raytheon Technologies Corp, o Javelin tornou-se uma das armas mais conhecidas do mundo devido ao seu sucesso contra tanques russos na guerra da Ucrânia.
O Brasil não enfrenta ameaças semelhantes, levando a questionamentos sobre por que precisaria de tal poder de fogo, disseram fontes. As Forças Armadas do Brasil se concentram principalmente na segurança de suas fronteiras, que estão entre as mais longas do mundo, e missões internacionais de paz.
"O Brasil não precisa deles", disse um ex-assessor do Congresso americano que tem familiaridade com a questão das armas. Fonte: Deutsche Welle.

