Uma família brasileira da Virgínia teve o filho de 11 anos apreendido pela polícia, e, segundo alegam, acusado injustamente de uso de arma de fogo e agressão corporal. A família diz também ser vítima de intimidação, ameaças e extorsão.
A questão envolve uma discussão com uma família americana que era vizinha e cujos filhos brincavam juntos, mas que em 2023 acabou com brigas, acusações, ordem de restrição e até autoextermínio de um dos membros.
Karla Martins, natural de Natal (RN) e o marido têm três filhos: de 11, 3 e 2 anos de idade. A família mora há 7 anos na Virgínia e possui uma empresa de limpeza residencial. O filho mais velho, Bernardo, está sendo acusado de usar uma arma de fogo e atirar contra um dos colegas (o filho dos vizinhos) após ser ameaçado. Além disso, os pais também foram acusados de negligência na criação dos filhos.
Ao Gazeta News, Martins disse que Bernardo foi apreendido na segunda-feira, 11, e passou por uma audiência nesta terça-feira, 12, onde o juiz decidiria se o manteria apreendido ou não durante o processo. "Ele foi liberado, mas será julgado no dia 10 de abril", contou a mãe.
"Ele falou que rezou muito, teve direito a uma bíblia, foi bem tratado e as crianças que estavam lá o acolheram muito bem. Os agentes elogiaram muito seu comportamento dizendo que ele era muito educado", complementou Martins.
Segundo a família, que está assustada com tudo o que aconteceu, eles não possuem arma de fogo em casa e, na ocasião do incidente, o filho usou uma BB Gun (tipo uma arma de chumbinho). BB Gun são armas projetadas para disparar projéteis sem pólvora e nos EUA não estão incluídas nas leis de controle de armas, sendo muitas vezes vendidas como brinquedos infantis.
"Somos uma família brasileira vivendo nos Estados Unidos, no Estado da Virginia, há 7 anos, buscando apenas melhores oportunidades para nossos filhos. Viemos pedir ajuda de toda a comunidade de imigrantes e aos americanos para que nosso caso seja ouvido e a verdade seja relevada", diz Martins em uma campanha criada no GofundMe para ajudar com custos de advogados e hospital.
Entenda o caso
No dia 06 de junho de 2023, Bernardo, então com 10 anos de idade, estava jogando basquete com alguns amigos em frente da casa, como era de costume, segundo a mãe, quando entraram em discussão. Um deles, que seria o filho do vizinho, pegou uma pá e tentou acertá-lo. Bernardo correu para dentro de casa.
O menino então pegou uma uma AirSoft Gun, atirando em direção ao Bernardo, que conseguiu desviar. No impulso para se defender, segundo a mãe, Bernardo pegou uma BB Gun, atingindo o menino na sobrancelha.
Depois do ocorrido, as famílias se desentenderam e as ameaças começaram, piorando dia após dia, conta Martins, que alega ter tentado conversar com a família para resolver, mas em vão.
Ameaças, ordem de proteção, prisão, suicídio
"Nesse dia, ao saber do ocorrido e que o filho tinha sido ferido, o pai dele saiu de casa extremamente agressivo e começou a gritar e ameaçar o nosso filho. Intervimos e tentamos conversar, porém em vão.
Nos próximos dias, continuamos tentando várias vezes conversar, resolver a situação, mas a família nunca quis, ao invés disso começou a nos intimidar, ameaçar e extorquir", relata.
Segundo ela, a primeira ameaça do pai da criança foi: "eu autorizei meu filho a quebrar a cara do seu e se ele não conseguir eu mesmo irei quebrar ele". Palavras de um homem adulto proferidas ao nosso filho de 10 anos de idade na época. Foi por essa ameaça que, prezando pela segurança do nosso filho, decidimos mudar de casa. No dia da nossa mudança, 29 de julho de 2023, recebemos a surpresa visita dessa família apresentando a segunda ameaça: se não pagássemos a "conta do hospital" eles iriam fazer uma denúncia criminal contra nosso filho e iriam nos denunciar para a imigração."
Instruídos por advogados a não pagar, "porque, de acordo com a lei, esse ato constitui crime de extorsão e ameaça", após comunicá-los sobre o não pagamento, o pai da criança começou a seguir o Bernardo durante o trajeto escolar. "Todas as imagens, vídeos e mensagens com as ameaças e extorsões estão com nossos advogados que estão trabalhando em nossa defesa", disse.
"Com medo e prezando pela segurança da nossa família, fomos a delegacia e tínhamos uma ordem de proteção. Essa ordem de proteção foi descumprida, e mais uma vez, o pai da criança seguiu nosso filho em seu trajeto a escola. A polícia foi até a casa dessa família, e as coisas escalaram para uma situação ainda mais grave, algo que jamais tivemos intenção de ocorrer. Como a ordem de proteção foi descumprida, a polícia o informou que ele seria preso. O pai da criança não aceitou a ordem da polícia e foi levado de forma truculenta, sendo liberado em seguida. Ao retornar para casa, ao que parece, o pai recebeu a ligação da polícia de que ele seria realmente detido e três dias depois ele cometeu suicídIO com sua própria arma de fogo que possuía em casa", detalhou.
"Ficamos completamente assustados com toda a situação e muito tristes por uma pessoa decidir acabar com sua vida dessa forma, porém não tivemos culpa de absolutamente nada. Não somos responsáveis pela possível forma que a polícia o tratou e pela sua decisão de tirar própria vida. Jamais imaginávamos que algo assim iria ocorrer. Foi somente de tantas ameaças reais e perseguições que nos sentimos obrigados a ir a polícia, apenas a fim de preservar a integridade física do nosso filho e da nossa família", alega.
Acordo de paz
Em fevereiro de 2024, houve uma audiência cível a ser julgada a ordem de proteção, se permaneceria ou não, mas o juiz decidiu por encerrá-la. Foi então feito um "acordo de paz" entre as famílias, que não durou muito. Logo depois, a mãe do outro menino entrou com o processo criminal contra Bernardo.
"Mais uma vez tentamos resolver tudo de forma amigável. Um acordo de paz foi selado, assinado por ambas as partes e proferido pelo juiz. Finalmente achavamos que um ponto final seria colocado e poderíamos seguir em paz. Nosso foco seria cuidar da saúde mental do nosso filho, agora com 11 anos de idade, se sentindo culpado pela morte de uma pessoa, com diversos gatilhos e apresentando sintomas de estresse pós traumático. Hoje nosso filho é acompanhado por duas terapeutas após episódios de pesadelos e terror noturno, fortes crises de pânico, medo de sair de casa, desconfiança de tudo e de todos", conta.
Agora sua esposa quer encontrar um culpado para o suicídio do marido alegando que a morte foi causada pelos policiais e também acusa nossa família por isso, porque pedimos uma ordem de proteção contra eles. Além disso, após o acordo de paz, ela abriu um processo criminal contra nosso filho alegando que ele atirou com uma arma de fogo, que ele é um marginal, delinquente e uma ameaça para a sociedade.
Uso de arma de fogo x BB Gun
Não imaginávamos que a mãe do garoto seria capaz de ir além do que já foi, então fomos surpreendidos com uma ligação da penitenciária juvenil no dia 6 de março de 2024 alegando que nosso filho seria preso e responderia por um crime por usar uma arma de fogo. NUNCA TIVEMOS, POSSUÍMOS UMA ARMA DE FOGO OU TIVEMOS PORTE DE ARMA FOGO. NOSSO FILHO JAMAIS TOCOU OU VIU AO VIVO UMA ARMA DE FOGO.
Possuímos todos os vídeos da briga, onde mostra os reais fatos, as mensagens de ameaça e extorsão e tudo que possa provar que nada disso que está sendo alegado aconteceu de fato.
Para nossa surpresa ainda maior, sábado, 09 de março de 2024, pela manhã recebemos a visita de policiais em nossa casa com uma intimação alegando que nós fazemos maus tratos e somos negligentes com nossos filhos, mais uma tentativa de destruir nossa família e tentar nos tirar tudo que temos.
Custo financeiro e mental
"Estamos muito preocupados com os transtornos que isso pode causar e muito tementes pela sua vida. O prejuízo não é só financeiro, mas também mental de toda nossa família. Nada será capaz de apagar esses fatos na cabeça de uma criança. As contas com advogados, contas de hospital pelas vezes que nosso filho precisou de atendimento de emergência devido a uma forte crise de pânico em que ele chegou a ter febre de 41°C, contas com terapeutas estão cada vez crescendo mais e não sabemos mais o que fazer."
"Nosso último recurso é pedir ajuda para a comunidade de imigrantes, americanos para que nos suporte de toda forma possível, seja nos ajudando a custear os honorários advocatícios, seja contribuindo para que consigamos pagar todas as outras contas, seja compartilhando para que nosso caso seja divulgado e que nós possamos ser ouvidos, seja apenas nos colocando em suas orações para que toda a verdade prevaleça e que possamos seguir nossa vida em paz, sem medo por nós e pelos nossos filhos", pede Martins.

