Os especialistas se perguntam e alertam: a Flórida é o caso-teste da nação para a chamada imunidade coletiva da COVID-19? A Flórida pode voltar à vida normal sem conter a disseminação do novo coronavírus? Com mais casos e hospitalizações pela doença nas últimas semanas e medidas restritivas sendo retiradas, as dúvidas sobre o futuro da pandemia na Flórida preocupam. Sem contar a aproximação do inverno que pode contribuir para maior circulação do vírus.
As taxas de positividade na Flórida e em vários condados voltaram a ficar acima de 8%, após uma média próxima a 5% em outubro. As hospitalizações por causa da COVID-19 aumentaram 25% nas últimas duas semanas e mais de 35% nos últimos 30 dias, de acordo com o secretário interino da Agency for Health Care Administration Shevaun L. Harris ao jornal News4Jax.
O aumento nas hospitalizações ocorre à medida que o número de casos de COVID-19 no estado continua a subir. Na quarta-feira, 10, o Departamento de Saúde da Flórida relatou um total de 852.174 casos de COVID-19 na Flórida, um aumento de 4.316 casos em relação à contagem de terça-feira. Mortes pela doença somam 17.248 (residentes) e 212 (não-residentes). Os condados de Miami-Dade, Palm Beach e Broward encabeçam a lista, seguidos por Hillsborough e Pinellas.
O enfermeiro Leonard M. Vuicsin, 53 anos, trabalha no Jackson Memorial Hospital e disse ao Gazeta News que as internações recentes estão refletindo a média de positividade dos casos que está aumentando no estado. "Estamos preparados para a possibilidade de uma nova onda de Covid para fim de Novembro ou Dezembro", afirmou.
Aos poucos, o funcionamento dos locais vai se normalizando. As aulas presenciais foram retomadas na maior parte das escolas, quase todas as partes do comércio - incluindo restaurantes e clubes -já voltaram a funcionar - com algumas restrições como uso de máscaras e distanciamento social. Praias e parques também estão liberados es governos locais já não podem impor multas pela falta de máscara.
Imunidade de rebanhoO governador Ron DeSantis segue uma política proposta pela Casa Branca da chamada "imunidade de rebanho" ou imunidade coletiva - que é permitir que o vírus se espalhe livremente até que a maioria da população seja infectada e, no caso, adquira anticorpos suficientes para ficar imune e conter a propagação do vírus.
Imunidade de rebanho é o termo científico para o que ocorre quando uma proporção grande o suficiente de uma população tem imunidade suficiente para retardar a propagação de um vírus porque menos pessoas podem ser infectadas. A forma mais segura de obter imunidade coletiva é vacinar cerca de 70% da população. Também pode ocorrer "naturalmente", se um número suficiente de pessoas sobreviver à infecção para desenvolver imunidade duradoura. Ou, como sugerem Scott Atlas, o polêmico consultor atual do coronavírus da Casa Branca, e DeSantis, a imunidade de rebanho pode ser alcançada por meio de uma combinação de ambos.
No entanto, não se tem resultados concretos de que essa técnica funcione e seja a mais segura para a população nessa pandemia. E como ainda não há vacina pronta, o número de mortes pode aumentar até que se alcance o patamar almejado da imunização coletiva, apontam especialistas.
Essa abordagem do governador em adotar a imunidade de rebanho tem sido bastante criticada. "Espero sinceramente que a Flórida não siga esse caminho. É bastante claro que uma pequena minoria de pessoas já foi infectada neste momento. Se os líderes políticos decidirem seguir esse caminho e encorajar as pessoas a se infectarem ... um número extraordinário de pessoas morrerá desta doença antes que a imunidade seja alcançada na população", disse Tom Inglesby, diretor do Centro Johns Hopkins para Segurança de Saúde ao Miami Herald.
De acordo com cálculo de infectologistas, o limite mínimo para obter imunidade de rebanho em uma população é de cerca de 60%. Não se sabe exatamente quantos floridianos foram infectados até o momento. Dos 852.174 casos de COVID-19 relatados na Flórida, especialistas em saúde pública dizem que certamente é uma contagem subestimada - a questão é quanto. A Flórida tem 22 milhões de habitantes e as infecções relatadas representam cerca de 3,8% da população. Modelos matemáticos avançados colocam o número estimado de infecções totais perto de 4,2 milhões, o que seria 19%.
Enquanto isso, o uso de máscara e o distanciamento social seguem mais eficazes.