Ao longo da última década, a tecnologia se tornou uma das indústrias mais lucrativas dos Estados Unidos. Com uma concentração maior de novas indústrias de tecnologia nos estados do sul do país, segundo o site SmartAssets, e impulsionadas pela pandemia, Orlando, Miami e Tampa estão a um passo de se tornarem novos polos globais.
Isso porque, em 2020, a COVID-19 trouxe mais oportunidades de trabalho remoto, bem como um êxodo de investidores do setor tecnológico para fora do polo na Califórnia - o estado com altas taxas de transmissão e mortes pelo coronavírus desde o início da pandemia. Assim, muitos profissionais e empresas estão considerando se mudar para a Flórida.
Gerente de aplicações e infraestrutura de TI no Department of Homeland Security em Orlando, o carioca Wagner Delfino, 38 anos, já esteve no Vale do Silício e confirma essa migração de empresas e profissionais.
"O aumento é devido às políticas do governador incentivando empresas a migrarem pra Flórida, não só de tecnologia. Muitas empresas de tecnologia estão saindo do Vale do silício devido ao alto custo de vida. Já trabalhei lá e os executivos falavam isso", afirma.
E acrescenta que Orlando é uma cidade em plena expansão, tanto tecnológica, quanto em outras áreas. "Orlando conseguiu crescer durante a pandemia. A Universal Orlando tem um parque na planta e hotéis na planta para serem feitos a cada ano. Orlando com todo turismo e o excelente custo de vida é o que atrai. Não saio de Orlando por nada", completa.
A área metropolitana de Orlando-Kissimmee-Sanford ficou em número 1 com enorme crescimento na última década, não menos do que o desenvolvimento do "Corredor de alta tecnologia", uma área formidável de ensino superior, instituições privadas de pesquisa e empresas de alta tecnologia que se estendem ao longo Interestadual 4.
Empresas escolhem a FlóridaMais empresas de tecnologia estão escolhendo a Flórida. É o caso da Streamlytics, que está se mudando para Miami depois que uma série de tweets entre o prefeito Francis Suarez e empresários de tecnologia despertou um interesse maior em trazer empresas inovadoras para a cidade.
"A qualidade de vida é ótima em Miami, mas fora disso, acho que o ecossistema empresarial é realmente impressionante", disse Angela Benton, fundadora e CEO da Streamlytics.
O interesse recente de novas empresas foi tanto que o prefeito disse que em 2021 nomeará um diretor de tecnologia para ajudar na demanda. "Acordo todas as manhãs pensando em como nossa cidade pode ser mais resistente", afirmou Suarez. "E a maneira de sermos mais resilientes para lidar com pandemias e distúrbios civis é garantir que tenhamos uma economia que seja a economia do amanhã."
Em outubro, a gigante financeira global Blackstone anunciou que abriria um escritório de tecnologia na cidade. Desde então, mais empresas anunciaram a mudança. Outra é a Founders Fund, um dos grupos mais influentes em tecnologia, que também está transferindo muitos de seus executivos para Miami influenciados, em parte, pelo incentivo do prefeito nas redes sociais e por outras empresas que vieram.
Área de TampaGerente de projetos na área de TI da Opentext em Land O' Lakes, na região de Tampa, o paulista Wagner Rodrigues, 40, percebe um movimento ainda lento de profissionais da área de tecnologia, principalmente brasileiros, na Flórida. "Talvez pelo fato de eu não estar muito envolvido nas outras regiões, como Miami e Orlando, não percebo esse aumento na área. Vejo muitas pessoas querendo se mudar do Brasil para Tampa, mas não na área de TI", diz. Para Rodrigues, as cidades da Flórida ainda não estão em um nível comparável com as cidades do Vale do Silício na Califórnia.
É preciso salientar que esse impulso na área tecnológica acontece há anos no estado. Organizações como Emerge Americas, Knight Foundation, Refresh Miami e Black Tech Week vêm construindo a estrutura de tecnologia local há mais de uma década, além de todas as faculdades e universidades que alimentam startups locais.
Investidor em startups pela Anjos do Brasil monta núcleo na FL
CEO da Rocket Aceleradora no Brasil e CEO da America Startups nos EUA, Michael Meirelles, 44 anos, é de Salvador (BA) e mora em Orlando. Palestrante de inovação e tecnologia, mentor e investidor de startups pela Anjos do Brasil, Meirelles conta que está montando um núcleo na Flórida e espera ver mais profissionais brasileiros atuando.
Para ele, além do custo de vida, a facilidade para abrir e gerir um negócio na Flórida são pontos que atraem. "O clima, a diversidade, o mercado de entretenimento, a segurança, e a forma como o estado da Flórida conduz as empresas criadas: sem dupla taxação e em alguns casos até a isenção de impostos para alguns modelos de negócios, além de não haver burocracia para abertura de uma nova empresa no estado. O que chama atenção também é o custo de vida, bem menor do que a Califórnia ou New York", opina.
E completa sobre a participação de brasileiros na área de tecnologia na Flórida. "Um dos grandes entraves para essa participação de brasileiros acontecer é a validação do diploma universitário brasileiro que torna esse movimento imigratório lento e custoso. A participação pode acontecer através de um visto de trabalho solicitado por uma empresa americana ou até mesmo um visto de habilidades com interesse do governo americano em ter esse profissional em seu país mesmo não tendo uma oferta de trabalho. A procura por esses vistos tem sido intensa pelos profissionais brasileiros e tenho visto muito sucesso na maioria das petições feitas à imigração americana", finaliza.