Como um sistema projetado para proteger crianças manteve uma menina de 13 anos em detenção por um crime que ela não cometeu? Como a escola e a polícia falharam com a punição de uma adolescente inocente?
Dois meses depois de ser presa e passar quase duas semanas em um centro de detenção juvenil, as acusações contra Nia Whims, de 13 anos, foram retiradas. Aluna da sétima série, ela foi acusada de usar o Instagram para fazer uma ameaça por escrito de matar um professor e uma colega de classe de 12 anos e explodir sua escola em novembro do ano passado.
Porém, só depois que a polícia de Pembroke Pines investigou mais a fundo o caso, descobriu que era a menina de 12 anos citada na ameaça que se passou por Whims, criando contas falsas de Instagram e e-mail em seu nome.
Mas a grande questão é: Como um sistema de justiça projetado para proteger crianças falhou em proteger uma criança que insistia em sua inocência?
O roubo de identidade era parte de um problema de bullying que a escola não abordou, alegam Whims e sua mãe, Lezlie-Ann Davis.
“Alguém está intimidando você”, disse Jaime Aird, advogado criminal da família, “e então a escola e a polícia continuam com o bullying. “Não é apenas frustrante, é mais profundo. É emocional.”
A família diz que está traumatizada. A adolescente está passando por aconselhamento por causa da experiência, incluindo a parte em que alguém no centro de detenção juvenil ameaçou esfaqueá-la por causa de um pedaço de chocolate. Um processo foi aberto em 15 de fevereiro em nome de Whims e sua mãe contra a Renaissance Charter School e a Meta, empresa controladora do Instagram. A polícia de Pembroke Pines também será incluída como réu, de acordo com Marwan Porter, advogado civil da família.
A polícia admite que Whims não enviou as mensagens ameaçadoras, mas dizem que é impreciso classificá-la como uma prisão injusta. A prisão foi justificada, segundo a polícia, porque tanto a adolescente quanto a mãe optaram por “exercer seus direitos e não cooperar com os investigadores”, segundo o capitão Adam Feiner, porta-voz da polícia de Pembroke Pines.
Mesmo assim, o advogado disse que não havia justificativa para colocar sua cliente algemada e se a polícia tivesse feito uma investigação adequada, isso não teria acontecido.
Pressão
A polícia pode ter se sentido pressionada a fazer uma prisão porque o caso envolvia ameaças violentas contra uma escola e estudantes, de acordo com Phillip Sweeting, vice-chefe aposentado do Departamento de Polícia de Boca Raton que não estava envolvido no caso.
“Externamente, eles não estão sob pressão, mas internamente provavelmente estão por várias razões, até mesmo por razões políticas, até certo ponto”, ressaltou.
Entenda o caso
Em 17 de novembro, Davis retirou a filha da Renaissance porque ela disse que um grupo de estudantes, incluindo a menina de 12 anos, estavam intimidando-a. Em 18 de novembro, as ameaças do Instagram foram enviadas, dizendo que ações violentas seriam realizadas na escola no dia seguinte. Em 19 de novembro, a escola entrou em bloqueio parcial (código amarelo), enquanto a polícia investigava a ameaça.
Depois de certificar-se de que a escola estava segura e que não havia ameaça iminente, a polícia entrevistou a garota de 12 anos, verdadeira responsável pelo envio das mensagens. Eles também consultaram um administrador da escola que disse que Whims tinha “vários problemas disciplinares”, de acordo com o relatório da polícia. Davis negou essa caracterização e disse que os únicos problemas de sua filha foram por causa de suas respostas ao bullying.
Na mesma tarde, a polícia foi à casa da adolescente, que negou ter enviado as mensagens ameaçadoras. Orientada pelo advogado, a menor e a família não falaram mais nada com a polícia.
Mesmo assim, a polícia pegou o iPad da adolescente, que admitiu usá-lo. Eles então algemaram e prenderam a adolescente.
Whims passou mais tempo que o necessário no centro de detenção, dizem seus advogados atuais. Ela foi detida seis dias antes do Dia de Ação de Graças, e quando um juiz ordenou uma avaliação psiquiátrica, uma exigência normal, o condado estava com falta de pessoal.
A polícia não acha que errou ao fazer a prisão. Eles disseram que era justificado com base em sua investigação e na falta de cooperação da menor e da família. Fonte: Sun Sentinel.