Quantas vezes seu filho repetiu as mesmas reclamações que você fazia quando criança?
Aposto meu dedo mindinho que a frase mais ouvida por quem tem filhos em idade escolar nas semanas de provas é: “Para que tenho de estudar se nunca vou precisar disso na vida?”.
Por aqui, não foi diferente. Minha filha mais nova reclamou que está estudando a chegada dos portugueses ao Brasil repetidas vezes nos últimos dois anos. Disse que já entendeu. Em tom de reivindicação, contou o que tinha aprendido até então e, enquanto falava, deixou claro quais eram suas impressões sobre o evento.
Articulada, comentou sobre a dureza do período para os que já moravam aqui, do quanto é injusto nomear essa chegada como uma descoberta. Falou em invasão, exploração, liberdade individual...
Quando o protesto contra as provas começou, por um minuto pensei que os anos passam, mas continuamos agindo de maneira igual. Tenho a nítida lembrança de dizer exatamente a mesma frase para minha mãe. Porém, enquanto ouvia a Sofia, ficou claro que, em muitas coisas, as crianças de hoje não se parecem com as que viveram a década de 1980.
Em meus 9 anos (idade atual de Sofia), Pedro Álvares Cabral parecia outro. É certo que estudei em uma escola tradicional, que não nos permitia questionar. Ainda assim, não me lembro de primos ou amigos que frequentavam outras instituições comentarem a história para além do que estava escrita nos livros.
Hoje, os livros são outros e as escolas também mudaram. Parece só uma alteração de tom sobre um evento histórico. Mas é muito mais do que isso. Falar sobre nosso passado sem florear, não ter medo de olhar para os caminhos tortos, manter a pulga – sempre – atrás da orelha ao ouvir os discursos oficiais é um avanço que não tem tamanho.
Penso que é esse aprendizado que essa geração vai usar em toda a vida (todos os dias, inclusive). É esse jeito novo de estudar, discutindo, questionando, repensando, apropriando-se do que é produzido em sala de aula que vai fazê-la caminhar para uma mudança realmente grande. A reclamação miúda pode até se repetir. A semana de prova pode até continuar sendo chata, mas a verdade é que já não somos os mesmos.