Maia, F. Paula S. Doutora em Estudos Linguísticos Associada da AOTP
No campo da linguagem, compreendendo-a como toda forma usada para a comunicação, é comum o pensamento (inconsciente ou consciente?) de que existem línguas, linguagens, falares e costumes “melhores” e outros “piores”, e que estes últimos devem ser combatidos. Consequentemente, esse tipo de pensamento propõe que os falares “valorizados” devem ser incentivados a se expandirem. As gírias, formas de expressões próprias de determinados grupos, podem ser entendidas de forma positiva ou negativa. Pensemos na comparação entre as gírias utilizadas por jovens, por vezes reprovadas por uma parcela da população, ao passo que as gírias profissionais (como o “economês”, o “matematiquês”, o “geografiquês”, o “cybernês” - criando aqui alguns neologismos só para nomear algumas áreas de suas ocorrências) podem ser valorizadas como sinal de pertencimento.
Como esse aspecto de valor se dá no campo do ensino das variantes da Língua Portuguesa? Como sabemos, são vários os países que falam o Português, isto porque já existiam diversas línguas, falares e culturas nos lugares onde Portugal se fez colonizador. Hoje, podemos perceber lugares como o Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Angola, Guiné Bissau, Timor Leste, Macau, dentre outros, uma grande diversidade de falares portugueses, pois cada local que recebia o Português já possuía a sua história linguística. Logo, a questão é: Que Português ensinar-aprender?
A resposta nos vem das duras lições do passado. Eleger uma variante da Língua Portuguesa como a “melhor” sem dúvida alguma significa contribuir, ou até mesmo exigir, que as outras sejam sufocadas, eliminadas. Portanto, penso que a solução a esta questão crucial está em ensinar-aprender o Português a que se tem acesso, mas com os olhos abertos para o possível contato com outras variantes, sem a eleição de uma ou outra como “melhor” ou “pior”, como “superior” ou “inferior”.
Alguns podem dizer: “Fácil, quando o docente ensina em um lugar onde é falado o Português!”. Sem dúvida é muito mais fácil, pois os aprendizes saem das aulas e continuam a ouvir, a ler, a pensar e a ter que falar em português.
Entretanto, isso também é possível em lugares onde nossa língua não é a predominante, por meio da exposição em seus lares a músicas, filmes, livros, revistas, enfim, a gêneros textuais diversos.
Finalizando estas breves reflexões, é importantíssima ainda a compreensão de que, quanto maior a exposição às variedades linguísticas, aos falares, e às diversidades culturais, mais nos enriqueceremos como pessoas, como seres humanos; mas, para isso, é preciso que abandonemos a crença de que existem falares “melhores” ou “piores”.
Afirmo que o contato que enriquece só é possível quando compreendemos que existem diferenças (linguísticas e culturais), as quais devem ser respeitadas. Respeitar essas diferenças não é perder a própria identidade, é antes de tudo mantê-la e somá-la à do outro. A isto chamo “interação” ou ‘integração”.
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