O “panelaço” que ocorreu no domingo, dia 8, paralelamente ao pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, ainda está sendo ecoado nas redes sociais, com definições e generalizações como “a elite branca”, o “panelaço da barriga cheia”, chamando aqueles que protestaram, em regiões nobres de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, de preconceituosos, contra “índios, negros e pobres”... A lista é grande e a mistura de ideologias, conceitos, ironias e preconceitos vão para todo o lado.
O mesmo tem sido dito sobre brasileiros no exterior que irão sair às ruas, no domingo, pelo impeachment de Dilma. “Os que vivem fora, não podem ser levados a sério... Afinal, vivem no país do ‘imperialismo’”.
Há o brasileiro que diz que tem a panela vazia, há aqueles que têm a panela cheia e lutam pelos que têm a panela vazia e há, sim, os que têm a panela vazia, ou talvez um pouco menos vazia. O jornalista Ricardo Noblat, em seu blog no jornal “O Globo”, escreveu algo que vai bem de acordo com as críticas ao panelaço dessa semana:
“Rico não pode se manifestar. A não ser por escrito. Ou dentro de casa. Ou em pequenas reuniões com amigos. Sem fazer alarde. Caso resolva aderir a uma manifestação de massa, saiba que a desqualificará. Seu lugar não é na rua protestando”, escreveu, em texto publicado no dia 10. “Se for visto na rua protestando poderá ser acusado pelo PT de ser golpista. Certamente o será. Não há nenhum dispositivo na Constituição que proíba o rico de pensar e de dizer o que pensa, mas ele que suporte as consequências”.
Em outro trecho, ele continua: “A eles (os ricos e brancos) deve apenas ser assegurado o direito de apoiar o PT. De preferência sem condições. (...) Bem, se além de rico e de branco o cidadão morar em São Paulo, aí qualquer margem de tolerância com ele deve ser abolida. Dilma e o PT perderam feio em São Paulo. O candidato de Lula ao governo colheu ali uma votação humilhante. O que venha de lá, portanto, não deve ser levado em consideração. Antigamente foi a saúva. Agora, o paulista rico e branco é a praga que mais infelicita o Brasil”.
“Quem sabe o Congresso não aprova alguma lei que desconsidere o voto de São Paulo na hora de se contar os votos para presidente da República? O radicalismo da proposta talvez possa ser suavizado com a restrição ao voto apenas nos bairros povoados por uma maioria branca, rica e golpista”, continuou o colunista.
Com esse texto, o autor demonstra, assim como todas as generalizações, que não há como interpretar o panelaço de outra forma que não seja a linha de comunicação entre o governo e todas as partes da sociedade.

