Um relatório do Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA, sigla em inglês), publicado nesta quarta-feira(6), diz que o trabalho doméstico é atualmente um dos setores que mais leva mulheres a migrarem no mundo.
Segundo o documento, as mulheres já são metade dos 95 milhões de imigrantes.
A maioria delas sai de países da Ásia, da América Latina, do Caribe e da África. Os destinos mais comuns são a Europa, os Estados Unidos, e os países do Golfo e da Ásia industrializada.
A falta de uma legislação trabalhistas para o setor doméstico e de condições de organização fazem com que muitas se submetam a regimes de “escravidão virtual”. Elas dependem apenas do empregador para itens básicos, como comida, casa e salário.
Papel ignorado
De acordo com o Fundo da ONU, os governos continuam ignorando o papel das mulheres imigrantes, apesar de elas serem responsáveis pela geração de bilhões de dólares por ano. O levantamento afirma que as imigrantes mulheres tendem a enviar para seus países de origem remessas muito maiores do que os homens, em proporção ao salário.
“Esse relatório chama atenção dos governos e indivíduos para que reconheçam o valor da contribuição das mulheres imigrantes e para que promovam o respeito aos seus direitos humanos”, disse a diretora executiva da UNFPA, Thoraya Ahmed Obaid.
Muitas trabalhadoras domésticas acabam tomando conta de duas casas, a de seus empregadores e a sua própria. Mulheres gastam 70% de seu tempo não-remunerado cuidando de membros da família – uma contribuição à economia global que permanece ignorada
Consequências
Um dos efeitos nocivos da migração, segundo a ONU, é a falta de profissionais qualificados em países em desenvolvimento. O êxodo anual de cerca de 20 mil médicos e enfermeiras, em média, da África tem agravado a situação do continente, que sofre com a epidemia da Aids.
Para essas mulheres com maior qualificação, diz o relatório, "a migração abre portas para um novo mundo de mais igualdade e alívio da opressão e discriminação que limitam sua liberdade e seu potencial".
O setor de enfermagem é emblemático. Em 2003, cerca de 85% das enfermeiras filipinas trabalhavam no exterior. No mesmo ano, cerca de 58% e 53% das vagas para enfermeiras na Jamaica e em Trinidad e Tobago, respectivamente, permaneciam abertas.
À exceção do Oriente Médio, onde "normas sócio-culturais" continuam a limitar a mobilidade feminina, o fluxo de mulheres já supera o dos homens em todas as regiões do mundo.
Brasileiras
Muitas brasileiras deixam a terra natal para trabalhar como prostitutas ou empregadas domésticas em países como Itália, Espanha e Estados Unidos.
Estima-se que cerca de 70 mil brasileiras são prostitutas no exterior. Muitas viajam por meio do tráfico de pessoas, em condições de alto risco e situação irregular.
O Brasil é considerado como um país de alto índice de tráfico de pessoas, ladeado apenas pela Colômbia na América do Sul.
O relatório chama atenção para uma "corrente global de cuidado", originada quando uma mãe deixa seu filho com parentes e emigra em busca de melhores condições de trabalho.
"Muitas trabalhadoras domésticas acabam tomando conta de duas casas, a de seus empregadores e a sua própria. Mulheres gastam 70% de seu tempo não-remunerado cuidando de membros da família – uma contribuição à economia global que permanece ignorada", diz o documento.
O relatório foi divulgado na véspera do encontro sobre Migração Internacional e Desenvolvimento, em Nova York, um dos primeiros a envolver governos na discussão dos benefícios e desafios causados pelo fluxo de pessoas no mundo. O evento será nos dias 14 e 15 deste mês.