Ele domina 18 estilos de artes marciais, já lutou contra multidões e é simplesmente o samurai mais famoso do mundo, mas é só ver uma inofensiva bola no gramado que mantém a distância. Tsunemori Kaminoda, mestre na espada japonesa, chegou ao Rio nesta semana provando que até o mais corajoso dos atletas, capaz de derrubar qualquer faixa preta, pode ficar acuado quando o assunto é futebol.
- O mais perto que eu chego da bola é assistindo aos jogos pela televisão. Tenho medo de me lesionar - surpreende o bem-humorado samurai, admitindo ser fã do brasileiro Zico, técnico da seleção japonesa, a quem foi apresentado há três anos, durante uma partida no Japão.
- Prometi a ele que viria ao Brasil e cá estou. Não há esporte melhor ou pior do que outro. Gosto de conhecer todos os tipos para aperfeiçoar minha técnica - declara o samurai, do alto dos seus 78 anos e pouco mais de 1,50 de altura.
E por falar em baixinhos, será que Romário adiaria ainda mais sua aposentadoria se soubesse que o sensei treina exaustivamente desde os 7 anos até hoje, completando 60 horas semanais de exercícios, inclusive aos sábados e domingos? A lista inclui o kenjutsu (luta com espada), jojutsu (com bastão), iaijutsu (arte de desembainhar a espada contra um oponente imaginário), kendo (esgrima japonesa), hoyojutsu (uso de cordas para imobilização de inimigos), kyudo (arco e flecha) e naguinata (alabarda - lança com uma faca na ponta).
- Dedicação, técnica e espírito são fundamentais para quem quer seguir o kobudo (caminho marcial). Não posso me dar ao luxo de dizer que estou cansado. Nunca faltei a um treino na minha vida. Eu ficaria doente se parasse. Nem me lembro da última vez em que estive no hospital - afirma Kaminoda, explicando o que significa ser um samurai na atualidade:
- Dos séculos VIII ao XIX, durante a época feudal do Japão, eles eram os guerreiros que defendiam seus castelos. Adaptamos a filosofia das artes marciais aos dias modernos. Meu objetivo não é vencer competições nem guerrear, e sim ser um campeão para a vida, utilizando o conhecimento no meu dia-a-dia - destaca o mestre, em entrevista exclusiva ao GLOBO ONLINE, traduzida pelo sensei brasileiro Jorge Kishikawa, presidente do Instituto Niten, que organizou esta que é a segunda vinda do samurai ao Brasil (a primeira, em 2002).
Fundado em 1993, o instituto conta com mais de 20 unidades espalhadas pelas cinco regiões do país. Mais do que uma academia de artes marciais, é um centro de estudos da espada samurai e da cultura e filosofia japonesa. O principal motivo da visita de Kaminoda é dar aulas aos alunos do Rio, São Paulo, Brasília e Minas Gerais, até o próximo dia 31.
Argentina troca futebol pelo jojutsu com 'muito gosto'
Quem também veio de longe, para participar dos treinamentos com o samurai, foi uma intrigante argentina, a assistente social Marina Gonzalez, de 36 anos. Essa, quem diria, faz cara feia ao falar de futebol. Ela não perde a chance de criticar o maior jogador da história de seu país e, no final, diz com orgulho que é a única mulher na Argentina a praticar o jojutsu, há sete meses.
- Não gosto de futebol porque é uma máquina que envolve muito dinheiro e o fortalecimento do espírito fica em segundo plano. O Maradona, coitado, é um pobre de espírito e parece ter uma vida triste - disparou a argentina, antes de treinar na Praia de Ipanema, na manhã desta quarta-feira.
O espírito, a que ela se refere, é palavra constante no discurso do samurai. Ele explica que o budo, enquanto filosofia das artes marciais, é responsável por elevar a alma e ajudar o praticante a ter qualidade de vida, sem dar tanta ênfase à importância da vitória em detrimento da derrota.
- Desenvolvi força, propulsão e coordenação motora jogando futebol, mas foi com as artes marciais que consegui elevar minha concentração e encontrar meu equilíbrio mental - conta o engenheiro carioca Marcos Carvalho, de 55 anos, um dos 100 mil alunos que, segundo o mestre Kaminoda, já passaram por seu treinamento.
Mais informações sobre a visita do samurai e o Instituto Niten podem ser obtidas no site www.niten.org.br .