O que é ser bom? É tratar os outros com carinho, ajudá-los quando precisam, preocupar-se. É considerar suas necessidades, inclui-los; é confiar.
Nem sempre temos os resultados esperados. Muitas vezes, os outros nos decepcionam, e nos deixam com a sensação de sermos os errados da história. Nos tornamos amargos e resolvemos que “não vale a pena”, nos sentimos “bobos” e daí em diante tendemos a não ser “tão bons” como antes. Mas, antes de chegar à conclusão que os outros são “maus”, vamos clarear um pouco esse coração “bom”.
Em primeiro lugar, a bondade deve ser espontânea e verdadeira. Não pode estar vinculada ao medo de não sermos amados, porque então estragamos sua essência.
Isso nos leva, em segundo lugar, a reconhecer que é irreal uma pessoa gostar de todo mundo. Ser bons não pode ser uma imposição moral, seria hipocrisia.
Em terceiro lugar, ser bom não é dizer sempre sim, servir e agradar. Isso os escravos o fazem, indivíduos livres não dizem sempre sim.
Para finalizar, muitas vezes, ser “bom” é uma forma de se sentir superior e importante. Mas ser bom não é ser “eleitos”.
Nada de tudo isso tem a ver com a bondade verdadeira, e e aí talvez iremos concluir que ela não acontece tão frequentemente como gostaríamos.
Em primeiro lugar, a verdadeira bondade inclui o fazedor e o recebedor. Fazer bem ao outro e mal a nós mesmos, afora as cenas heróicas de filmes e lendas, é estúpido. Masoquismo não combina com bondade. Nesse caso, o que acontece não é da pessoa ser “incrivelmente boa”, mas dela ter uma autoestima tão baixa que não ousa levantar sua voz.
A bondade que faz bem ao fazedor e ao recebedor é aquela que faz crescer os dois. Mesmo quando implica algum sacrifício, pode estar contribuindo com o processo de individuação tanto do fazedor quanto do recebedor. Ela deve estimular a autonomia e autoestima.
Em segundo lugar, a bondade deve ser eficaz e objetiva. Se quisermos de fato ajudar aos outros, precisamos prestar atenção na pessoa e no que ela precisa. Nem todo mundo “merece” ajuda. Às vezes, são eles que precisam dar o primeiro passo. Nesse caso, ajudamos dizendo “não”. Ser bom é um ato de força moral não uma fraqueza. Há situações, entretanto, em que acontece o contrário. É preciso dar aquela mão inicial para que a pessoa se levante e tenha forças para prosseguir. Aí, ser bom é atender ao pedido de emergência.
Outras vezes, acontece uma coisa desse tipo: a pessoa quer ajudar alguém de quem gosta. Investe nela seu tempo, energias e dinheiro, às vezes, durante anos. Se o outro não sair do lugar, porém, é preciso reavaliar a situação. Ser bons é saber humildemente aceitar os limites. Assim como não podemos esperar que uma criança da primeira série resolva uma equação de trigonometria, há pessoas que ainda não têm as condições para realizar algumas etapas da vida. Com essas pessoas, ser bom significa reconhecer o que elas podem fazer e ajudá-las dentro de suas condições, sem desperdiçar energias porque ser bom é ser sábio.
Muitas vezes, o que possuímos, em termos materiais e psicológicos, foi o resultado de um enorme trabalho. Dividir nossos ganhos e conquistas com os outros é bonito, mas deve ser feito sem nos desvalorizar. Assim, ser bom é ter o coração forte.
Precisamos ser sinceros e realistas. Existem pessoas no mundo precisando de ajuda verdadeira. As nossas energias, como as delas, são limitadas: usemo-as com responsabilidade para, efetivamente, aumentar o bem e não as bobagens.

