“Não tem palavras. A gente só tem a vida e Deus”, resume o pesquisador da UFRJ, João Paulo Machado Torres, um dos 45 sobreviventes do incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz.
De acordo com informações do jornal “O Globo”, o projeto que ele coordenava, o Pinguins e Skuas, um investimento de US$ 500 mil, foi perdido, assim como as outras pesquisas na base brasileira.
Torres, que estava acordado quando o fogo começou, ainda conseguiu chegar à biblioteca e salvar um laptop, mas não alcançou o alojamento, que os pesquisadores chamam de camarote. Alguns deles dormiam no momento que o incêndio iniciou e, a maioria dos colegas, teve tempo somente de pegar seus casacos para enfrentar o frio de cinco graus negativos.
Torres relata que o alarme não soou, mas ele não acredita em falha do equipamento, que deve ter sido destruído no incêndio antes mesmo de poder funcionar. Torres estava na Antártica desde o início de fevereiro e voltaria ao Brasil no dia 11 de março.
O suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o sargento Roberto Lopes dos Santos perderam a vida tentando debelar o fogo onde era o foco do incêndio, próximo da casa de máquinas, onde estavam os geradores.
“Como eram os mais experientes, eles se vestiram, colocaram máscaras de oxigênio, se prepararam e nós seguimos os procedimentos adequados, que foi o de amarrá-los, para que, em caso de demora, nós os puxássemos. Nós também iluminamos a área do lado de fora para que eles tivessem noção de onde era a saída, apesar da fumaça. Mas, por algum motivo desconhecido, eles não voltaram”, conta o primeiro-tenente Pablo Tinoco, do Arsenal de Marinha.
Segundo Pablo, dois militares tentaram, também amarrados para serem puxados, resgatá-los. “Um militar tentou resgatá-los, mas a temperatura era alta e ele voltou. Depois, mais um tentou ir agachado. Este foi pego pelo pé por um terceiro homem. Os três verificaram que não havia segurança e voltaram. “Os dois estavam com máscara e galão de oxigênio”, acrescenta.
A mestranda da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Nádia Sabchuk, de 22 anos, pesquisadora da biologia dos peixes, estava desde janeiro na Antártica. Ela lamentou a morte dos militares e a destruição do material de pesquisa no acidente.
“Estamos consternados com os companheiros que perdemos. Lá, como vivíamos em confinamento, acabamos nos tornando muito próximos. Todos se conheciam. Esse abalo não nos deixa nem calcular o quanto perdemos em pesquisa, que foi absolutamente tudo. Tudo. Perdemos amostras coletadas, documentos, protocolos, etc”, contou ao “O Globo”, afirmando que ainda quer voltar à Antártica.
Como os outros pesquisadores, a jovem fugiu às pressas do local do acidente apenas com a roupa do corpo e os principais documentos. “Os camarotes foram as últimas partes a serem atingidas. O pessoal do grupo base deu todo apoio, fomos para os refúgios e nenhum dos pesquisadores correu perigo”, afirmou Nádia.
De acordo com o jornal “Zero Hora”, do dia 24 de fevereiro, antes do acidente, os pesquisadores comemoraram aniversário de um colega. Enquanto a maioria dormia, houve uma queda de luz por volta das 2h de sábado, e um grupo resolveu aproveitar para observar as estrelas do lado de fora. Ao saírem da estação, viram o incêndio na casa de máquinas.
“A gente viu um clarão e voltou correndo e anunciando o incêndio, mas na hora que a gente viu, o fogo já estava alto”, contou o biólogo, Cesar Rodrigo dos Santos ao “Zero Hora”.
Os pesquisadores acordaram a outra parte do grupo e foram para um laboratório de química utilizado como refúgio fora da estação. Nesse momento, algumas pessoas conseguiram telefonar para suas casas e comunicar que passavam bem.

