Corre pela internet várias campanhas para que um boicote ao novo filme de Sylvester Stallone, filmado no Brasil com apoios e benesses de brasileiros que ainda se deslumbram com qualquer estrela de Hollywood que pise no solo da província.
Não que eu tenha ilusões de que, de uma hora para outra, a grande massa de brasileiros que vive deslumbrada com o que imaginam que seja fama, brilho e fortuna da capital do cinema, ganhasse consiência de que os tempos de “Bwana Bwana” já ficaram para trás.
Espero que, caso existam entre nossos leitores, algum fã desse brutamontes desmiolado que é Sylvester Stallone, entendam que se por um lado eu defendo o direito de qualquer pessoa gostar de
qualquer coisa, - dentro da Lei, é claro – eu também me reservo o direito de espinafrar as declarações de um indivíduo cuja única contribuição para a história do cinema foi provar que heróis musculosos e sem
nenhuma inteligência podem prosperar, graças à identidade de plateias que lhe são simpáticas.
Chamar Stallone de ator é agredir brutalmente a classe de pessoas como Fernanda Montenegro, Antônio Fagundes, Dustin Hoffman e Meryl Streep.
Como é comum na América, “o cara se deu bem” encarnando personagens que não precisavam mais do que punhos e canastrice para compor filmes de enorme
apelo popular, mas nenhuma qualidade artística. Até aí, tudo bem. “This is a free country and we love it”.
Mas qual é o direito que esse decadente cidadão tem de usar a inocência e servilismo com que foi recebido no Brasil, de avacalhar com os Brasil, os brasileiros, nosso governo e nossos profissionais,
como tem feito repetidamente, desde que retornou aos Estados Unidos deixando um calote de mais de 4 milhões de dólares por serviços prestados e não pagos a fornecedores brasileiros?
E o pior é que a “chacota” parece premeditada, usando o Brasil como se fazia na Hollywood dos anos 40, quando todos os ladrões, escroques, vilões e marginais, faziam questão de dizer, em cena, que estavam indo “para o Brasil”. E nós sempre achávamos graça e batíamos palmas.
Representante de tudo o que de mais retrógrado e incivilizado que possa existir, Sylvester Stallone demonstra mais uma vez ser o que sempre foi. Não um “ator” que interpretou um pugilista, no seu clássico “Rocky” – que, pasmem, ganhou “Oscar” de melhor filme do ano, em uma fase em que Hollywood estava mergulhada no caos – e sim um “pugilista” que por acaso se deu bem no cinema. Ficou rico e famoso.
Mas como já se sabe, dinheiro compra quase tudo. Mas não compra educação, cultura e nem bons modos.
Não estou tão irritado com o pobre do Sly – que nos últimos 10 anos sofre de uma crônica sequência de filmes fracassados e precisa, segundo bastidores de Hollywood, de um ‘sucesso a qualquer preço’ para tentar re-emergir do esquecimento – quanto estou com a atitude de tantos no Brasil que lhe estenderam “tapete vermelho” e lhe deram o indevido crédito. Ainda tem gente que “compra” a ideia de que americano é, por princípio, honesto, só por ser
americano. Quanta ingenuidade!
É mais uma lição para os deslumbrados “Bwana Bwana”. O Brasil não será um país respeitado enquanto seus próprios cidadãos não respeitem a si mesmos. Não
se alcança altivez e reconhecimento com base na bajulação e deslumbramento. A História está aí para evidenciar isso de uma forma, às vezes, tragi-cômica.
Esse episódio recente, envolvendo as canalhas declarações de Stallone sobre “como é fácil filmar no Brasil, pois os brasileiros deixam você explodir tudo e ainda te dão um macaco de presente”, durante
as entrevistas de promoção do filme, merecia que na estreia desse filmeco, fosse saudado com salas vazias. Afinal, como todo mundo sabe, a parte mais sensível do corpo hollywoodiano é o bolso.
Todos sabemos que ninguém com um mínimo de esclarecimento poderia jamais esperar uma sílaba inteligente ou coerente da boca de Mr. Rambo. Ele só sabe mesmo é metralhar, metralhar e metralhar,
levando a turba ao orgasmo barbárico. Mas se tocarmos no bolso de Hollywood, sua boquinha suja se calaria por conveniência.
Afinal, o poder que nos resta é de negar dinheiro a quem nos maltrata.

