A iniciativa, o empreendimento e a ousadia são características do nosso povo e – em especial – dos imigrantes brasileiros que há décadas ajudam a fortalecer a economia norte-americana. Já faz tempo que a figura do empreendedor brasileiro faz parte do cenário econômico e cultural dos EUA, reunindo lojas e restaurantes até empreendimentos de comunicação, como é o caso da Superstation, empresa que há oito anos viabilizou comercialmente a vinda da TV Globo Internacional para os Estados Unidos.
O projeto, que acabou mostrando-se um sucesso comercial e uma importante forma de manter laços culturais e de informação da comunidade brasileira nos EUA com o Brasil, também representou para os fundadores da empresa, um fator de realização tanto pessoal quanto profissional.
O casal Joaquim Cavaignac e Yara Cavaignac chegou aos Estados Unidos há nove anos, já com uma grande bagagem profissional, e disposto a encontrar novos desafios e a experimentar o sabor de vencer em terra estrangeira.
Advogado, publicitário e empresário especializado em comércio exterior e direito internacional, Joaquim trabalhou em São Paulo como diretor dos Centros Sociais Urbanos do governo do estado, e como assessor de gabinete na secretaria de Promoção Social, desafios dos quais lembra como importantes formas de aprendizado. “Lidar com Febem e todos os problemas sociais do estado de São Paulo que na época, 30 anos atrás, já tinham estatísticas assustadoras, foi um grande aprendizado”, lembra.
Para ele, a experiência de viver e trabalhar no exterior não é nova. “Trabalhei no Brasil e na Europa , EUA e China, participando de projetos de marketing e vendas, que foram bem sucedidos tais como o lançamento da primeira calça de jeans com lycra no Brasil, cujas vendas ultrapassaram 8.milhões de unidades em três anos.
Fui morar na Europa, Londres e Paris, onde estudei e participei de feiras importantes do setor, e trabalhei com uma empresa de Hong Kong no comércio exterior de têxteis. Depois, voltei para o Brasil a convite da Staroup no projeto associado à TV Globo da marca “Dumond”. Voltei para a França, com um projeto da Staroup para a Europa, sempre ligado ao marketing,vendas e comércio exterior”, resumiu Joaquim.
Yara define-se como uma publicitária “por acaso”, (já que, inicialmente, pretendia cursar psicologia), o que não impediu que tivesse desenvolvido uma trajetória de sucesso em algumas das mais renomadas empresas de comunicação do Brasil. “Fui atendimento da Coca-Cola e da Santista Têxtil na McCann Erickson, da Kibon Sorvetes, Phillip Morris, na Almpa BBD.
Já como diretora de Atendimento, participei do lançamento das revistas Elle, pela editora Abril, junto com Ana Maria Braga, e da revista Marie Claire, pela editora Globo. Trabalhei 10 anos na Rede Globo de Televisão, o que proporcionou o nosso credenciamento para representá-los nos EUA”, conta Yara.
O lançamento e viabilização comercial de um canal em língua portuguesa nos EUA foram, para Joaquim o seu maior desafio à frente da Superstation, empresa idealizada para atender à TV Globo Internacional no projeto comercial de lançamento do canal. “Foi um trabalho partindo do zero. É um desafio muito bom, principalmente quando vemos o projeto crescer e alcançar records de resultados”, comenta Joaquim.
FUNÇÃO DA MÍDIA
O CEO da Superstation entende que, no momento atual, a mídida brasileira serve como referência para o empresário brasileiro estabelecido nos EUA. “Trata-se de um novo método de trabalho, onde a mídia é fator preponderante e indispensável para o sucesso. A
Mídia, além de referência, é o meio de união e de comunicação da comunidade brasileira nos EUA, e em todo mundo. Tivemos relatos de muitas pessoas que encontravam amigos, parentesdos quais não tinha notícia há mais de 15 e até 20 anos, que se reencontraram através dos anúncios da TV Globo Internacional”, comenta Joaquim.
Na avaliação de Yara, a mídia brasileira nos EUA é mais intimista. “No Brasíl a mídia é formadora de opinião, interfere na política e é vendedora. Aqui, a mídia é informativa e, às vezes, atrasada na informação mas, principalmente, é um veículo de união da comunidade regional ou nacional, dependendo do tipo de veículo”.
Acostumada a atender a grandes contas para a Rede Globo e a ser responsável pela captação de patrocínios de porte, como os da transmissão da Fórmula 1, Yara enumera como um de seus principais desafios à frente da Superstation o aprendizado para lidar com um perfil diferente de clientes. “Tive que reciclar a cabeça, a postura e cair na real... hoje sinto muito orgulho deste trabalho e muito mais recompensada do que no Brasil, por ver nossos clientes se desenvolverem e crescerem”, explica Yara.
O maior investimento, afirma Joaquim, foi o pessoal. “Eu e Yara e toda a equipe da Superstation, colocamos nossas vidas neste projeto.Trabalhamos duro nos primeiros quatro anos. Eu e Yara, pelo menos 12 horas por dia, e ficamos durante os primeiros quatro anos só investindo, nada de férias ou relax, e passamos muitos fins de semana dentro do escritório nos privando do convívio familiar,amigos, etc. Foi difícil, porém muito gratificante”, diz o empresário.
Recentemente a Superstation realizou um investimento em valor não revelado, mas que Joaquim qualifica como “considerável”, no novo escritório em Miami, com o objetivo de atender melhor ao mercado, e está também abrindo um escritório em New York, segundo ele, “mais perto de grande parte dos anunciantes da região”.
Como todo bom profissinal de marketing, Joaquim saboreia a conquista de um novo cliente, e gosta de contar histórias. Ele lembra com alegria um dos momentos que considera mais marcantes na história da Superstation. “Um belo dia entrei em uma das maiores agências depublicidade do mundo, para uma reunião com o ‘todo poderoso’ diretor de mídia, depois de muita insistência para conseguir um horário. Após me apresentar, ele me perguntou: - O que é TV Globo? Nunca ouvi falar... não tenho interesse, não tem pesquisas qualitativas - Então lhe perguntei o que fazia um diretor de mídia de uma das maiores agências de propaganda do mundo ser tão desinformado e não conhecer um dos maiores grupos de comunicação do planeta. Ele me respondeu: - Eu não preciso saber disto - E eu lhe disse sem constrangimento: - Na minha empresa você estaria no olho da rua - Acabamos conquistando uma grande conta através desta agência”, lembra Joaquim.
Entre os grandes triunfos nos EUA o casal aponta a transmissão do Brazilian Day de New York pela TV Globo Internacional, uma bandeira defendida pelos dois desde o início da operação da empresa, e que transformou-se em uma luta de quatro anos. “Trazer o evento não era nossa atribuição, mas nos sentimentos realizados em conseguir a transmissão, com todas as cotas de patrocínio vendidas, o que sim é nossa atribuição”, diz Joaquim.
Outro momento marcante na trajetória da Superstation, na opinião da Yara, foi a criação da tradicional Feijoada, que permite um ambiente de confraternização com o mercado. “Foi marcante também a declaração do Kleber Correa, durante cerimônia do Press Award que, ao receber o prêmio, disse que o mérito era da Globo, e que devia isso ao Jô e à Yara da Superstation. Foi emocionante ver um cliente reconhecer publicamente o nosso trabalho”, afirma Yara, sem esquecer de mencionar a compra dos escritórios de Miami e de New York.
Mercado
Na avaliação de Joaquim, o mercado brasileiro de mídia nos EUA tem crescido mais do que o previsto. Ele entende que a chegada da TV Globo Internacional mudou o comportamento deste mercado, abrindo espaço para outros canais de televisão, e iniciando um novo tempo na história da comunicação de língua portuguesa nos EUA. “O conteúdo ainda faz parte dos desafios para que o mercado tenha estabilidade e seja mais profissional.
Tudo no seu tempo. Estamos caminhando para a difícil etapa de despertar o mercado americano para um mercado brasileiro dentro dos EUA. A resistência americana em aceitar esta realidade é muito grande, porém os números não mentem e, pouco a pouco, o número de empresas de americanos e de outras nacionalidades, vem aumentando gradativamente suas verbas de anúncios em veículos brasileiros nos EUA”, analisa Joaquim.
Observando pela ótica do resultado produzido por profissionais brasileiros nos EUA, Yara entende que vem sendo desenvolvido um “excelente trabalho”, mas faz algumas ressalvas. “Na mídia impressa, existem muitos títulos para pouca verba. O mercado deveria enxugar, se estruturar, trabalhar com a seriedade dos jornalistas, e não só com matérias tiradas da internet”, observa Yara.
Ela considera prejudicial o lançamento de revistas ou jornais “a torto e a direita”. “Isso compromete a credibilidade e gera resultados desastrosos para todos nós. Na mídia eletrônica o raciocínio é o mesmo, guardadas as proporções. Creio que as emissoras de televisão com propostas profissionais permanecerão e, com certeza, tratão benefício para a comunidade, e os aventureiros serão simplesmente aventureiros”, conclui Yara.
A publicitária afirma ter observado nos últimos oito anos uma série de mudanças no mercado de mídia brasileira nos EUA. “Vejo um cuidado maior do anunciante com sua verba, um número maior de agências e produtoras, a busca de profissionalismo por parte dos que querem crescer e permanecer no mercado. Há uma postura mais ética, não ainda a ideal, mas se encaminhando para isso”, acredita Yara.
Conquistas
Avó de Ivy e Noah, filhos de Aray e do genro Fabiano, Yara é uma vó coruja, e aponta a família e o encontro com Deus como as maiores conquistas pessoais. Não esquece também de mencionar o greencard. Profissionalmente, ela cita a chance de participar do crescimento e reconhecimento da comunidade brasileira nos EUA, e de atuar como vice-presidente de Marketing do Centro Cultural Brasil-USA. Mas sempre há algo mais a conquistar.
“Creio que o processo de crescimento do mercado será natural, e que somos parte disto. Agora queremos a consolidação da Superstation, com mais alguns produtos comercialmente importantes, tal como a TV Globo. Pessoalmente, a minha meta é a realização dos filhos e netos, e estar mais próxima da família”, diz Yara, que a curto prazo diz querer participar de “um bom título de revista”. “Sou muito ‘revisteira’. Será que este termo existe?”, brinca Yara que cita ainda como meta a dedicação maior ao Centro Cultural e à fé.
Também evangélico, Joaquim cita o encontro com Deus como uma de suas maiores conquistas pessoais, além da concessão de seu green card e de sua escolha pelo Press Award como “Personalidade do Ano da Televisão Brasileira nos EUA em 2004.
Como metas ele cita a solidificação do mercado brasileiro nos EUA, voltada para o meio publicitário americano. “A América temos que conquistar todos os dias. Mata-se um leão de manhã e guarda-se o outro para o final do dia, se tudo correr bem”, brinca Joaquim. A médio e longo prazos ele cita o treinamento de mais profisisonais.
Confiamos que nós brasileiros seremos muito mais respeitados e considerados de forma concreta no mercado de televisão e de publicidade americanos”, afirma Joaquim acrescentando que espera poder trabalhar para uma comunidade que “seja ao pé da letra com unidade”.
Desafios
A capacidade de vencer desafios, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, do ponto de vista de Joaquim e Yara, foram determinantes no sucesso de ambos na America. “Nosso Deus nos dá oportunidades, temos que aprender a exergá-las, e aproveitá-las”, acre-dita Yara, que resume sua fórmula de sucesso. “Ter um objetivo, acreditar, perseverar, agir corretamente, com disciplina e respeitar os outros e a si próprio. Em terra estrangeira, tudo isto tem que ser feito em dobro”, conclui.
Joaquim também acredita que a perseverança é fundamental. “Tenho uma característica de perseverar sempre, sempre tentando ultrapassar obstáculos. E quando sofro uma derrocada, aprendo com ela e levanto para continuar, até a vitória. Sempre com muita fé em Deus”, resume.
Entre as conquistas pessoais recentes ele cita a aventura de subir a cordilheira dos Andes de helicóptero e descer fazendo snowboarding. “São lugares nunca antes utilizados para snowboarding, com riscos de avalanches, pedras, vento forte e grande altitude. Depois que o helicóptero vai embora só tem um caminho: enfrentar o desafio”, conta Joaquim.
No âmbito profissional ele acredita que o sucesso é conseqüência do trabalho, das aplicações em suas tarefas, e de algumas características de personalidade, aprendizados adquiridos nos bons e maus momentos, e, principalmente, do amor pelo que se faz. “Em terra estrangeira é preciso uma disciplina e-xemplar. Temos que suplantar o que já foi feito até aqui para termos algum sucesso. Estamos no mercado mais competitivo do mundo”, observa Joaquim.