De olho em um tipo de turista pouco convencional, indígenas da etnia hnahnu, da região central do país, vendem para estrangeiros um “passeio” que simula a travessia da fronteira à meia-noite em direção aos Estados Unidos - com direito a todos os rigores da aventura, incluindo arrastar-se, atravessar túneis, esconder-se em plantações de milho e até mesmo ser seqüestrado por coiotes.
As “travessias” ocorrem há dois anos no parque ecológico Eco Alberto, no Estado mexicano de Hidalgo, uma área administrada pelos habitantes da região. Os moradores se valem de sua própria experiência adquirida em freqüentes cruzamentos da fronteira. Conforme Luis Santiago Hernández, líder comunitário e um dos incentivadores do projeto, as caminhadas noturnas são organizadas com grupos de no mínimo de 20 turistas. Os funcionários do parque se envolvem no projeto, servindo como guias e simulando os ruídos da Patrulha Fronteiriça americana. Em determinadas situações, até “prendem” os excitados turistas.
Até o momento, já participaram da simulação turistas da Argentina, do Chile, do Peru, da Colômbia, dos EUA, do Canadá e da França, entre outros países, todos atraídos pela emoção de viver uma noite como imigrantes ilegais. Conforme a Secretaria de Turismo de Hidalgo, a região, árida e montanhosa, é ideal para a simulação da travessia.
Hernández, que cruzou a fronteira em cinco ocasiões e permaneceu por um total de 15 anos em território americano, afirma que objetivo da iniciativa é “gerar emprego para que as pessoas da comunidade não tenham de emigrar para os EUA em busca de oportunidades”. A idéia é também conscientizar os turistas sobre o problema da imigração ilegal. Neste sentido, os indígenas explicam aos visitantes, durante o passeio, que a população local luta “somente por um melhor nível de vida”.
O passeio custa 150 pesos (cerca de $15) e, de acordo com Hernández, também ensina a “vencer o medo, ser disciplinado, obediente e estar disposto a realizar as tarefas do dia-a-dia”.