Uma pessoa morre a cada 18 horas e 30 minutos tentando cruzar ilegalmente a fronteira entre o México e os Estados Unidos, afirmou um estudo oficial divulgado por autoridades parlamentares de Washington.
O documento, elaborado pela Government Accountability Office (GAO, uma agência federal de pesquisas que trabalha para o Congresso), também indicou que o número de pessoas que morrem anualmente tentando entrar clandestinamente nos Estados Unidos pela fronteira sul dobrou desde 1995. Segundo a GAO, em 1995 se registraram 266 mortos contra os 427 do ano passado.
As conclusões do estudo, disse o líder republicano no Senado, Bill Frist, são “sombrias, inquietantes e convidam à ação”.
As questões da imigração ilegal e a segurança fronteiriça estão entre as mais polêmicas da agenda política norte-americana neste ano de eleições legislativas. O Congresso ainda não chegou em um consenso sobre uma reforma migratória e a situação dos cerca de 12 milhões de ilegais que vivem no país.
Frist disse hoje que há um ano pediu à GAO um relatório sobre “as mortes que se registram na fronteira norte-americana”.
“Hoje o meu escritório divulga este estudo”, disse o senador pelo Tennessee, para quem “apesar dos esforços heróicos dos efetivos das patrulhas fronteiriças, a situação se agravou na fronteira com o México”.
Frist explicou que o aumento do número de mortes na fronteira se deve, ao que tudo indica, “à maior exposição aos elementos naturais no deserto de Sonora, no Arizona”.
“Francamente, é cada vez mais perigoso cruzar a nossa fronteira clandestinamente”, comentou Frist.
Há anos o aumento de controles fronteiriços nas zonas mais povoadas em outros estados do sul do país levaram os contrabandistas de gente a concentrar seus esforços no Arizona, onde os aspirantes a imigrantes são levados através do deserto.
O senador apresentou o estudo junto com um projeto de lei que visa reduzir o número de mortes na fronteira Sul. O texto, disse Frist, ordena à agência de aduanas e controles fronteiriços que realize uma contagem das mortes de imigrantes clandestinos e propõe a instalação na região de sinalizadores de emergência que possam ser ativados pelas pessoas em perigo.
O senador também pedirá a aplicação de penas mais duras para os contrabandistas de gente, conhecidos como “coiotes” na fronteira com o México, que abandonem no deserto as pessoas sob sua responsabilidade.
Neste sentido, Frist citou o caso de um menino de três anos que morreu este ano enquanto a sua mãe tentava entrar com ele nos Estados Unidos. “Ela tentou cruzar a fronteira ilegalmente, na esperança de escapar da pobreza desesperadora na sua casa em Veracruz. A mulher, identificada como Edith Rodríguez, de 32 anos, contratou um coiote para cruzar a fronteira”, disse o legislador.
Segundo o relato de Frist, o coiote entregou à mulher e ao menino comprimidos de efedrina para mantê-los acordados durante o trajeto pelo deserto. “Mas Edith e seu filho não conseguiram manter o ritmo do grupo e foram abandonados pelo contrabandista”, narrou Frist.
“Edith Rodríguez violou as leis dos Estados Unidos e estava equivocada mas o seu filho não merecia morrer”, afirmou o senador.
A situação dos imigrantes ilegais, tanto dos que já vivem no país há anos, como os que tentam diariamente entrar em território norte-americano, é uma das chaves da divergência que travou o processo de reforma migratória.
A Câmara dos Deputados aprovou no ano passado um projeto de lei que criminaliza os ilegais e os que prestam qualquer assistência a eles ou os emprega, abrindo as portas para deportações em massa.
Já o Senado concretizou este ano um projeto que prevê a legalização paulatina da maioria dos imigrantes clandestinos, o que despertou a ira dos setores mais conservadores do país, que acusaram a Câmara Alta de defender uma anistia para os ilegais.
As diferenças e a proximidade das eleições de “meio-termo” de novembro bloqueiam a reforma, que pode não ser aprovada este ano e nem em um futuro próximo, segundo muitos comentaristas.
Enquanto isso milhares de pessoas tentam diariamente cruzar ilegalmente a fronteira Sul dos Estados Unidos. Para eles, Frist propôs hoje a ampliação dos sistemas de resgate, incluindo mais postes com luzes e transmissores de rádio que, afirmou, “foram úteis para salvar a vida de dúzias de pessoas”.
“Os que ativarem os sistemas de alerta certamente não conseguirão um passe para entrar nos Estados Unidos. Receberão assistência médica e serão deportados”, advertiu Frist.