Prof. Aquias da Silva Valasco*
“Parágrafo, travessão, letra maiúscula”. Essa frase ainda soa nos ouvidos de todos que foram alfabetizados na educação repetitiva (“Repetitio mater est studiorum”). Por mais que isso parecesse enfadonho, dificilmente alguém que hoje tenha mais de 30 anos iniciará uma frase com letra minúscula ou usará uma maiúscula para se referir a um objeto comum. No entanto, regras tão simples como as do uso correto das caixas têm sido totalmente negligenciadas pela maioria das pessoas, principalmente com o advento das redes sociais virtuais. Teremos voltado à escrita pré-ortográfica do Português medieval?
Em seu Manual do revisor, Luiz Roberto Malta é enérgico e, ao mesmo tempo, elucidativo, quando critica o uso desmesurado das letras maiúsculas. Para isso, ele criativamente utiliza a figura da motosserra, que deve ser usada para derrubar o sem-número de maiúsculas despropositadas no meio do caminho do leitor. Mas como fugir da pecha de lenhadores retrógrados quando tantos plantam pinheiros, bananeiras e paineiras a cada metro quadrado?
Tudo indica que o desconhecimento das regras da ortografia, pontuação e acentuação seja a causa de tantos profissionais, de todas as áreas, negligenciarem fatores que sempre foram caros na arte de se escrever, e que são um elemento tradicional do profissional ligado à Língua Portuguesa (com ou sem maiúscula, dependendo de seus pressupostos). Assim, devo acreditar que é por desconhecerem as regras referentes ao uso das maiúsculas e minúsculas que as pessoas têm utilizado sem qualquer critério caixas aleatórias em qualquer situação.
Observo ainda que alguns colegas da área têm sido bastante pusilânimes diante da questão, não indicando os exageros dos autores e nem apontando a necessidade de se seguirem as regras existentes. Noto mais, para meu alarme, que alguns não se dão conta dos erros porque já nem mais os enxergam.
Ao contrário de desistir, é preciso, como diziam os antigos, começar pelo começo. Não obstante haja vários casos em que é recomendado o uso de embora a construção dessas regras tenha acontecido ao longo de muitos séculos, é importante que retomemos as regras mais elementares do estágio atual da língua, revisemo-las e nos dediquemos tanto a utilizá-las quanto a divulgá-las. Quando aceitamos a utilização de maiúsculas “ao bel-prazer”, torna-se impossível explicar por que elas foram utilizadas em cada caso. Em minha prática como revisor e professor, observo que, quando permitimos que os usos esdrúxulos se proliferem, nos comprometemos em explicar o inexplicável, e avalizamos o caos.
Assim, temos aqui um problema a ser resolvido, instrumentos para lidar com a questão e uma grande tarefa a executar. Fica a todos os colegas de profissão meu apelo a que não nos acomodemos, nem nos deixemos levar pelas circunstâncias e pressões do meio. Embora haja vários aspectos da defesa do idioma a trabalhar, é preciso começar reafirmando nosso próprio compromisso com uma linguagem limpa e clara, com a simplicidade e beleza da última flor do Lácio. E se for necessário derrubar a árvore, afiemos bem a lâmina, retesemos os músculos, condensemos a força, façamos nossa parte.
*Nascido em Ibaiti-PR, Aquias Valasco é formado em Letras Português e Inglês pela UFPR, e especializado em Dinâmica da Informação e da Comunicação. Já atuou como professor de diversas modalidades e níveis, e hoje é assessor pedagógico para as áreas de Língua Portuguesa e Língua Estrangeira do Departamento de Formação dos Profissionais da Educação do Estado do Paraná.
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