As mulheres que usam pílulas anticoncepcionais orais correm um maior risco de sofrer endurecimento das artérias, o que pode provocar doenças do coração e derrames cerebrais, segundo um novo estudo apresentado durante o encontro da Associação Americana do Coração, em Orlando, Flórida.
Pesquisadores belgas descobriram que mulheres que consomem a famosa pílula possuem uma tendência maior a ter placas, ou uma concentração de tecido adiposo, em suas artérias, do que mulheres que não usam esse tipo de controle de natalidade.
As taxas da doença aumentaram significativamente com o uso a longo prazo das pílulas, de 20 a 30% por década de utilização.
A probabilidade de sofrer de arteriosclerose aumenta com a idade, mas suas complicações podem ser fatais.
Quando as placas se desprendem das paredes dos vasos sangüíneos, podem causar a formação de coágulos que podem bloquear o fluxo de sangue ou irem para outras partes do corpo.
Os coágulos que bloqueiam as artérias que levam sangue ao coração ou ao cérebro podem causar infartos ou derrames cerebrais.
Os autores do estudo advertem, entretanto, que as mulheres não deixem de usar os anticoncepcionais oral apenas baseadas nesse estudo, destacando que os resultados são preliminares e que há outras maneiras de diminuir o risco de doenças cardiovasculares.
“As mulheres que não fumam, que são fisicamente ativas e que mantém o peso e o nível de lipídios saudáveis, reduzem o risco dessas placas se desprenderem”, disse Ernst Rietzschel, cardiologista da Universidade de Ghent, na Bélgica.
“Contudo, se elas puderem limitar sua exposição aos anticoncepcionais, seria muito bom”, assinala o estudo.
Estima-se que cerca de 100 milhões de mulheres em todo o mundo usem hormônios sintéticos para inibir a ovulação e evitar gravidez não desejável.
Estudos prévios têm vinculado os anticoncepcionais à pressão alta e coágulos, apesar deste ser o primeiro estudo que os associa com a arteriosclerose.
“Acreditávamos que uma vez que se deixava de usar os anticoncepcionais orais, o risco de coágulos desaparecia; mas essa parece ser uma visão muito simplista”, afirma Rietzschel.
No estudo, o cardiologista estudou as artérias de 1.300 mulheres belgas entre 35 e 55 anos, usando o ultra-som.
Cerca de 81% das mulheres haviam usado anticoncepcionais orais em algum momento da sua vida. O tempo médio de utilização da pílula foi de 13 anos.
Os pesquisadores detectaram uma surpreendente incidência de arteriosclerose entre as mulheres saudáveis que haviam tomado a pílula.
Rietzschel afirma que a descoberta pode significar o aumento, no mundo, das doenças do coração entre as mulheres com 60 anos - a primeira geração a usar este método de controle de natalidade em larga escala, pela primeira vez, na década de 60.
Câncer
Especialistas da Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, realizaram um dos estudos mais extensos já desenvolvidos sobre o assunto.
Os resultados da análise feita em 46 mil mulheres ao longo de 36 anos - metade delas usuárias da pílula - mostraram que o risco de desenvolver algum tipo de câncer ginecológico foi 29% menor entre as que tomavam o medicamento.
A pesquisa reforçou o que os médicos já sabiam: os anticoncepcionais diminuem os riscos de tumores ginecológicos, no ovário e no endométrio (mucosa que envolve a parede uterina). Os especialistas comprovaram também que os efeitos benéficos da pílula são ainda mais fortes em mulheres entre 40 e 60 anos, prolongando-se por anos após o fim do uso.
As pílulas investigadas na pesquisa eram do tipo mais antigo, com altas doses de hormônio. Especialistas brasileiros já confirmam os benefícios das pílulas, inclusive as de baixas doses hormonais. “O anticoncepcional protege contra o câncer de ovário, pois o deixa em repouso. Quem toma a pílula está protegia por muitos anos e até mesmo depois que encerra o uso. Mas não deve-se tomar apenas com o intuito de se proteger do câncer”, endossa e alerta a ginecologista Lenaide Silva Rodrigues. “Anticoncepcional não é usado apenas para evitar gravidez, mas também para tratar ovário policístico e até mesmo contra a anemia, além de trazer benefícios também para o endométrio. Quem toma anticoncepcional está se protegendo”.
A ginecologista Lenaide Silva Rodrigues considera que o risco maior de quem toma anticoncepcionais são os distúrbios vasculares que podem ser causados por esses medicamentos. Por isso mesmo, ela não indica o uso entre as mulheres fumantes, principalmente as que estão acima dos 35 anos. O uso da pílula, segundo ela, também não é recomendado nos casos de flebite (inflamação nas veias).
Um dos sintomas também relacionados com o uso da pílula é o aparecimento ou aumento das varizes, justamente pela intensa atividade cardiovascular. “Mas isso não é motivo para deixar de tomar”, comenta a ginecologista, que diz já ter atendido a um caso de paciente com derrame supostamente provocado pelo anticoncepcional.
“Algumas mulheres reclamam muito de ter dor de cabeça, depois que começam a tomar a pílula. Nesse caso, elas devem parar e investigar se o problema tem outras causas. Existe até mesmo o risco de um acidente vascular cerebral”, comenta Lenaide.

