Todo mundo sabe que a cada crise econômica norte-americana, especialmente se combinada com uma rigidez maior da fiscalização imigratória, muitos imigrantes brasileiros retornam ao nosso país.
Como para a maioria dos que vêm do Brasil para cá, a única motivação é o dinheiro e a possibilidade de fazer seu “pé-de-meia”, quando esse objetivo fica difícil de ser alcançado, o retorno ao Brasil muitas vezes é abreviado sem maiores reflexões.
Só que, da mesma forma que o impulso de retomar a vida no Brasil é forte, também é, para uma grande parte desses que retornam, o impulso e a decisão de retornar aos Estados Unidos. As razões, são diversas:
“Nem percebi o quanto já havia me acostumado com a vida aqui na América.” “Achei que ia me dar bem no Brasil, mas, não é bem assim.”
“Eu achava que ia ser fácil, mas pelo contrário, parece que não tinha mais lugar para mim.”
“Simplesmente não me adaptei mais. Parace estranho, mas sentí falta daqui, embora tenha certeza de meu amor pelo Brasil.”
Admitamos ou não, mas, a emoção quem comanda a maior parte das decisões importantes e determinantes em nossas vidas. Como o apego ao Brasil é uma característica comum a quase todos os brasileiros, mesmo os que vivem há décadas nos Estados Unidos, a ideia de um recomeço de vida ou aposentadoria “tranquila” no Brasil sempre está presente na cabeça de muitos imigrantes.
Aliás, o exemplo de muitos norte-americanos e europeus que estão investindo em residências no Brasil (especialmente nos estados do Nordeste) para viver lá sua aposentadoria, ou mesmo fugindo do estilo de vida que têm em seus países, seria um bom exemplo de como o retorno ao Brasil seria mais viável do que realmente é.
Mas, a realidade e o “mind set” desses norte-americanos e europeus que escolhem nosso país para viver melhor do que viveriam em seus países de origem, com o mesmo dinheiro, não tem nada a ver com a realidade da maioria dos imigrantes brasileiros.
São motivações distintas que geram expectativas bem diferentes. E os brasileiros que voltam - quase sempre para aos Estados Unidos - assumindo um certo “limbo” em suas identidades, já que o coração nunca deixa o Brasil, mas a realidade e o racionalismo apontam para seguir a luta por seus sonhos aqui na América.
Há casos, e muitos, e brasileiros que retornam e conseguem reestabelecer suas vidas de forma vitoriosa. Alguns casos – esses menos frequentes – até passam a ter um padrão de vida tão bom ou melhor do que tinham aqui, por conta de terem investido corretamente no Brasil.
O quadro da maioria, entretanto, é o de economias pequenas sendo rapidamente consumidas, fazendo com que o “retorno” aos Estados Unidos seja às custas de pesadas dívidas para conseguir voltar. Falo especialmente dos que entraram em território norte-americano de forma ilegal ou como turistas, e que para reentrar aqui terão que fazê-lo de forma excusa e caríssima.
Há também o segmento dos que possuem documentação – “green card” ou vistos diversos de permanência e trabalho, ainda válidos – e que retornaram ao Brasil
por conta da grave crise econômica. Esses ainda têm, pelo menos, a opção legal de retornar – se puderem – quando desejarem.
Mas, a destruição de sua “base” americana em favor do reinício de vida no Brasil, tem preços caríssimos: estresse, confusão, desajuste e muito aperto financeiro. Para os milhares que já estão retornando - “a volta dos que não foram” - fica a lição de que, se para alguns, o retorno ao Brasil pode ser uma oportunidade de reencontro com sua vocação interior, para muitos, é uma decisão precipitada e emocional, da qual podem arrepender-se amargamente.